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'Saúde em debate' questiona novo critério de classificação dos periódicos da Capes

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Publicado em:26/09/2019

'Saúde em debate' questiona novo critério de classificação dos periódicos da CapesA revista Saúde em debate de setembro, editada pelo Centro Brasileiro de estudos de Saúde (Cebes), trata dos novos critérios da Capes para classificação dos periódicos e a repercussão no campo da saúde coletiva. Em editorial assinado pelas pesquisadoras Maria Lucia Frizon Rizzotto, Ana Maria Costa e Lenaura de Vasconcelos Costa Lobato, a revista questiona o caso das revistas nacionais da área da saúde coletiva, cujo resultado da nova classificação, baseada no uso combinado de indicadores bibliométricos das bases Scopus (CiteScore), Web of Science (Fator de Impacto) e h5 (Google Scholar), no conjunto, rebaixou a qualificação dos periódicos.
 
O editorial lamenta que, nessa condição, de rebaixamento, insere-se a revista Saúde em Debate (RSD), com mais de  40  anos  de  circulação,  que  publica  fundamentalmente  autores  brasileiros  e  latino-americanos, cujos temas estão direcionados aos interesses de leitores nacionais, com expressiva contribuição para o desenvolvimento do setor de saúde no país.
 
Sobre a nova classificação da Capes (Coordenação de  Aperfeiçoamento de  Pessoal  de  Nível  Superior), o  Fórum  dos  Editores  Científicos  das  revistas  da  Fiocruz  divulgou carta aberta denunciando que a  adoção  de  critérios  similares  para  avaliação  de  periódicos  científicos  é  questionável  considerando as profundas diferenças entre áreas na produção e divulgação do conhecimento, além de salientar que a adoção desses indicadores subordina a ciência produzida no Brasil aos ditames de revistas de outros países (USA e UK principalmente), favorecendo a priorização de temas de interesse da política científica do hemisfério norte, e afastar a ciência produzida no Brasil dos leitores não especializados.
 
A carta também, segundo a revista, destaca o papel dos periódicos na formação de profissionais da saúde em diversos níveis de pós-graduação e o impacto social dessa formação, que não pode ser avaliado pelas métricas adotadas pela Capes. Evidencia, ainda, uma série de problemas imediatos na aplicação da proposta da Capes
e conclui afirmando que as  consequências  dos  equívocos  da  proposta  são  perfeitamente  previsíveis:  drenagem  de  artigos  para  áreas  que  conseguiram  colocar  seus  periódicos  nas  classes  A1  e  A2  (e  cujas  taxas  de publicação  são  razoáveis);  diminuição  da  submissão  de  artigos  oriundos  de  programas  de  pós-graduação  bem  avaliados,  com  mais  recursos,  para  pagar  publicação  nas  revistas  das  grandes editoras internacionais; restrição do financiamento das revistas, num processo de ‘mais para quem tem mais’.
 
A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), o Fórum de Editores de Saúde Coletiva/Abrasco (do qual a RSD participa), a Coordenação da Área de Saúde Coletiva da Capes e a Coordenação do Fórum de Coordenadores de Programas de  Pós-Graduação/Abrasco  divulgaram  documento  intitulado  ‘Critérios  para  classificação das revistas: apreciação da proposta de Qualis Periódico Referência’, que identifica um conjunto  de  problemas  relativos  aos  critérios  utilizados  para  a  classificação  das  revistas  e  suas repercussões para a saúde coletiva.
 
O editorial da RSD aponta que no rol de problemas identificados para o campo da saúde coletiva, estaria a própria identidade da área e a sua política editorial. “O documento indica que os critérios de classificação dos periódicos podem produzir fuga de artigos científicos para periódicos de outras áreas (afins) com melhor qualificação; migra-
ção de periódicos da área de saúde coletiva para outras, cujos parâmetros lhe são mais favoráveis; subfinanciamento das revistas nacionais da área.”
 
Outro problema apontado no documento parte da análise de que concentrar  a  publicação  da  produção  científica  brasileira  em  periódicos  de  língua  inglesa,  dominantes  nas  bases  consideradas  no  Qualis  Periódico  proposto,  restringe  o  acesso  desta  produção aos leitores especializados. Limita, assim, o papel dos periódicos no processo de difusão de conhecimentos  científicos  atualizados,  indispensáveis  para  subsidiar  a  formação  nos  diversos  níveis  e
modalidades da Pós-Graduação, assim como a formulação e a implementação de políticas públicas nacionais.
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Diante dos problemas identificados, o documento apresenta como sugestões: (1) a consti-
tuição de um grupo de trabalho com a finalidade de ‘aprofundar a discussão e elaborar uma proposta  alternativa  que  melhor  retrate  a  situação  atual  da  área  no  País’;  (2)  Ampliar  a  discussão entre as áreas, visando a buscar critérios menos heterogêneos para a classificação dos periódicos; (3) Considerar no processo de revisão da proposta pelo GT referido a necessidade de incorporação de outras bases de indexação e, em especial, a Scientific Electronic Library Online (SciELO), assim como outros indicadores que captem melhor o perfil de internacionalização da produção científica da área e/ou valorizem a excelência da pesquisa localmente relevante;  (4)  Identificar  ou  desenvolver  critérios  qualitativos  que  possam  ser  incorporados à proposta alternativa a ser apresentada, que levem em conta, por exemplo, relevância para a área, volume de artigos/ano, história e o processo editorial.
 
As pesquisadoras salientam  que  a  metodologia  de  avaliação  de  periódicos  proposta
pela Capes, além de não atender às necessidades de difusão do conhecimento em saúde coletiva no Brasil, vem em momento de profunda restrição do financiamento público das pós-graduações  e  dos  próprios  periódicos.  “Como  atender  a  critérios  mais  rigorosos  e  alheios  à área concomitantemente à redução de cerca de 50% do orçamento da Capes, como parece ser a proposta governamental para 2020?”, indagam.
 
Ressaltam,  também,  que  o  Cebes,  ao  criar  a  RSD,  em  1976,  teve  como  objetivo  divulgar resultados  de  estudos  e  pesquisas,  análises,  reflexões  e  relatos  de  experiências  que  contribuíssem  para  o  campo  da  saúde  coletiva  e  para  a  formulação,  o  planejamento  e  a  avaliação de  políticas  para  o  Sistema  Único  de  Saúde  (SUS). “Trata-se  de  uma  revista  conhecida  e  lida pelos gestores e trabalhadores da saúde e que, por essa razão, acumula enorme contribuição
na consolidação da política universal de saúde. Ainda hoje, quando a econometria direciona os projetos editoriais de muitas revistas acadêmicas, a RSD mantém-se firme nos seus propósitos de contribuir para a difusão de conhecimento científico aplicável ao setor da saúde. Desenha um futuro perverso para a RSD e outros periódicos da área de saúde coletiva”, concluem.
 
Para acessar a edição de setembro da RSD, clique aqui.
 
 


Fonte: Saúde em debate
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