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'Transição da saúde no Brasil' é tema de artigo do Cadernos de Saúde Pública

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Publicado em:27/09/2017
'Transição da saúde no Brasil' é tema de artigo do Cadernos de Saúde PúblicaA transição epidemiológica, conceito relativo à complexa mudança nos padrões de saúde e doença, que baseia-se na ideia de que as doenças degenerativas e as chamadas "provocadas pelo homem" substituíram as doenças infecciosas como principais causas de morbidade e mortalidade, não seguiu no Brasil o padrão linear e unidirecional observado em muitos países desenvolvidos, exigindo um quadro mais amplo para entender a transição da saúde no país, com especial atenção para as desigualdades sociais e regionais. A conclusão é de um estudo desenvolvido pelo pesquisador Gabriel Mendes Borges, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Brasil; e da Universidade da California, EUA.  “O declínio da mortalidade infantil tem sido, historicamente, o principal motor das mudanças na expectativa de vida, contribuindo em grande parte para explicar as variações regionais na mortalidade. Esse declínio refere-se, primeiro, a doenças infecciosas e parasitárias e, em seguida, às de causas associadas ao período perinatal.” Além disso, indica o estudo, o declínio da mortalidade materna na década de 1980 na região Norte; redução da mortalidade por doença de Chagas na região central; e o aumento da participação de doenças crônicas e degenerativas como a principal causa da morte caracterizaram essa transição. 
 
O surgimento da epidemia de HIV / AIDS, exemplifica o estudo, é considerado o fato mais importante ao questionar a base da transição epidemiológica, o que não permite o estabelecimento de doenças infecciosas emergentes e emergentes. “Embora a epidemia de HIV / Aids nunca tenha sido tão prevalecente quanto em alguns outros países, teve efeitos negativos significativos sobre a expectativa de vida ao nascer no Brasil, especialmente entre os homens na região Sudeste.” A persistência de níveis relativamente altos de outras doenças infecciosas e parasitárias, ainda mais de 70 anos após o início do declínio substancial da mortalidade, também é uma particularidade da transição da saúde brasileira, diz a pesquisa. 
 
O estudo examina as mudanças na mortalidade por sexo, faixa etária e causas de morte, e concentra-se no período de 1980-2010. No entanto, o pesquisador alerta que o diagnóstico excessivo de óbitos decorrentes de causas cardiovasculares, por exemplo, é um problema nos países desenvolvidos e provavelmente também acontecerá nos países em desenvolvimento. Sendo assim, “parte do declínio da mortalidade por doenças cardiovasculares pode refletir melhorias na qualidade dos dados de mortalidade, por exemplo, devido ao diagnóstico precoce”. O notável declínio da mortalidade por doenças cardiovasculares ocorridas em muitas partes do mundo, porém, também provavelmente aconteceu no Brasil, explica Borges.
 
Conforme relata a pesquisa, a expectativa de vida aumentou substancialmente no Brasil, desde a década de 1930, apresentando melhorias mais rápidas do que as observadas nos países europeus quando tiveram os mesmos níveis de mortalidade. Mas, houve desigualdades regionais persistentes, mesmo que as tendências de longo prazo mostrem diferenças de redução. Na mesma década de 1930, a expectativa de vida na região Sul foi de cerca de 50 anos, 15 anos superior à da região Nordeste. 
 
Segundo o estudo, entre 1940 e 1960, a diferença de expectativa de vida no Sudeste e no Nordeste aumentou como resultado do modelo de política de saúde que seguiu a profunda estratificação social no país, priorizando as regiões mais desenvolvidas, já envolvidas na nova dinâmica da mão de obra em expansão mercado. 
 
A partir de meados da década de 1970, o estudo aponta que houve uma aceleração do declínio da mortalidade, impulsionada pelo declínio da mortalidade infantil. Essas mudanças foram conseqüência da ação governamental, como a generalização dos serviços de saúde e saneamento e imunização, levando a uma redução das desigualdades regionais na mortalidade. 
 
Então, de acordo com Borges, a crescente convergência da expectativa de vida regional surge como resultado da expansão e descentralização dos serviços de saúde e saneamento, oferecendo esses serviços às áreas excluídas no passado .
 
O artigo Transição de saúde no Brasil: variações regionais e divergência / convergência na mortalidade, de Gabriel Mendes Borges, publicado na revista Cadernos de Saúde Pública de agosto de 2017, pode ser acessado aqui, na íntegra..

Fonte: Cadernos de Saúde Pública (CSP)

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