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CEENSP com Trevor Hancock fortalece discussões sobre promoção da saúde e cidades saudáveis

"Cidade Saudável é aquela que permite o movimento em direção à concretização das diretrizes de promoção da saúde preconizadas na Carta de Ottawa: construção de políticas públicas saudáveis, criação de ambientes favoráveis à saúde, reforço à ação comunitária, desenvolvimento de competências pessoais e reorientação dos serviços de cuidados de saúde. Logo, o conceito de Cidade Saudável tem a ver com processo e não com resultados. Tem a ver com governança". Essa foi apenas uma das importantes questões apresentadas pelo sanitarista inglês, radicado no Canadá, Trevor Hancock, no CEENSP realizado nesta quarta-feira (02/04), sob coordenação da pesquisadora Regina Bodstein, do Departamento de Ciências Sociais (DCS/ENSP). A apresentação de Hancock, uma das figuras mais proeminentes da área de Promoção da Saúde mundial e um dos precursores do movimento internacional de Cidades Saudáveis, está disponível na Biblioteca Multimídia da ENSP.

O diretor da ENSP, Antônio Ivo de Carvalho, abriu o evento destacando a importância do CEENSP para o projeto formativo da Escola e a importância do convidado no contexto da promoção da saúde, um paradigma que está se fortalecendo cada vez mais no Brasil. "Nos últimos anos, o governo brasileiro vem perseguindo obstinadamente o ideal de políticas públicas integradas que busquem reduzir as desigualdades sociais que ainda imperam no país. O Ministério da Saúde, por sua vez, também tem trabalhado com a idéia de que não basta aperfeiçoar o SUS, mas que é preciso criar políticas públicas que alterem esse quadro", afirmou. Antônio Ivo ressaltou ainda que a ENSP vem cada vez mais se alinhando com os princípios que fundamentam a promoção da saúde e citou o projeto 'Ações intersetoriais para a saúde: promoção da saúde como estratégia para o desenvolvimento local' como exemplo de atuação da Escola.

Saúde urbana e cidades saudáveis

Hancock, que é consultor do Ministério da Saúde canadense, começou sua palestra destacando a diferença fundamental entre saúde da cidade, ou saúde urbana, e cidade saudável. "Saúde urbana se refere à saúde do assentamento urbano, em termos de seu funcionamento como comunidade e como ecossistema ou mesmo à saúde da população humana que habita nesse ecossistema urbano, incluindo a disponibilidade e o acesso aos serviços de saúde. O conceito de cidade saudável, por sua vez, está relacionado à promoção da saúde, ou seja, ao processo que permite às pessoas aumentarem o controle sobre sua própria saúde", explicou.

O palestrante discutiu a idéia da cidade como um ecossistema que engloba o ambiente construído, os ambientes social, econômico e político, as bio-regiões e a biosfera, os seres humanos e outros seres vivos. Segundo ele, hoje já temos consciência de que a o futuro da vida humana depende diretamente da sustentabilidade desse ecossistema.

Dentre os inúmeros conceitos abordados, Hancock destacou o de ecologia social, que permite a análise dos complexos problemas enfrentados pela sociedade contemporânea; o de sustentabilidade social; e o de governança, que pode ser entendida como gestão do curso dos acontecimentos em um sistema social ou ainda como a soma das várias maneiras pelas quais indivíduos e instituições, públicas e privadas, planejam e gerem os assuntos comuns da cidade. "O objetivo central da governança e do governo é, ou pelo menos deveria ser, o desenvolvimento humano sustentável e eqüitativo", completou.
Hancock explicou que a governança é maior do que o governo e deve envolver todas as esferas da sociedade. "Nas questões de saúde, não basta focar nas políticas públicas, é preciso estimular mudanças também nas políticas privadas de saúde, é preciso estabelecer parcerias e trabalhar intersetorialmente", disse, enfatizando que as ações intersetoriais devem ser pensadas em três aspectos: as que envolvem departamentos e setores distintos de uma mesma instituição ou nível de governo; as que envolvem, em setores específicos, níveis distintos de gestão; e as que envolvem num mesmo nível de gestão atores de setores sociais distintos.


Segundo o professor, é fundamental estabelecer parcerias com o setor privado desde que isso seja feito em prol de um movimento de mudança, e que essa parceria seja estabelecida com base em alguns princípios. "Até hoje, vivemos num capitalismo que, para fortalecer o capital econômico, nunca se preocupou em arrasar o capital natural, o capital social e o capital humano. Daqui para frente, temos que começar a pensar num capitalismo que fortaleça simultaneamente os quatro tipos de capital", argumentou, antes de listar alguns desses princípios. "Nunca estabelecer parcerias com empresas que ganham dinheiro vendendo "problemas de saúde" - indústria do tabaco, por exemplo -nem com quem perde ou deixa de ganhar dinheiro se a saúde da população melhorar - indústria farmacêutica, entre outras - ou ainda com empresas cujo lucro acarrete prejuízo à saúde da cidade e da população", alertou.

Após o debate final, a coordenadora do CEENSP encerrou a atividade, chamando atenção para o fato de a discussão ter aumentado as esperanças de que ainda é possível mudar. "Ao citar inúmeros exemplos concretos do que pode ser feito e experiências positivas nessa área, o professor nos mostrou que, mesmo diante dos grandes problemas que enfrentamos, sempre existe uma perspectiva de mudança", finalizou Regina Bodstein.

Oficina complementa atividades de canadense na ENSP

A vinda de Trevor Hancock à ENSP não se resumiu à sua participação no Centro de Estudos. Ele também participa, nesta quinta-feira (03/04) à tarde, de uma Oficina do Projeto de Cooperação Brasil - Canadá. "Essa reunião é uma iniciativa da ENSP e envolve os projetos locais sobre Manguinhos e as iniciativas de promoção da saúde na Escola. Queremos fortalecer competências e promover a troca de experiências entre Brasil e Canadá", comentou Regina Bodstein.

Entre as experiências apresentadas na oficina estão: o 'Projetos Cidades Saudáveis - Saúde, Ambiente e Desenvolvimento' por Simone Cynamon; o Curso de Especialização em Promoção da Saúde e Desenvolvimento Social por Maria de Fátima Lobato; o Projeto de Avaliação das Ações Intersetoriais em Promoção da Saúde em Manguinhos por Rosana Magalhães; e o Projeto sobre o Desenvolvimento de Escolas Promotoras de Saúde no Município do Rio de Janeiro pelo Gerente do Programa Saúde Escolar da Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS/RJ), Carlos Silva.

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