Busca do site
menu

Especialistas debatem riscofobia e relações de consumo

ícone facebook
Publicado em:17/05/2012

Tatiane Vargas

 

“A ciência nunca definiu tanto a forma das pessoas existirem como atualmente”, enfatizou o pesquisador da ENSP Luiz David Castiel, no Centro de Estudos realizado na quarta-feira (16/5). A atividade, que debateu a Riscofobia, os Determinantes Sociais da Saúde e a relação entre indústria, Estado e consumo, contou também com a exposição do diretor executivo do Isags e ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que abordou o complexo industrial da Saúde e a Determinação Social da Saúde (DSS). A mesa foi coordenada pela pesquisadora visitante  Vera Luiza da Costa e Silva (Demqs/ENSP), que analisou os DSS sob a ótica do tabagismo. As apresentações e o áudio da palestra estão disponíveis na Biblioteca Multimídia.

 

Especialistas debatem riscofobia e relações de consumo

 

Dando início à sua exposição, Temporão explicou o modelo do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, no qual se encontram a indústria produtora de bens (farmacêutica e indústria de equipamentos médico e insumos) e a indústria prestadora de serviço (hospitais, ambulatórios e serviços de diagnóstico e tratamento), além de abordar o papel da mídia-marketing sobre o Complexo Econômico-Industrial da Saúde e o saber médico. As transições da saúde também foram apontadas por ele como de extrema importância. Dentre elas, as transições demográfica, epidemiológica, alimentar, econômica, tecnológica e cultural, sendo as duas últimas fundamentalmente impactantes na formação médica.

 

Segundo Temporão, o impacto das transições tecnológica e cultural na formação médica é extremamente complexo e possui aspectos positivos e negativos, trazendo à tona uma grande questão: Quem educa os prescritores?  “Nesta transição cultural, por exemplo, temos o acesso à informação sobre saúde; qualquer pessoa hoje acessa o Google para buscar informações sobre saúde, e elas têm grande impacto na relação médico-paciente. Temos também a judicialização da saúde, as estratégias diversificadas de ampliação do consumo, as propagandas em jornais, revistas, TV, rádio. Todo esse contexto cria uma consciência sanitária distorcida, principalmente sobre o papel das tecnologias duras na manutenção e recuperação da saúde”, afirmou o ex-ministro.

 

Especialistas debatem riscofobia e relações de consumoO conjunto de estratégias voltadas para a ampliação do consumo, a chamada publicidade em saúde, também foi citada por Temporão. Para ele, a propaganda dificulta a regulação do tema. Ele apontou o uso de pessoas famosas na publicidade de bebidas alcoólicas e o patrocínio da seleção brasileira de futebol por uma marca de cerveja. A produção e o consumo também entraram na discussão. O diretor do Isags expôs a ideologia do consumo, que pretende internalizar nos indivíduos, como necessidades individuais, as necessidades de produção, e citou ainda uma frase de Marx: “A produção não produz somente um objeto para o sujeito, mas igualmente um sujeito para o objeto.”

 

Os Determinantes Sociais da Saúde e o caso do tabagismo

 

A pesquisadora visitante do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos da ENSP Vera Luiza da Costa e Silva falou sobre prevenção das doenças crônicas não transmissíveis, os Determinantes Sociais da Saúde em todas as políticas e citou como exemplo o caso do tabagismo. A pesquisadora descreveu o conceito de Determinantes Sociais da Saúde como fatores sociais, econômicos, culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais, que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. “DSS são as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham”, afirmou ela.

 

Especialistas debatem riscofobia e relações de consumoVera Luiza citou conquistas na abordagem dos DSS sob a perspectiva das doenças crônicas não transmissíveis e destacou que Determinantes Sociais são comuns a muitos dos problemas de saúde pública e devem ser abordados como temas transversais, pois estimulam o envolvimento de toda a sociedade, sob a liderança do setor saúde, porém com forte presença de outros setores. Em seguida, a pesquisadora entrou no caso do tabagismo. Segundo ela, “a trajetória individual do fumante está relacionada a desvantagens sociais acumuladas durante toda a sua vida”. O tabagismo é distribuído diferencialmente nas populações, os padrões de iniquidade podem ser observados através de nível socioeconômico, idade, grupo étnico e gênero.

 

De acordo com a pesquisadora, o uso do tabaco é uma causa poderosa e prevalente nas disparidades sociais em saúde. Evidências mostram diferentes consequências para a saúde pelo uso do tabaco em variados grupos populacionais, além de apontar para uma ligação direta do tabagismo com a tuberculose. Por fim, Vera Luiza enfatizou que “esforços para a prevenção e controle do tabagismo entre desfavorecidos não devem ter sucesso se não estiverem integrados a uma abordagem que procure reduzir as causas de iniquidades sociais que predisponham o grupo ao uso do tabaco e confiram a ele uma desvantagem em acessar serviços de saúde”.

 

Riscofobia, Determinantes Sociais da Saúde e a relação indústria, Estado e consumo

 

Para falar sobre Riscofobia - entendida como os fatores associados à difusão ou à prevenção de doenças, os chamados fatores de risco - o Centro de Estudos contou com a presença do pesquisador da ENSP e especialista no tema Luis David Castiel, que abordou os perigos de hipervalorizar o risco discutindo a questão da cultura hiperpreventiva focada na tentativa de diagnosticar o risco. Segundo o especialista, a ideia de risco coloca os indivíduos diante de uma sensibilidade catastrófica na cultura ocidental moderna. Os riscos podem ser razoavelmente descritos, explicados, antecipados e sofrerem intervenções com graus de efetividade definida.

 

Especialistas debatem riscofobia e relações de consumoNa perspectiva da relação com a indústria, o Estado e o consumo, o pesquisador alertou que a acumulação de riscos distintos, sendo eles ecológicos, biomédicos, sociais, militares, políticos, econômicos, financeiros, simbólicos e informacionais, possui presença avassaladora no mundo atual. Segundo ele, a busca de melhoria da saúde está entre as principais práticas simbólicas da modernidade. “Na saúde, assim como ao longo da vida social contemporânea, a racionalidade tecnocientífica, no contexto do capitalismo global predatório, não pode proporcionar a segurança que promete. As pessoas  sabem que, por mais que se obedeça a regras de saúde, os perigos excedem à capacidade pessoal de proteção através do estilo de vida e outras medidas preventivas”, analisou o pesquisador.


Seções Relacionadas:
Centro de Estudos

Nenhum comentário para: Especialistas debatem riscofobia e relações de consumo