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Entrevista: O que é benzenismo? Pesquisadora explica campanha de conscientização dos frentistas

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Publicado em:16/10/2015
Era uma vez um frentista gente boa, gordinho e de bem com a  vida, de nome José. No posto em que trabalhava, todos gostavam dele e o chamavam, simplesmente, de Zé. Quase todos os dias, em meio a sua rotina de abastecer tanques, verificar óleo, dar informações, limpar para-brisas, alguns clientes pediam que Zé enchesse o tanque até a boca, para além da trava de segurança. No começo, Zé não achava mal em tal pedido, até o dia em que foi convidado para uma reunião do sindicato dos frentistas. Foi nesse encontro que soube, pela primeira vez, o que é o benzenismo. A partir desse momento, sua vida mudou.

Esse é um resumo da história do Zé do Click, personagem criado numa parceria entre o Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana, o Cesteh/ENSP e a CCI, a Coordenação de Comunicação Institucional da Escola. O Zé do Click é o protagonista de uma cartilha distribuída numa grande campanha de conscientização dos trabalhadores sobre os perigos da exposição ao benzeno. Para falar mais detalhes dessa campanha, o Informe ENSP conversou com a pesquisadora do Cesteh e coordenadora da CCI, Rita Mattos.

Informe ENSP: Rita, o que é benzenismo?
 
Entrevista: O que é benzenismo? Pesquisadora explica campanha de conscientização dos frentistasRita Mattos - Benzenismo é uma doença ocupacional causada pela exposição ao benzeno, que confere muitos sinais e sintomas, entre eles, no que diz respeito ao sistema sanguíneo, tanto uma leucemia aplásica quanto um tipo de anemia bem própria da exposição ao bezeno. Os trabalhadores expostos ao benzenismo são os frentistas, os trabalhadores de siderúrgicas, da produção de petróleo, entre outros. O benzeno está presente em muitos processos de trabalho. As pessoas que trabalham com uma grande quantidade de combustível estão mais expostas.

Informe ENSP: Como se dá a prevenção a essa doença?

Rita Mattos:
A prevenção se dá diminuindo a exposição.  Existem medidas que minimizam o risco, mas não acabam com ele. Como eu disse, são inúmeros processos de trabalho em que o benzeno está presente, então é difícil não ter benzeno no ar, mas você minimiza a exposição com algumas ações preventivas, como o uso de equipamentos de proteção individual e coletiva e com algumas práticas. No caso dos frentistas, não encher o tanque além do click de segurança, não usar a toalhinha (eles usam uma espécie de estopa para o combustível não pingar no carro, mas isso faz com que ele se exponha mais, uma vez que essa estopa fica nos bolsos, em contato constante com a pele). Outra medida é o uso de máscaras no enchimento dos tanques dos postos. Essa é um momento de grande exposição e, normalmente, os trabalhadores não fazem uso da máscara. O trabalhador também não deve lavar o uniforme em casa, sob o risco de expor a família ao benzeno. A lavagem do uniforme é uma obrigação dos patrões.

Informe ENSP: Em um seminário de que você participou, na semana de conscientização dos frentistas, organizada pelo sindicato do setor, você mencinou estudos que dizem não haver um limite mínimo para a presença segura do benzeno nas substâncias. Você poderia detalhar um pouco mais isso?

Rita Mattos:
 Existe uma discussão, que é internacional, sobre a imposição de um limite mínimo de benzeno nas substâncias, mas inúmeros estudos mostram que mesmo uma pouca quantidade de benzeno pode produzir um câncer. Isso vai depender da suscetibilidade individual, do processo de trabalho. Então, não adianta estabelecer um mínimo, primeiro porque é muito difícil fazer isso com relação ao benzeno, por ele ser uma substância volátil, e segundo porque esse mínimo não vai proteger a saúde do trabalhador.
 
Informe ENSP - Nessa semana de eventos organizada pelo Sipospetro-RJ, o sinditaco tos trabalhadores dos postos de combustíveis, aconteceu a primeira aparição pública do Zé do Click, um personagem de uma cartilha eleborada na Coordenação de Comunicação Institucional da ENSP. Quem é o Zé do Click?

Rita Mattos:
Essa campanha, em que foram distribuídas cartilhas, folderes, cartazes e  camisetas, surgiu a partir de um projeto de pesquisa que estamos fazendo junto com o Sinpospetro. O Objetivo é avaliar a saúde dos trabalhadores dos postos de gasolina. Nós vimos a necessidade de começar uma campanha de educação para os trabalhadores frentistas, então criamos o Zé do Click, personagem que é um frentista que acaba sendo um vetor de informação sobre como fazer adequadamente o enchimento dos tanques de gasolina. É exatamente uma das medidas de prevenção que eu mencionei acima, de não se passar do limite do automático, o click, na linguagem dos frentistas. Obedecer essa norma de segurança é uma prática salutar para o frentista, para que ele respire menos quantidade de solventes na gasolina, é bom para a saúde do motorista e também para o carro, porque ao passar do automático constantemente, várias peças são danificadas. Inclusive, já é proibido por lei que os postos passem do automático, sob pena de multa. Essa lei nos ajuda, porque a dificuldade de se obter bons resultados numa campanha desse tipo é enorme, uma vez que o trabalhador lida não só com a pressão patronal, mas também por parte do consumidor. Então, a conscientização, o convencimento, tem que ser dar com relação ao patrão, ao frentista e ao consumidor.
 

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