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Sérgio Besserman: O aquecimento global é uma realidade inequívoca

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Publicado em:13/06/2008

O currículo é extenso – economista por formação, com mestrado e doutorado nesta área, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), conselheiro da World Wild Foundation Brasil (WWF-BR), atual presidente do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP) e professor da PUC/RJ – assim como sua preocupação com o meio ambiente. O ambientalista Sérgio Besserman Vianna foi um dos conferencistas convidados, no dia 11/06, do III Seminário Internacional Direito e Saúde e do VII Seminário Nacional Direito e Saúde, promovido pelo Grupo de Direitos Humanos e Saúde Helena Besserman da ENSP (GDIHS/ENSP). Em sua exposição, retratou os possíveis cenários para o planeta Terra, caso não haja uma mudança global para minimizar a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa na atmosfera. Confira, abaixo, a entrevista de Sérgio Besserman ao Informe ENSP.

Informe ENSP: Durante a palestra na ENSP, você disse que, no seu entender, o século XXI começou no dia 2 de fevereiro de 2007, com a publicação do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) sobre a crise do meio ambiente, gerando uma opinião pública global em torno da defesa do meio ambiente, diferente de muitos especialistas que consideram o dia 11 de setembro de 2001 – dia do atentado aos Estados Unidos – como o marco inicial do novo século. Você pode explicar melhor isso?

Sérgio Besserman:
Isso foi uma imagem que eu criei para chamar a atenção de que todo o movimento social em torno da mudança climática global tem novidades extraordinárias como: a necessidade de uma opinião pública mundial ou uma sociedade civil globalmente articulada em rede, porque o enfrentamento dos problemas decorrentes do aquecimento global e de tudo aquilo que deve ser feito para que se evite os piores cenários é, necessariamente, global. Neste século, somos sempre, querendo ou não, conscientes ou não, cidadãos do Rio de Janeiro, do Brasil e cidadãos do planeta Terra. Temos que passar a nos comportar exercendo a nossa cidadania dessa forma, pensando que uma localidade ruim prejudicará a todos.

Informe ENSP: Você acredita que a preservação do meio ambiente é a utopia a ser adotada pelos jovens de hoje como forma de minimizar os danos no planeta?

Sérgio Besserman:
Certamente, a mudança global climática trará para a juventude atual uma perspectiva de problemas e soluções comuns, uma necessidade de tomar posições, fazer escolhas. Representará a questão da sustentabilidade em geral e do aquecimento global em particular. Representará, no século XXI, uma força transformadora da própria humanidade, daquilo que nós somos, tão grande quanto qualquer movimento social ou qualquer utopia, tais como as que ocorreram no século passado.

Informe ENSP: Dados mostram que o Brasil, em breve, será o quarto maior emissor de gases causadores do efeito estufa no mundo. Diferentemente da China, que é o segundo maior poluidor, ao mesmo tempo que está melhorando a qualidade de vida de sua população, o Brasil não atravessa grandes mudanças sociais e nem conta com o crescimento do seu PIB.

Sérgio Besserman:
A nossa posição quanto ao tema emissão de gases é muito ruim. Nós contribuímos significativamente para o aquecimento global, somos o 4º ou o 5º maior emissor do mundo, e a causa básica é o desmatamento da floresta amazônica. É claro que também emitimos pelos transportes, pela indústria, mas só somos o 4º maior emissor por conta do carbono que a devastação da floresta coloca na atmosfera. Essa devastação é um péssimo negócio para os brasileiros. Nós não temos sequer um argumento de que estamos fazendo algo que gerará melhoria de vida para as populações mais pobres ou um enriquecimento do Brasil. Estamos fazendo o contrário, já que a devastação da Amazônia é queimar uma riqueza genética e uma biodiversidade extraordinária antes que a ciência tenha tido a oportunidade de pesquisar e saber o que pode ser aproveitado para melhorar o bem estar da humanidade. Portanto, estamos fazendo um mal negócio e assumindo um papel muito ruim, quase vexaminoso, no cenário global.

Informe ENSP: Como demonstrado nesse seminário e entendido pela Escola Nacional de Saúde Pública, assim como também pela Fiocruz, o meio ambiente e a saúde são temas intimamente ligados. Quanto mais prejudicarmos um, mais o outro será afetado.

Sérgio Besserman:
É verdade. Até o nome de um dos programas de pós-graduação da ENSP é Saúde e Meio Ambiente. Há, pela frente, uma grande quantidade de trabalho a ser realizado, no qual a Fiocruz, com toda certeza, ocupará um lugar de destaque. As dimensões pelas quais a questão ambiental e particularmente o aquecimento global afetam a saúde mal começaram a ser investigadas. Há dimensões mais conhecidas, como aumentar a proliferação de vetores de doenças, como o aedes aegypti, mas há, também, as dimensões desconhecidas como os impactos na saúde decorrentes do stress, que virá com essas perspectivas todas sendo, cada vez, mais conhecidas. O calor em si, durante o nosso verão de uma maneira mais prolongada, o impacto do aquecimento global na biodiversidade ou na disponibilidade de água terão conseqüências muito grandes na saúde. As populações pobres, que são mais vulneráveis do ponto de vista socioeconômico e também do ponto de vista de impactos sobre a sua saúde, são as que mais sofrem com o aquecimento global. Haverá uma combinação das carências hoje existentes com aquelas que o aquecimento global irá potencializar. Com isso, a Fiocruz tem um campo imenso e uma grande responsabilidade de trabalho nessa área.

Informe ENSP: Pelo que é apresentado por este relatório do IPCC, se a humanidade mantiver ou diminuir os atuais níveis de poluição ambiental, com sorte, o planeta aumentará, em média, três graus neste século, e os mares subirão até 50 centímetros. Não existe algum cenário mais otimista?

Sérgio Besserman:
Estes são os cenários, de 3 graus em média neste século, e 40 ou 50 centímetros de elevação do nível do mar são os cenários considerados mais prováveis. É verdade também que, a cada ano que as nações do mundo não conseguem um acordo eficiente para reduzir as emissões de gases e do efeito estufa, esse cenário se torna pior. Existe a possibilidade, com a utilização muito intensiva de ciência e tecnologia, de não só reduzirmos os impactos do aquecimento global que é inevitável, como de evitarmos os cenários mais preocupantes, de conseguirmos uma elevação de temperatura inferior a 3ºC, talvez até perto de 2ºC. Para isso, entretanto, os próximos anos serão muito críticos, de 2008 a 2012, porque serão neles que as decisões institucionais com as suas conseqüentes repercussões econômicas e tecnológicas estarão sendo tomadas. É preciso investir muito dinheiro em desenvolvimento tecnológico. A Agência Internacional de Energia acabou de calcular em 45 trilhões de dólares os investimentos necessários para ficarmos num cenário mais fácil de lidar. Esse dinheiro corresponde a fazer a guerra do Iraque por 15 vezes. Estaremos dispostos a mobilizar recursos desse tipo para lidar apenas com os investimentos em energia, sem contar todo o restante que é preciso fazer? Essa é a decisão que está colocada para a humanidade nos próximos anos e nas próximas décadas.


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