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'Ação educativa das quebradeiras de coco babaçu do Maranhão': projeto ENSP aprovado pelo Inova

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Publicado em:08/04/2020

'Ação educativa das quebradeiras de coco babaçu do Maranhão': projeto ENSP aprovado pelo InovaNo Maranhão, a indústria extrativista é uma atividade econômica responsável por 95% da produção nacional. No caso do babaçu, é símbolo de luta de cerca de 400 mil mulheres organizadas pelo Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), que encontram no trabalho seu modo de vida e sobrevivência. Elas enfrentam constante ameaça de fazendeiros que tentam impedir o acesso de quebradeiras aos babaçuais, e o desafio de valorização das suas culturas. Esse é o objeto de pesquisa do projeto Ação educativa integradora das quebradeiras de coco babaçu do Maranhão dirigida à formação, ao fortalecimento da cadeia de valor e ao autocuidado da saúde.

Aprovado pelo Inova Fiocruz, o projeto é coordenado pelas pesquisadoras, Liliane Reis Teixeira (ENSP), Scheila Regina Gomes Alves Vale (IFMA) e Eliana Napoleão Cozendey da Silva (ENSP), com a parceria das instituições: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa-Cocais) e Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

De acordo com o estudo, as quebradeiras de coco babaçu são reconhecidas por constituírem um dos segmentos de povos e comunidades tradicionais - Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT). Quanto à dinâmica das atividades agroextrativistas que desempenham, elas referem problemas musculoesqueléticos relacionados à ocupação.
 
Para entender como se dá o processo de trabalho das quebradeiras: elas extraem as amêndoas para comercializá-las in natura, para fabricação de azeite, preparo do leite, ambos utilizados no preparo da alimentação tradicional. Então, extraem óleo que utilizam na fabricação de sabão, sabonetes, e do mesocarpo preparam farinha. O que sobra do coco, durante o processo de extração da amêndoa, produzem carvão, ração para animais, adubos, entre outros. “Dispersas pelas áreas de ocorrência da palmeira babaçu, as quebradeiras desenvolveram modos peculiares de manejo da terra, além de um código próprio de organização de sua atividade.”

Segundo Liliane, com a expansão do agronegócio na região, dificuldade na comercialização de produtos e de acesso à terra e babaçuais, que garantem às quebradeiras a continuidade do seu modo de vida, elas lutam pelo livre acesso ao recurso que está cada vez mais inacessível em áreas privadas. “Essas mulheres lutam, ainda, pela preservação dos babaçuais, pela garantia das quebradeiras de coco à terra, por políticas governamentais voltadas para o extrativismo, pela equidade de gênero e pela preservação da cultura local.”

Outra dificuldade por que passam as quebradeiras é de acesso a ações para melhores condições de trabalho, pois ocorre exposição aos fatores ocupacionais de risco na cadeia de valor do babaçu, além da promoção da saúde e prevenção de doenças, aponta o estudo.

Eliana relata que, considerando o conceito ampliado de saúde, foi proposto pelo projeto oficinas orientadas para integrar as quebradeiras de regiões mais produtoras do estado do Maranhão com outras de municípios menos desenvolvidos, com objetivo de ampliar as possibilidades profissionais, agregar valor às amêndoas pela transformação em produtos, com consequente aumento da renda, e melhores condições de vida. A literatura de Cordel e material gráfico educativo constituem produtos do projeto.

A fim de explicar os diversos objetivos e resultados do projeto, demonstramos abaixo:

 



Parcerias

Um das parcerias do projeto, com o IFMA, foi iniciada em 2012 por meio do Mestrado Interinstitucional do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente da ENSP, no qual a pesquisadora Scheila Regina Vale ingressou com interesse nas condições de vida e trabalho das quebradeiras de coco babaçu do Maranhão, sendo o pesquisador Renato Bonfatti o segundo orientador da pesquisa.

Durante o mestrado, disse Scheila, foi realizada a análise ergonômica do trabalho da quebra do coco babaçu, a articulação política com as associações de quebradeiras de coco foi iniciada e na devolutiva dos resultados novas propostas surgiram.

Scheila iniciou o doutorado e qualificou o projeto de tese ‘Intervenção ergonômica nas situações de trabalho de quebradeiras de coco babaçu no estado do Maranhão’. A partir da análise ergonômica do trabalho, o estudo verificou que 93,5% das quebradeiras de coco afirmaram sentir dor ou desconforto, nos últimos doze meses, que acreditavam estar relacionado com seu trabalho, e desta forma, foi possível verificarmos possíveis mudanças no processo de trabalho da quebra do coco que pudesse trazer melhores condições de saúde e trabalho para as quebradeiras de coco babaçu.

Portanto, relatou Scheila, foi iniciada a parceria com o Grupo de Ergonomia e Novas Tecnologias, Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, com a contribuição do pesquisador Luiz Ricardo Moreira (Coppe/UFRJ), para concepção e análise de mesa de trabalho e complementos que possam reduzir a carga de trabalho, mas que não interfira na cultura local extrativista. Também foi iniciada a parceria com a fisioterapeuta Carolina Olyntho, da Coordenação da Saúde do Trabalhador/Fiocruz, especialista no método MDT, utilizado em casos de dor de origem musculoesquelética que podem ser resolvidos pelo próprio indivíduo, caso ele receba as orientações adequadas. Tendo como princípios a educação, o auto tratamento e a independência do paciente, o método é considerado de baixo custo, pois permite uma redução da dependência do sistema de saúde, podendo ser amplamente divulgado através da oferta de material educativo e participação em workshop.

Foi necessária a parceria com a Coordenação de Comunicação Institucional/ENSP para elaboração do material educativo (cordel e info-painel) do método MDT. E, com a Embrapa Cocais, para realizarmos workshop em Caxias (Maranhão), onde as quebradeiras de coco babaçu trocaram suas experiências através de oficinas sobre extração e beneficiamento do mesocarpo (alimentos), fabricação de sabão e de artesanato e comercialização das amêndoas e derivados do babaçu. No workshop também foi possível a divulgação do método MDT, voltado para as quebradeiras de coco babaçu, alinhado à Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, com representantes da sociedade civil e de diversas instâncias municipais e estaduais. Esse workshop teve a participação da pesquisadora de desenvolvedores de identidade visual, editoração e design da CCI/ENSP, na construção de material educativo, além da técnica da área de saúde do trabalhador, Mariza Almeida, para a elaboração de documentação fotográfica e registros de imagem.


Próximas etapas

O projeto Ação educativa integradora das quebradeiras de coco babaçu do maranhão dirigida à formação, ao fortalecimento da cadeia de valor e ao autocuidado da saúde foi iniciado em janeiro de 2019 e termina em dezembro de 2020.

Saiba quais os outros projetos da ENSP aprovados no Programa Inova Fiocruz.


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