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Investimento no sistema econômico industrial da saúde como estratégia de desenvolvimento nacional

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Publicado em:13/08/2020
Investimento no sistema econômico industrial da saúde como estratégia de desenvolvimento nacionalA pandemia do coronavírus vem corroborar um  conceito de saúde como área estratégica para uma nova proposta de desenvolvimento nacional, que articula as dimensões social, econômica e ambiental. Embora os argumentos que justificam essa visão tenham sido escancarados no contexto da atual crise sanitária, tal conceito vem sendo trabalhado desde os anos 2000 pelo economista Carlos Gadelha, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) e coordenador das Ações de Prospecção da Presidência da Fundação. Em entrevista ao blog O Cafezinho, ele explica seus fundamentos. "Foi absolutamente inovador à época o que se propunha, uma visão diferente da saúde, como um sistema produtivo e de inovação que mobiliza 9% do PIB e gera 7 milhões de empregos diretos e 14 milhões de empregos indiretos", destacou ele.

Em 2020, investir na capacidade produtiva e tecnológica desse sistema mostrou-se absolutamente necessário e urgente. “Se não tivermos capacidade produtiva e tecnológica, o país será vulnerável e dependente e nós não poderemos ter um sistema único de saúde que garanta o acesso universal, equânime e integral, como na está na Constituição Federal”, explica o pesquisador. “Como é que enfrentamos essa pandemia? Com atenção básica que mobiliza mais de 1 milhão de empregos. A atenção básica é, de um lado, uma ação de saúde, e, de outro, mobiliza a economia local. Está presente em mais de 90% dos municípios brasileiros. Ela requer unidades de tratamento intensivo (as UTIs), ventiladores, testes de diagnóstico, e a grande aposta de hoje que são os novos medicamentos e vacinas. Então, para o tratamento de uma pandemia, de uma doença, mobilizo todo o sistema produtivo, tecnológico e econômico”, conclui.

A dimensão econômica, fundamental para que esse sistema se desenvolva, segundo Gadelha, deve estar subordinada ao social. “Afinal a razão de ser da economia e da política econômica deveria estar no bem estar social e não o inverso”, defende o economista. E o SUS,ao mesmo tempo que se constitui numa política social de grande alcance, gera e mobiliza emprego, renda e inovação.  Gadelha sublinha ainda a importância da dimensão ambiental, incorporada mais recentemente a esse conceito de desenvolvimento, ”que não depende de derrubar árvore para gerar emprego e renda e, sim, aproveita a biodiversidade”.

O pesquisador ressalta, ainda, a importância do investimento em inteligência artificial, transformando dados em conhecimento para, por exemplo, uma melhor vigilância epidemiológica: “O Brasil não pode se conformar com uma nova divisão internacional do trabalho, ser um ofertante de dados para que eles sejam processados e se transformem em conhecimento fora do país”.

Articulado a sua visão de saúde como área estratégica para o desenvolvimento nacional, Gadelha diz que não devemos entrar ingenuamente no jogo do livre mercado, onde “90% das patentes de saúde estão nas mãos de dez países”. Ele defende que empresas estrangeiras que tenham interesse no mercado brasileiro devem produzir no Brasil de modo aberto e cooperativo. Ressalta, também, que suas ideias não se alinham a uma postura nacionalista conservadora, mas a uma agenda progressista em prol de uma globalização movida pela solidariedade e não, como diria o geógrafo Mílton Santos, assimétrica e desigual.
 
Ouça a íntegra da entrevista de Carlos Gadelha abaixo.

Fonte: Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE)
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