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Covid-19: conheça a rotina de um profissional da Saúde em meio à pandemia

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Publicado em:27/05/2020
*Danielle Monteiro
 
Covid-19: conheça a rotina de um profissional da Saúde em meio à pandemiaDifícil e cansativa. A rotina das Equipes de Saúde em meio à pandemia de Covid-19 não é nada fácil. Que o diga o médico de família e comunidade do Centro de Saúde da ENSP, Jorge Esteves. Seu relato sobre o duro cotidiano de um profissional da Atenção Básica de Saúde em tempos de pandemia, publicado no blog Causos Clínicos, repercutiu na imprensa e redes sociais, chamando a atenção para os inúmeros desafios impostos na batalha contra o novo coronavírus.
 
O cansativo ritual diário
 
Não são poucas as pessoas que se dizem cansadas por ter que esterilizar item por item das compras de mercado que chegam a sua casa, não é mesmo? É realmente uma tarefa cansativa, mas importante e necessária. Na rotina do profissional da Saúde que atende casos suspeitos de Covid-19, esse ritual é ainda mais exaustivo. Afinal, todos os objetos e superfícies necessitam passar por um processo de limpeza e desinfecção a cada nova consulta. 
 
Primeiro, é preciso vestir o gorro, depois a máscara, em seguida, lavar as mãos. Daí, coloca-se o protetor facial, depois o capote. Mais uma vez, hora de lavar as mãos. Depois, veste-se a luva. Em seguida, limpa-se mesa, teclado, mouse, carimbo, caneta. Estetoscópio, termômetro, oxímetro, esfigmomanômetro, otoscópio, e todos também precisam ser desinfetados com álcool 70%. E mais: todo esse processo precisa ser refeito antes de atender cada paciente. “Em uma manhã, fiz isso doze vezes”, conta Esteves. 
 
Aumento da demanda por necessidades básicas
 
Exercer a profissão de médico da Atenção Básica vai muito além de cuidar da saúde do paciente. Isso porque o profissional de saúde que atua no principal acesso dos usuários ao SUS também precisa estar atento às questões sociais presentes na comunidade atendida pela Unidade Básica de Saúde. Sendo assim, a preocupação com as necessidades mais básicas dos pacientes, mesmo quando elas não fazem parte do setor da Saúde, é um elemento muito presente na vida de médicos de família e comunidade. 
 
Em meio a uma pandemia, a demanda por necessidades básicas cresce e, com ela, a preocupação das Equipes de Saúde. “Pessoas que antes não precisavam, agora, estão precisando. A renda emergencial não saiu para todos, ainda não é uma realidade factível e nem uma saída para todas as famílias. Além disso, eu e minha equipe estamos em uma área bastante vulnerável, de muita violência”, comenta Esteves.
 
Nesse contexto, a figura do agente comunitário é fundamental. Elo entre a Unidade Básica de Saúde e a comunidade, esses profissionais da Saúde são peça-chave no atendimento às necessidades básicas da população local, principalmente em tempos de pandemia. “Os agentes comunitários estão muito envolvidos com questões como distribuição de cestas básicas, máscaras etc. Eles estão empenhados nessa tarefa social, e isso é maravilhoso!”, destaca Esteves. 
 
O risco de contaminação
 
A sala de atendimento de sintomáticos de gripe da unidade em que Esteves atua ganhou o apelido de "Chernobyl". Não à toa. É lá onde existe o maior riso de contaminação. Não são poucos os profissionais da Saúde que acabaram adoecendo. “Perdemos familiares de agentes comunitários e de outras pessoas das\Equipes de Saúde. São perdas indiretas, que podem ter a ver com nossa exposição. E isso é muito difícil”, relata o médico.  
 
O trabalho em "Chernobyl" é uma verdadeira missão, uma vez que passa pela desinfecção a cada consulta e escolha dos pacientes com necessidade de atendimento no local. A triagem é feita na porta da unidade, a um metro de distância, com a paramentação mínima. As árduas, porém necessárias, medidas de proteção inevitavelmente instauram uma barreira de afeto. “Ficar a um metro de distância, só com o olho aparecendo, já é muito duro. Parece uma besteira, mas dificulta que os pacientes nos conheçam e a gente conheça eles”, lamenta Esteves.
 
O medo de não voltar e a dificuldade dos pacientes crônicos
 
Sair de ambulância e nunca mais voltar. Não conseguir dar notícias para a família enquanto estiver internado. São muitos os medos que rodeiam o imaginário de pacientes com sintomas graves de Covid-19. E essa tensão é vivenciada no dia a dia dos profissionais da Saúde. “Presenciamos isso com conhecidos e pacientes internados. Conseguimos notícias deles de forma indireta, por meio de colegas de trabalho que atuam no hospital onde estão internados”, relata Esteves.
 
A preocupação e atendimento a pacientes com doenças crônicas também faz parte da luta diária desses profissionais. Com a instauração da pandemia, pessoas com comorbidades crônicas precisam entrar em contato por whatsapp com a Equipe de Saúde antes de se dirigir à unidade. “Estamos tendo que fechar a porta para esses pacientes, o que descompensa o trabalho que fizemos nos últimos anos de controle de diabéticos, hipertensos e pessoas com HIV. Manter isso dentro de um controle aceitável, para que as pessoas não adoeçam mais, também é uma preocupação constante nossa”, conclui o médico.
 


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