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Aumento da taxação pode reduzir consumo de álcool

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Publicado em:29/11/2012
"Por que é tão difícil falar sobre álcool? Em geral, a área da saúde pensa da mesma forma em relação ao crack, mas, com o álcool, não é assim. É uma droga lícita, aceita". A opinião é de Raquel Brandini De Boni, pesquisadora visitante do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e palestrante do Centro de Estudos da ENSP, ocorrido em 28/11. Com elogios à operação Lei Seca, ela acredita que a política mais efetiva de redução do consumo de álcool seja o aumento da taxação sobre a bebida. A atividade foi coordenada pelo pesquisador Francisco Inácio Bastos (Icict/Fiocruz).
 
Inicialmente, Raquel Brandini fez um histórico sobre o uso de bebidas alcoólicas. “Beber faz parte da humanidade. As bebidas alcoólicas surgem com o início da agricultura, na Idade Média. No Egito Antigo, os vinhos já eram classificados por sua qualidade.” Mas, segundo ela, beber demais, ou seja, intoxicar-se com a bebida, não era uma prática bem-vista pela sociedade. “Ficar bêbado era considerado uma falha de caráter na Grécia Antiga”, completou.

Aumento da taxação pode reduzir consumo de álcool
Para Raquel, no mundo atual é difícil resistir ao álcool. “A propaganda de cerveja é liberada. A bebida é considerada leve, pois seu grau de teor alcoólico é inferior a 12%”, disse ela. Ela se disse impressionada com a notícia divulgada, em novembro deste ano, pelo jornal O Globo de que a Ambev, fabricante de cervejas e dona das marcas Brahma, Antarctica e Skol, é mais valiosa que a Petrobras. A pesquisadora também criticou propagandas dirigidas aos públicos infantil e adolescente para fidelizar os consumidores desde muito cedo.
 
Qual o problema de crianças e adolescentes beberem? Segundo Raquel, que é médica psiquiatra, dados epidemiológicos demonstram que, quanto menor é a idade do primeiro consumo de álcool, maior é a chance de se tornar dependente de álcool e de outras drogas, causar acidentes de trânsito, ser vítima de violência e praticar sexo desprotegido. Além disso, o uso de álcool é o terceiro fator de risco de morbimortalidade no mundo. Raquel informou que pesquisas nas áreas de neurobiologia e psicologia apontam que o álcool atua nas partes frontal e pré-frontal do cérebro. Nesse período de vida, é intenso o desenvolvimento cerebral, aumentando a vulnerabilidade ao álcool. No Brasil, o primeiro consumo de álcool ocorre entre 12 e 13 anos, de acordo com dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas da Universidade Federal de São Paulo.
 
“É difícil medir o sofrimento”, disse Raquel. Sobre os custos, ela informou que, nos Estados Unidos, o gasto com o uso excessivo de álcool ultrapassa US$ 223 milhões, seja com a saúde, perda de produtividade ou justiça. No Brasil, os dados são incompletos, mas acredita-se que os custos alcancem 7% do produto interno bruto (PIB) nacional. O Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas/Ministério da Justiça mostra que os custos com acidentes de trânsito relacionados ao álcool chegaram a R$ 22 milhões por ano, somente em Porto Alegre. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 1,2 milhão de pessoas morrem anualmente em acidentes de trânsito, que são a segunda maior causa de morte entre os jovens brasileiros. Desse total, 30% a 50% das mortes no trânsito são associadas ao álcool.
 
Outra questão grave citada pela pesquisadora é o fato de o Brasil não exigir licença específica para o comércio de bebida alcoólica. “O mercado no Brasil é pouco regulado. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, é preciso ter licença, que é muito difícil de ser obtida. Em alguns países nórdicos, é proibido o estabelecimento de pontos de venda de bebida alcoólica num raio de 500 metros de distância das escolas”, disse.
 
Raquel Brandini doutorou-se em Ciências Médicas: Psiquiatria (UFRGS, 2011), com a tese Disponibilidade de bebidas alcoólicas e beber e dirigir. Foi pesquisadora do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas, quando coordenou o mapeamento, a avaliação e o geoprocessamento de serviços para tratamento de usuários de álcool e outras drogas (projeto Ações Integradas).

 


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