Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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Pesquisa avalia impacto de fatores psicossociais sobre saúde bucal de adolescentes

A relação entre determinantes sociais e a saúde bucal tem sido demonstrada, principalmente por meio de estudos que comparam grupos de pessoas provenientes de diferentes extratos socioeconômicos e que vivem em contextos sociais distintos. Poucos estudos, no entanto, buscam explicar as diferenças em saúde bucal dentro de grupos que apresentam condições socioeconômicas semelhantes. Esse cenário comprova a relevância da pesquisa 'Senso de coerência e saúde bucal de adolescentes de uma escola pública do Estado do Rio de Janeiro', que está sendo desenvolvida na ENSP, com apoio da Fundação Carlos Chagas de Apoio à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), e visa compreender os fatores que afetam a distribuição de cáries e outros problemas bucais entre escolares que pertencem a um grupo aparentemente 'homogêneo socialmente'.

Para realizar o estudo, a equipe, coordenada por Mario Vianna Vettore, pesquisador visitante do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde (Demqs/ENSP), e integrada por Maria Helena Mendonça, pesquisadora do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde (Daps/ENSP) e atual vice-diretora de Pós-Graduação da Escola, e pela doutoranda de Saúde Pública Andréa Neiva da Silva, coletou dados de 190 alunos - entre 11 e 13 anos - de um Centro Integrado de Educação Pública (CIEP) de São João de Meriti, e de suas respectivas mães.

"Em 2006, todos os alunos desse colégio, que integra o programa estadual 'Saúde na Escola' desde 2002, passaram por exames clínicos para cárie dental. Esses exames evidenciaram desigualdades em saúde bucal, indicando que uma parcela dos escolares concentra uma maior quantidade de lesões de cárie", conta Vettore, explicando que esse resultado levou à hipótese de que fatores psicossociais exercem impacto sobre saúde bucal e à necessidade de se avaliar esse impacto. "Nossa pesquisa pretende contribuir para a identificação de fatores sócio-comportamentais salutogênicos associados à saúde bucal dos adolescentes estudados, auxiliar o desenvolvimento de ações de promoção da saúde no ambiente escolar e, de forma mais ampla, subsidiar a implantação de novas estratégias preventivas e terapêuticas voltadas para adolescentes de maior risco e vulnerabilidade psicossocial", resume o pesquisador.

Modelo salutogênico e senso de coerência

De acordo com o projeto, a teoria salutogênica (saluto=saúde; gênese= origem), proposta em 1981 pelo sociólogo Aarão Antonovsky, advoga que os fatores que promovem saúde não são os mesmos que modificam o risco para doenças específicas. "O modelo salutogênico não se propõe a explicar completamente os determinantes da saúde e da doença, mas permite compreender que a forma de o indivíduo lidar com o estresse é importante para a prevenção de doenças e para a promoção da saúde", explica Mario Vettore.

Segundo ele, Antonovsky considerava mais importante focar nos recursos individuais e na capacidade de gerar saúde (salutogênese) do que nas causas da doença (patogênese). "O autor apontava a necessidade de se identificar caminhos e mecanismos que conduzam à saúde, ou seja, mirar o processo de manutenção e geração da saúde, e não o processo de doença", esclarece o coordenador da pesquisa. Ele destaca que o elemento central do modelo salutogênico é o 'senso de coerência', isto é, na habilidade que a pessoa tem de compreender e enfrentar a situação que está vivendo e na capacidade de usar os recursos disponíveis, a fim de encontrar um sentido que a mova em direção à promoção da saúde.

A teoria considera que o estresse é intrínseco à condição humana e que quanto mais forte o 'senso de coerência' dos indivíduos e dos grupos, mais adequadamente eles conseguem lidar com os fatores estressantes e, portanto, manter a saúde. "A teoria salutogênica é capaz de explicar porque alguns indivíduos, mesmo diante de situações estressantes e difíceis, conseguem se manter com boa saúde".

Fatores psicossociais e doenças: uma relação ainda pouco conhecida

Atualmente, segundo Mario Vettore, vem crescendo o número de estudos cujo objetivo é analisar a relação entre fatores psicológicos e os desfechos em saúde."Vários autores sugerem que fatores psicológicos têm um papel importante na manifestação da saúde e da doença por causa de impacto positivo (fatores salutogênicos) ou negativo (fatores patogênicos) na resistência do hospedeiro", esclarece. Ele ressalta que, no entanto, ainda há relativamente poucos trabalhos, no nível teórico e experimental, que buscam desvendar os mecanismos capazes de mediar essa relação. "A explicação mais provável parece ser de origem imunológica, mas as evidências provenientes de estudos populacionais ainda são muito esparsas", diz.

No que diz respeito à relação entre senso de coerência e saúde bucal, o grupo responsável pela pesquisa acredita que é licito afirmar que são poucos os trabalhos científicos publicados sobre o tema e que isso aponta para a necessidade de se desenvolverem novas pesquisas na área Odontológica que utilizem o modelo salutogênico. "Ao desenvolver nossa pesquisa, partimos da hipótese de que adolescentes que apresentam alto senso de coerência possuem melhores condições de saúde bucal em comparação com adolescentes que apresentam baixos níveis de senso de coerência; adolescentes cujas mães apresentam altos níveis de senso de coerência apresentam melhores condições de saúde bucal em relação àqueles cujas mães apresentam baixos níveis de senso de coerência; e mães que apresentam altos níveis de senso de coerência adotam comportamentos e atitudes mais favoráveis à saúde bucal de suas crianças em comparação àquelas que apresentam baixos níveis de senso de coerência", detalha Vettore.

As variáveis coletadas junto aos adolescentes foram: dados comportamentais e conhecimentos relacionados à saúde bucal, autopercepção de saúde bucal e acesso a serviços odontológicos. Eles foram examinados para avaliação do estado de saúde bucal (cárie dental, sangramento gengival, presença de placa e trauma dental) e responderam a um questionário para avaliação da dor dental. As mães dos adolescentes responderam questões relativas à condição socioeconômica, rede social, saúde bucal do aluno, comportamento e conhecimentos maternos com relação à saúde bucal, autopercepção da saúde bucal materna e percepção materna da saúde bucal do adolescente.

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