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Coordenador do Brasil Sorridente avalia os 11 anos do programa

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Publicado em:12/06/2015

*Pedro Leal David

Para ele, a política nacional de saúde bucal é uma prova da viabilidade do SUS e tem impacto direto no exercício da cidadania. É com essas palavras e com dados epidemiológicos que Gilberto Pucca defende o programa Brasil Sorridente (Política Nacional de Saúde Bucal), do governo federal. O dentista, que é mestre em saúde pública, doutor em ciências da saúde e professor da Universidade de Brasília, está há 11 anos na coordenação nacional do projeto, o que pode ser considerado um recorde em meio à ciranda de cargos que marca a política.

Gilberto Pucca esteve na ENSP para participar de uma banca de mestrado e conversou com o Informe ENSP sobre os resultados dessa experiência de mais década de trabalho e sobre os próximos passos do Brasil Sorridente.

Informe ENSP: Gilberto, você está há 11 anos na coordenação da saúde bucal do Ministério da Saúde. Você fala de uma grande dívida social que havia nessa área. Qual sua avaliação desses 11 anos? O que já foi pago dessa dívida?

Coordenador do Brasil Sorridente avalia os 11 anos do programaGilberto Pucca: É claro que a gente ainda tem um terreno muito grande a ser percorrido, mas já resgatamos boa parte dessa dívida, porque até o início do Brasil Sorridente, a saúde bucal do Brasileiro era dependente da quantidade de dinheiro que se tinha no bolso. Isso se demonstrou nos índices epidemiológicos. Até o ano 2000, a cada quatro brasileiros que completavam 65 anos de idade, três chegavam a essa idade sem nenhum dente na boca. Estamos falando de 75% da população brasileira que perdeu todos os seus dentes. Esse era um sinal da dívida que nós tínhamos que pagar. Quem precisasse de atendimento odontológico especializado tinha que pagar. Se a pessoa não tivesse dinheiro, perdia os dentes. Quem precisava se reabilitar tinha que comprar a prótese. O Brasil Sorridente inicia a implantação de uma rede no sistema público de saúde. Hoje, estamos com 24 mil equipes de saúde bucal na Estratégia de Saúde da Família. Antes do programa, esse número era de 4250. Portanto, há um crescimento expressivo. Em 90% dos municípios brasileiros, nós já temos pelo menos uma dessas equipes. Uma cobertura de quase 50% da população do país. Essa cobertura, antes, era de menos de 15%.

Informe ENSP: Além desses serviços, quais outros têm sido ofertados à população?

Gilberto Pucca: Iniciamos uma outra frente importante, que é implantação dos Centros de Especialidades Odontológicas. Já estamos com 1034 centros. E neste campo nós saímos literalmente do zero. Para chegar àquela população a quem foi negado o direito a ter saúde bucal, a população que hoje necessita de reabilitação, nós iniciamos a implantação dos laboratórios de próteses, que também não eram ofertados. Hoje são 1850 municípios do Brasil recebendo recursos para reabilitação.  E estamos entrando com a medida de promoção da saúde, para fechar a torneira de produção da doença. Trata-se da fluoretação de água do abastecimento público, porque nós sabemos que cidades que têm água tratada, clorada e fluoretada, podem diminuir pela metade a incidência de cárie, que é o nosso principal problema de saúde bucal. Hoje, temos praticamente 50% da população Brasileira que recebe água tratada recebendo água cloretada. E estamos crescendo a uma velocidade de 15 mil brasileiros por dia passando a receber água fluoretada. Atualmente, somos o país que faz fluoretação de água do abastecimento público com maior velocidade. Para concluir: o Brasil Sorridente é um programa que precisa ser expandido, evidentemente, porque a meta do Ministério da Saúde é a universalização do acesso, mas é um programa que cresceu muito rápido nesses últimos 11 anos.

Informe ENSP: Você disse, recentemente, numa entrevista, que a saúde bucal apresenta uma resposta epidemiológica rápida e que o programa Brasil Sorridente seria uma demonstração da viabilidade do SUS. Por quê?

Gilberto Pucca: O Brasil Sorridente é uma política extremamente recente em termos históricos. Um recém-nascido (esse ano, o SUS completa 26 e seu componente de saúde bucal, 11 anos) Neste tempo extremamente rápido, já se produziu resultados extremamente significativos. 44% das crianças do Brasil chegaram aos 11 anos livres de cárie. Isso não quer dizer que elas nunca terão cárie, mas que chegaram a uma idade índice importante consideradas livres de cárie. Esse resultado colocou o Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde, como um país de baixa prevalência de cárie. Nós estamos deixando de ser o país dos desdentados e passamos a fazer parte do seleto grupo de países do mundo que vêm controlando a sua principal morbidade em saúde bucal. Isso é obra do componente do sistema público de saúde, do SUS. Isso é obra, portanto, da construção de políticas públicas de saúde bucal.

Informe ENSP: Isso traz, além das melhoras mais evidentes na saúde das pessoas?

Gilberto Pucca: O que eu digo, é claro que eu sou suspeito, mas é podemos fazer uma comparação, guardada as proporções, entre a saúde bucal e a questão da fome. Por quê? Porque só sabe a necessidade quem a sente. A saúde bucal é tratada, de uma maneira geral, como não prioridade, mas é tratada assim por pessoas que têm saúde bucal. Além do componente biológico, que tem uma repercussão em várias doenças sistêmicas, há o componente de autoestima. Eu acho que a saúde bucal é a única área da saúde que tem um impacto direito na autoestima. E um povo sem autoestima é um povo mais fácil de ser manipulado. Quando você, de uma forma massiva, passa a fazer com que as pessoas comecem a recuperar a autoestima, isso certamente tem impacto na cidadania, no exercício pleno dos direitos sociais e da saúde. O que significa, individualmente falando, uma pessoa precisar de atendimento odontológico e não conseguir? O que significa uma pessoa precisar ser reabilitada e não conseguir fazer isso porque não tem dinheiro? Qual o impacto que isso tem no mercado de trabalho? Uma pessoa que não pode sorrir, que não pode se relacionar, que para sorrir precisa colocar a mão na boca? Que impacto isso tem no cotidiano dessa pessoa? E não estamos falando de meia dúzia. Estamos falando de um segmento da população que foi negligenciado pelo estado brasileiro por séculos e séculos, o que, certamente, causou uma perda de autoestima importante, com reflexos no exercício da cidadania.


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1 comentários
JOÃO RODOLFO HOPP
13/06/2015 07:52
Importante otimização da visita do Coordenador Nacional da Saúde Bucal, com a repercussão da entrevista sobre a este segmento das políticas públicas em Saúde. Chamo apenas a atenção dos senhores jornalistas especializados em Saúde, em especial por ser uma matéria da ENSP, que o Professor Doutor Gilberto Pucca é graduado em Odontologia e, por consequência, dentro do regramento legal brasileiro, detém o título profissional de CIRURGIÃO-DENTISTA, e não a forma "anglicizada" de "Dentista", como é comum vermos nas inúmeras mídias, leigas e especializadas. Assume este comentário CD. João Rodolfo Hopp - Campinas - SP