Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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Estudo analisa as relações de cuidado do Centro-Dia com a população idosa

Analisar o papel do Centro-Dia como um espaço favorável de saúde para pessoas idosas provenientes de famílias em situação de desigualdade, com base nas relações de cuidado ali desempenhadas, foi o tema da dissertação da fisioterapeuta Ana Cláudia Barbosa no mestrado em Saúde Pública da ENSP. Em seu estudo, ela procurou entender as relações de cuidado desse espaço com a população idosa e como ele, o espaço, pode se constituir em um local favorável para a saúde de seus freqüentadores.


'Centro-dia, seus Idosos e a sua Família: um olhar sobre as relações de cuidado', foi o titulo da dissertação de mestrado, orientada pela pesquisadora da ENSP Maria de Fátima Lobato. A inserção de Ana Barbosa na área aconteceu em 2000, por meio de um trabalho realizado com pessoas idosas em uma organização não-governamental, que oferece a modalidade de atenção centro-dia, localizada na Cidade de Deus, no município do Rio de Janeiro. Encantada com o trabalho gratificante e com o desafio de reinventar a fisioterapia a partir dos poucos recursos da instituição, a ex-aluna resolveu, em 2003, ingressar no curso de Especialização em Gerontologia na Universidade Federal Fluminense. "Este foi o primeiro momento em que comecei a estudar a instituição. A partir daí, estudei a inserção do fisioterapeuta não apenas como um profissional reabilitador, mas como um instrumento que realiza a inclusão social desse idoso de baixa renda. Naquele momento, proporcionar atividade aos idosos era uma maneira de mantê-los com vida social".

A atuação diferenciada da fisioterapia, segundo Ana Barbosa, foi obtida graças à importante atuação que o espaço proporcionava. Dessa forma, ela resolveu estudá-lo no mestrado com base no diferencial que ele traz para as pessoas que o freqüentam. Seus objetos de pesquisa foram homens e mulheres de baixa renda, freqüentadores do Centro-Dia. "O fato de serem pessoas com idade avançada e de baixa renda agrega duas vulnerabilidades. Então, o objetivo do trabalho foi entender o que acontece nesse espaço e qual é seu diferencial. Por mais que os idosos tenham uma série de complicações, eles aparentam uma alegria, um bem estar físico, criam relações importantes nesses locais", explicou.

O Centro-Dia

De acordo com a fisioterapeuta, o Centro-Dia é um espaço presente em todas as legislações que cuidam da assistência ao idoso. Ele aparece no Estatuto do Idoso, na Política Nacional do Idoso, é regulamentado no Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e oferece serviços de saúde. Sua grande característica é incentivar os idosos com alguma dependência - seja de qual tipo for - à socialização, por meio de ações de promoção e prevenção da saúde. "As políticas do idoso dizem que ele deve ser mantido pela família - principal cuidador -, depois pela sociedade e pelo estado - por intermédio de políticas públicas e a assistência institucional. O Centro-Dia oferece um cuidado diurno. O idoso chega num determinado horário, tem suas refeições na instituição, recebe a devida assistência e volta para casa no fim do dia. Em instituições de longa permanência como os asilos, quase sempre há um desligamento desse idoso com seu familiar".

A idéia de estudar o espaço dentro de uma comunidade de baixa renda se deu pelo fato de que, nas famílias de alta remuneração, há a possibilidade de um cuidador profissional. Nas famílias de classe média, a assistência, na maioria das vezes, é prestada por cuidadores informais, como filhos, genros, noras. O que acontece nas famílias de baixa renda é que todos têm que sair para trabalhar. Há a entrada precoce dos jovens no mercado de trabalho, e a mulher da casa já não é a cuidadora tradicional, pois também precisa trabalhar. Isso, de acordo com Ana Barbosa, fragiliza os dois pólos de idade: as crianças e os idosos. "A criança tem a creche, e o idoso não tem nada. O que se tem de proposta é o Centro-Dia. Embora não haja comparação entre crianças e idosos, faz-se um paralelo do centro com as creches, mas eles são espaços de cuidado relacionados à assistência social, à socialização e o cuidado em saúde".

Um espaço não apenas para a dependência

Apesar de uma lei municipal prever a criação de um centro-dia em cada Área Programática da cidade, o Rio de Janeiro só possui cinco em todo o seu território. No entanto, o próximo objetivo de Ana Barbosa é analisar se o modelo estudado está compatível com o do país e se o desenho proposto para a instituição na Cidade de Deus pode funcionar em larga escala, com a coesão necessária para o seu funcionamento.

Para Ana, um ponto no estudo que merece reflexão está relacionado à definição de centro-dia. Ele é tido como um espaço para idosos que apresentem algum tipo de dependência e, quase sempre, essa dependência está relacionada a uma necessidade ou atividade especifica. "O que vimos entre os entrevistados é que metade deles não possuía nenhum tipo de dependência. Dessa forma, esse espaço possui um atrativo a mais, ele não é buscado apenas pela dependência em si. Muitos têm suas casas, moram sozinhos, tem um bom suporte familiar, mas freqüentavam, regularmente, o centro. Além dessa questão do cuidado formal, os espaços de saúde podem ter como reorientação a questão da humanização e esse olhar especifico do cuidado para realizar algo diferenciado".

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