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Redes de atenção: Brasil deve reestruturar gestão

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Publicado em:20/05/2013
Isabela Schincariol

Dando continuidade às discussões sobre os desafios da gestão dos centros hospitalares de alta complexidade, o 1º Colóquio Franco-Brasileiro de Política Hospitalar, realizado no Rio de Janeiro, reuniu 14 palestrantes no segundo dia de apresentações (16/5). Entre os principais temas debatidos, destacaram-se a reforma hospitalar no Brasil; a evolução desse sistema na França; a organização das redes de atenção e a assistência hospitalar de alta complexidade; a estratégia de contratualização na política hospitalar brasileira; e os novos arranjos para a organização interna dos hospitais. Para o pesquisador da ENSP Victor Grabois, que esteve presente nos debates, é urgente pensar na governança em rede e na tentativa de superar o grande nível de fragmentação dos sistemas de saúde brasileiros.

Redes de atenção: Brasil deve reestruturar gestão
 
No início da manhã, Phillip Marin, diretor de ensino da Ecole des Hautes Etudes en Santé Publique (EHESP), da França, apontou que, após muitas transformações e o desenvolvimento de algumas leis, os hospitais franceses passaram a ser operadores complementares da rede de atenção. Assim, tornaram-se um dos elos, que trabalha e colabora, com os outros equipamentos de saúde. A relatora-geral do Pacto de Confiança e Assistência Social, Claire Scotton, falou sobre a reestruturação das relações leais entre Estado, hospitais e gestores. Segundo ela, esse pacto também tem foco no estabelecimento da confiança entre os profissionais de saúde.
 
Sobre as tendências na organização e no funcionamento da atenção hospitalar, Claire comentou que fusões e reagrupamentos não podem ser vistos como mágica ou milagre para a gestão. Devem ser realizados com bastante consciência, pois as características e distâncias geográficas podem ser fatores limitantes da reestruturação. No que tange à cooperação e ao reagrupamento hospitalar, o diretor de gabinete da Federação Hospitalar Francesa (FHF), Cedric Arcos, disse que toda contribuição visa á melhoria da qualidade do cuidado medido. Para tanto, a FHF assume o papel de protagonista, com o objetivo de ser uma força que articula o sistema nacional de saúde e as ações entre operadores nacionais de saúde. 
 
Flexibilidade na gestão

Ana Paula Silva Cavalcante, em substituição à diretora dos Departamentos de Articulação das Redes de Atenção à Saúde (Daras) e de Atenção Hospitalizada e Temática (Daet), ambos do Ministério da Saúde, disse que, apesar de o conceito de rede fazer parte da Constituição Federal de 1988, tem sido um desafio alcançar uma rede integrada e articulada de fato. 

Redes de atenção: Brasil deve reestruturar gestãoPara o pesquisador da ENSP Victor Grabois, integrante dessa mesa de discussão, é preciso pensar se haveria algum futuro para os hospitais fora da lógica de rede. “Ainda que tenhamos de melhorar as políticas, é necessário analisar como elas se relacionam com outras políticas públicas existentes. Hoje, temos um sistema de saúde bastante fragmentado e com baixa resolutividade na atenção primária, ainda que tenhamos implementado uma série de estratégias para suprir esse gap. Portanto, as definições de escopo e perfil devem ser desenvolvidas e tomadas coletivamente, envolvendo não apenas os hospitais, mas todos os outros equipamentos nos demais níveis de complexidade”, disse ele.
 
Na mesa em que se abordou a inovação no modelo de governança dos hospitais de alta complexidade, o diretor de gabinete da FHF, Cedric Arcos, defendeu que os dirigentes dos centros hospitalares precisam de flexibilidade para geri-los. De acordo com o palestrante, há uma falsa autonomia dos gestores na França, e essa é uma das piores situações que se poderia ter. 
 
Contratualização dos hospitais: plano de ação, monitoramento e incentivo

"Muito se avançou com o passar dos anos. Porém, ainda não temos uma política que direcione a atenção hospitalar”, disse Ana Paula Silva Cavalcante, coordenadora-geral de Atenção Hospitalar, do Ministério da Saúde, no debate sobre a contratualização na política hospitalar brasileira. Segundo ela, o Brasil possui, ao todo, 4.266 hospitais privados e 2.953 públicos, dos quais quase 80% são municipais. Apenas 0,8% dos hospitais brasileiros, ela revelou, são de grande porte, ou seja, possuem mais de 500 leitos, e o número de unidades acreditadas é insignificante. 

A pesquisadora da ENSP Sheila Lemos explicou que o objetivo da utilização dos arranjos contratuais na saúde visa possibilitar um melhor desempenho desses prestadores e incrementar a prestação das contas sobre os resultados para usuários, financiadores e governo. Para ela, existe um incentivo inadequado para tais prestadores, e o grande questionamento está relacionado à estruturação de um sistema de incentivos para induzir o prestador a agir de acordo com o desejado pelo contratante. Sheila mostrou ainda que o tripé da relação contratual envolve um plano de ação, um sistema de monitoramento e controle, além de um sistema de incentivo.
 
Redes de atenção: Brasil deve reestruturar gestãoA pedido do Ministério da Saúde, desenvolveu-se uma pesquisa para avaliar o processo de implementação da contratualização dos hospitais de ensino e filantrópicos, da qual Sheila Lemos participa. Em seu escopo, foram feitos dois inquéritos de abrangência nacional. Os dados coletados são referentes ao ano de 2009, e o objeto de estudo foram 131 hospitais de ensino e 633 hospitais filantrópicos. Nessa pesquisa, foram entrevistados dirigentes e diretores de hospitais e secretários de saúde contratantes de tais estabelecimentos. 
 
As considerações finais da pesquisa indicam a necessidade de revisão do processo, a elaboração e monitoramento dos contratos, que contemplem outras dimensões com maior foco para a qualidade assistencial, ensino e pesquisa; a revisão da metodologia de estimativa do financiamento; práticas e mecanismos de monitoramento incrementados com a incorporação de visitas regulares nos hospitais; estruturação de sistemas de informação, entre outros. “Não há, ainda, o monitoramento contínuo do conjunto de experiências contratuais em cursos no Brasil. Esse é um processo complexo, e o conhecimento de riscos e benefícios ainda está sendo acumulado”, finalizou. 

A organização interna dos hospitais
 
Encerrando o segundo dia do evento franco-brasileiro, a quarta mesa de discussão abordou os novos arranjos para a organização interna dos hospitais. A professora Laetitia Laude, do Instituto de Gestão da EHESP, comentou que a organização em polos é um reagrupamento de unidades. Segundo ela, quanto mais os médicos estiverem envolvidos na reforma dos hospitais, nesse modelo de organização, melhor será a sua administração, pois eles são os profissionais mais preparados para inovar no percurso do cuidado por estarem diretamente envolvidos no processo. 

Redes de atenção: Brasil deve reestruturar gestão
 
Sobre a organização do hospital em linhas de cuidado, o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Túlio Franco afirmou que o cuidado se produz por meio do trabalho multiprofissional, em que a ação de cada um se combina e é parte do processo terapêutico como um todo. “Os profissionais já exercem suas funções dividindo-as em linhas, isto é, imperativo ao trabalho do ser humano. A organização dos hospitais nesse modelo é apenas uma forma de institucionalizar o que é empírico”, concluiu o professor.

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