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Economista discorre sobre sucessivas crises mundiais

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Publicado em:12/04/2012

O Centro de Estudos da ENSP recebeu nesta quarta-feira (11/4) a economista do Institut d’Études Politiques da Universidade de Grenoble (França), Célia Himelfarb, para falar do tema Crise, regionalização e globalização. Segundo ela, hoje há um enorme intercâmbio da França com o Brasil, em particular com a Fiocruz. A palestrante fez um breve histórico sobre as crises mundiais, e destacou:  "Vivemos hoje a primeira grande crise de países ricos. Então, qual o caminho para sair da crise, qual o papel dos países emergentes, como China, Índia e Brasil?"

 

 

Economista discorre sobre sucessivas crises mundiais

 

A vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico, Margareth Portela, ao abrir o evento, lembrou que o Centro de Estudos da ENSP debate questões polêmicas que podem ter maior ou menor relação com a Saúde, e a pesquisadora Jeni Vaitsman, do Departamento de Ciências Sociais da Escola, coordenadora do evento, destacou a larga experiência da palestrante sobre regionalização e políticas econômicas.

 

Palestrante descreve crise de 1930 em diante

 

De acordo com a palestrante, a crise de 1930 foi uma grande depressão econômica que terminou apenas com a Segunda Guerra Mundial. Esse período causou altas taxas de desemprego, além de quedas do PIB, da produção industrial e dos preços das ações em diversos países no mundo. O início dessa crise foi a quebra da Bolsa de Valores de Nova York (1929), mas a produção industrial americana já vinha caindo. Em certos países, como a Argentina e o Brasil, pouco industrializados na época, essa crise acelerou o processo de industrialização interno.
 

As crises mais recentes deram-se nos anos setenta, destacou. Como o Oriente Médio tornou-se o principal produtor de petróleo do mundo, o território foi dominado por europeus por décadas, para exploração das suas riquezas. Mais de 90% da sua produção petrolífera era controlada por um cartel de sete companhias estrangeiras. A economia mundial nesse período estava dependente do petróleo, por isso os países produtores decidiram romper com o cartel criando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Numa medida de retaliação, a Opep interrompeu o fornecimento do produto principalmente para os Estados Unidos, e também para o Japão e o continente europeu, o que acarretou um aumento do preço do barril pela falta de oferta. O impacto dessa  crise foi enorme em todo o mundo, inclusive no Brasil, surgindo problemas como inflação, crise das indústrias e aumento de desemprego.
 

Economista discorre sobre sucessivas crises mundiaisA economista da Universidade de Grenoble destacou a moratória do México. Na década de 1970, o crédito barato e abundante estimulou o endividamento dos países latino-americanos, que tiveram grande crescimento econômico. No Brasil, o período ficou conhecido como "milagre brasileiro". Já a economia do México, ainda dependente dos EUA, teve suas taxas de juros aumentadas, devido à crise do petróleo, que levou ao aumento da inflação americana. Com isso, o país passou a comprar menos produtos mexicanos e reduziu a oferta de financiamento ao México, que interrompeu o pagamento da dívida externa em 1982. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial não conseguiram solucionar o problema imediatamente. Surgiu o Plano Baker, que, como não foi suficiente, foi sucedido pelo Plano Brady, amenizando a crise latino-americana.
 

Veio, então, nos anos noventa, continuou Célia Himmelfarb, o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta), envolvendo o Canadá, o México e os EUA, além do Chile, como associado, com custo reduzido para troca de mercadorias. O Nafta ajudou a economia mexicana a enfrentar a concorrência contra o Japão e a União Europeia, "mas também transformou o Canadá e o México em dependentes  dos EUA", disse Célia.
 

Nos países do sudeste asiático, como a Coreia do Sul, a Tailândia, a Indonésia, as Filipinas, explicou a economista, a crise financeira foi caracterizada por desvalorização cambial, baixas reservas internacionais, falência de bancos e empresas e risco de moratória da dívida externa. O FMI emprestou bilhões de dólares à região para evitar que a crise afetasse o Japão e o resto do mundo. A crise financeira asiática piorou sensivelmente a situação da Rússia, basicamente, devido à redução da oferta de crédito internacional e à queda no preço das commodities (agrícolas, minerais e energéticas) exportadas pela Rússia. O país também decretou uma moratória e desvalorizou sua moeda.

 

No Brasil, crise acontece após implantação do real


Para Célia, no caso do Brasil, "a crise se deu depois da implantação do real e da desvalorização cambial em 1999". O Plano Real combateu a inflação, mas as políticas econômicas de juros elevados e baixo investimento estatal, associadas a uma  sobrevalorização do real frente ao dólar, o yen e o euro, causaram um acúmulo de problemas econômicos estruturais, como o enfraquecimento da  indústria nacional, já que havia facilidade de importação de produtos em dólar.
 

Diante das crescentes críticas ao governo argentino de Carlos Menem acerca da corrupção e da incapacidade de combater o desemprego, a campanha do candidato Fernando de la Rúa, em 1999, obteve grande apoio popular e foi vencedora. A situação econômica e social, porém, era bastante delicada, e os protestos da população levaram à renúncia do presidente. Ao assumir, o presidente interino Adolfo Rodriguez Saa decretou moratória. "Apesar de ser uma fiel seguidora das regras do FMI, a Argentina entrou em colapso", salientou a economista. Na década de 1990 ainda houve o boom da Internet, quando muitas novas empresas surgiram e outras fracassaram baseadas no comércio eletrônico.
 

E, por fim, a convidada do Ceensp chegou à crise do euro, lembrando sua origem em 2008, com a falência do banco de investimentos Lehman Brothers. "A crise do euro é de subprimes", afirmou. Houve quebra de instituições de crédito nos Estados Unidos, que concediam empréstimos hipotecários de alto risco (subprime), arrastando vários bancos para uma situação de insolvência  e repercutindo sobre as bolsas de valores de todo o mundo. Os governos de alguns estados lançaram uma operação para salvar os bancos, comprometendo os fundos públicos, mas controlaram a situação e impediram o consequente colapso dos mercados financeiros, sem, no entanto, reverter a crise.
 

 

Economista discorre sobre sucessivas crises mundiais

 

 

Uma nova fase da crise instalou-se: a da dívida pública, que afeta não só os EUA, mas também a Europa e o Japão, concentrando-se na União Europeia. O caso da Grécia, segundo Célia, deve-se ao fato de ter havido "uma maquiagem nos dados numéricos de sua dívida, quando do ingresso na União Europeia". E acrescentou: "A Grécia tinha um nível de endividamento enorme, gastava descontroladamente e um sistema corrupto".Todos os países da Zona Euro foram afetados pela crise da moeda comum europeia. Ela citou Portugal, que, assim como a Grécia, recebeu apoio financeiro internacional  para suplantar dificuldades financeiras. "É a primeira vez que o FMI teve que ajudar a Europa e isso afetou o orgulho do continente. A solução, no entanto, não é aplicar somente medidas austeras, reduzindo gastos públicos como saúde, previdência,  educação, salários. "É preciso estabelecer uma agenda desenvolvimentista. A crise está sendo mal conduzida", finalizou.


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