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Penicos encontrados em Ipanema e no Leblon podem fazer história

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Publicado em:15/09/2014

Penicos encontrados em Ipanema e no Leblon podem fazer históriaCom exceção do mictório que em 1917 o artista plástico francês Marchel Duchamp elevou à categoria de arte, penicos, privadas e outros tais não costumam ser notícia. Mas peças encontradas recentemente nas escavações do Metrô, no Rio, ganharam o destaque em vários jornais e sites. Achados entre centenas de outros objetos, os penicos foram encaminhados para o pesquisador da ENSP Adauto Araujo. Especialista em paleoparasitologia, Adauto vai analisar o material orgânico presente nos penicos.  Bacterias e microorganismos podem trazer informações importantes sobre a saúde de quem vivia no Rio há mais de cem anos. Confira, abaixo, a reportagem publicada no Globo Online.

Peças arqueológicas encontradas em escavação do metrô contam história de Ipanema e Leblon

10 de setembro de 2014

Até agora, equipe de 13 arqueólogos já encontrou mais de 1.700 peças durante obras da Linha 4

RIO - Um passado enterrado está sendo revelado com as escavações da Linha 4 do metrô em Ipanema e Leblon. Graças ao trabalho de uma equipe de 13 arquitetos, já foram encontradas mais de 1.700 peças arqueológicas nos dois bairros, qe ajudam a contar a história dos moradores das chácaras que ocupavam esta área da Zona Sul entre meados do século XIX e início do XX, quando a região começou a passar por um processo de loteamento. O arqueólogo responsável pelos trabalhos, Cláudio Prado de Mello, recentemente escavou uma nova leva de com cerca de 150 objetos que incluem vidros, fragmentos de alvenaria, peças de porcelana, talheres e quatro penicos de ágata - peças do cotidiano dos moradores das chácaras.

- Os penicos são especialmente interessantes. Eles serão enviados para o pesquisador da Fiocruz Adauto Araújo, que vai fazer um estudo de paleoparasitalogia. Com sorte, vamos encontrar bactérias e microorganismos, o que pode nos dar mais informações a respeito de quais doenças afetavam as pessoas na época - conta Mello.

Os materiais encontrados pela equipe estão sendo catalogados e armazenados em um contêiner dentro do canteiro de obras da Linha 4 do metrô no Jardim de Alah. Os arqueólogos decoraram o espaço, transformando-o em um pequeno museu. De acordo com Mello, estes materiais serão encaminhados ao Instituto de Pesquisa Histórica e Arqueológica do Rio. O governo do estado já conversa com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para que as peças mais relevantes sejam exibidas em estações da Linha 4. O projeto seria semelhante ao do metrô de Atenas, que exibe objetos históricos em suas estações.

Além dos penicos, todos os frascos de vidro encontrados pela equipe serão analisados. De acordo com Mello, os frascos eram de perfume e loções e remédios. Eram todos importados da Europa, pois o Brasil só passou a ter fábricas de vidro a partir do século XX. Um dos achados que mais empolga a equipe é uma ampola, encontrada intacta e com um líquido incolor em seu interior. O material ainda passará por análise.

Outro material que recebe destaque são os pisos hidráulicos, encontrados em abundância pelos arqueólogos. Mello explica que este tipo de piso estava na moda na época, pois servia como uma imitação dos mosaicos utilizados em palácios europeus. Os pisos, porém, são mais resistentes e mais baratos.

O passado do transporte público do Rio também está sendo encontrado durante as obras. Ainda durante o trabalho de prospecção, os arqueólogos já haviam identificado os trilhos dos bondes que circulavam pela Zona Sul desde o final do século XIX até meados do século passado. O trilhos retirados vieram no trecho da Visconde de Pirajá na altura da Henrique Dumont.

- Eles estão praticamente intactos. Quando fomos fazer o trabalho e prospecção, vimos que eles simplesmente soterram os trilhos. Muitos estão ainda alinhados da forma antiga - diz o arqueólogo.

Por não interferirem no traçado do metrô, estes trilhos continuarão no mesmo lugar, mas o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) foi informado a respeito de sua localização.

- Do ponto de vista arqueológico eles não são muito interessantes, mas para o IRPH podem ter uma relevância grande. O instituto está preocupado com qualquer vestígio histórico do Rio por termos recebido o título da Unesco de Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural Urbana.

As peças encontradas durante as escavações no Leblon e em Ipanema destoam das que foram achadas na Estação da Leopoldina, no Centro. Lá, foram mais dee 200 mil peças, que incluem artefatos mais antigos, dos séculos XVII e XVIII. Dentro os materiais, está uma escova de dente em marfim e osso com a inscrição em francês "S M L'Empereur du Bresil", que os arqueólogos acreditam que tenha pertenido a Dom Pedro II, que vivia nas proximidades, em São Cristóvão.

- A ocupação do Leblon e de Ipanema por estas chácaras se iniciou por volta de 1830, então os materiais são mais novos. Foi também uma ocupação normal, primeiro com as chácaras e depois com os loteamentos. Enquanto isso, na Leopoldina havia uma área de descarte de materiais. O pessoal não tinha aonde jogar alguma coisa então simplesmente deixava lá. Depois tivemos ainda várias demolições de casarõoes, promovidas pelo Pereira Passos, o que soterrou muitos artefatos.


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