Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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Presidente da Fiocruz abre curso de Vigilância Sanitária da ENSP com palestra sobre globalização e saúde

"O Homem gasta mais com a destruição do que com a vida". A afirmação veio do presidente da Fiocruz, Paulo Buss, ao proferir a aula inaugural do curso de especialização em Vigilância Sanitária da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), realizada na segunda-feira (31/3). Ao falar sobre globalização, pobreza e saúde, Buss explicou que diversos países gastaram, em 2003, com arsenal militar quase um trilhão de dólares, enquanto que para se alcançar os Objetivos do Milênio, estabelecidos pela OMS, seriam necessários, em 15 anos, 760 bilhões de dólares. Confira, na Biblioteca Multimídia da ENSP, o áudio da apresentação de Paulo Buss.

O presidente da Fiocruz iniciou a aula explicando o conceito de globalização como um processo multidimensional, econômico, social, cultural, tecnológico e político, que, nos anos 90, buscou o crescimento do comércio internacional de bens, produtos e serviços, a minimização do papel dos governos e dos estados-nação e as reformas orientadas pelo mercado. "Esse é um tema que tenho trabalhado ao longo dos últimos anos, principalmente quando representei o Brasil nas assembléias gerais da OMS e me envolvia em debates com representantes de países desenvolvidos sobre governança global e o papel das Nações Unidas na saúde", revelou.

Segundo Buss, a globalização produz riquezas, mas não assegura uma distribuição eqüitativa da mesma, causando repercussões negativas nos países mais pobres e dependentes de suas exportações agrícolas e de matérias primas. Outro ponto é que a globalização leva a uma grande expansão das dívidas interna e externa, a uma crise fiscal dos países subdesenvolvidos e de movimentos de exportação do desemprego e de movimentos migratórios sem proteção, principalmente nos países da África, América Latina e Ásia. "A globalização leva a um padrão insustentável de urbanização e industrialização, resultando em uma ação nefasta sobre o ambiente. Muitas pessoas acabam perdendo suas casas e terras por desastres, em conseqüência das atividades econômicas sem controle sobre o meio ambiente", afirmou. Os péssimos resultados sociais e econômicos da globalização devem-se também às elites políticas e econômicas dos próprios países em desenvolvimento, muitos dos quais sofrem com uma baixa qualidade de governança e corrupção, com desperdícios de recursos e programas ineficazes.


O mundo conta, atualmente, com 1,2 bilhões de pessoas em extrema pobreza, quase metade dessa população vivendo na África com menos de um dólar por dia. A América Latina conta com 222 milhões de pobres e 96 milhões de indigentes. Tais desigualdades ocorrem tanto nos níveis de saúde e nutrição (morbidade, descapacidades e mortalidade), como também no acesso aos serviços sociais e de saúde. Entretanto, a globalização permite viagens internacionais e difusão do comércio e, com isso, um aumento no risco de doenças transmissíveis emergentes por meio de pessoas, animais, insetos ou alimentos. O turismo globalizado e o comercio sexual de crianças, adolescentes e adultos também são formas de disseminação de doenças por meio da globalização.

Com a globalização, as reformas dos sistemas de saúde foram mais orientadas para o mercado, gerando uma maior iniqüidade ao acesso dos serviços e insumos básicos pela população mais necessitada. "A saúde pública não é considerada nos esquemas neo-liberais de governo. A saúde da população entra sempre em conflito com os negócios gerados pelas doenças", destacou Buss.

Apesar do enfoque pessimista, o presidente da Fiocruz lembra que a globalização traz muitas oportunidades como a criação da Organização das Nações Unidas após a II Guerra Mundial ou da Organização Mundial da Saúde, em 1948. Segundo Paulo Buss, "na década de 90 a ONU fez uma série de conferências setoriais para preparar o mundo para o século XXI e delas tivemos como resultado os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio". Os ODM são uma declaração de compromissos assumidos em 2000 por 189 países integrados à ONU, definindo uma lista dos oito principais componentes da agenda global do século XXI:
1. Erradicar a extrema pobreza e a fome;
2. Atingir o ensino básico universal;
3. Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres
4. Reduzir a mortalidade infantil;
5. Melhorar a saúde materna;
6. Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças;
7. Garantir a sustentabilidade ambiental;
8. Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

"Com o valor de um ano de gastos militares feitos pelos países do mundo, quase um trilhão de dólares, seria possível atingir todos esses objetivos num prazo de 15 anos", afirmou o presidente. Encerrando sua aula, Paulo Buss apresentou algumas experiências exitosas como a Gavi Alliance, uma instituição que reúne o Banco Mundial, OMS, UNICEF e países desenvolvidos doadores, fundações privadas (como a Fundação Bill e Melinda Gates) e outros parceiros e que estabeleceu um fundo para vacinas que apóia a imunização básica (DTP + pólio), assim como contra hepatite em setenta países com PIB per capita abaixo de mil dólares.

O curso de especialização em Vigilância Sanitária 2008 tem por objetivo formar especialistas capazes de identificar, analisar e intervir nos problemas que se apresentam no campo da Vigilância Sanitária, considerando o contexto da Saúde Coletiva e a necessidade de transformação das práticas para o alcance de maior efetividade das ações, e contribuir para o desenvolvimento de atitudes necessárias ao desempenho ético da Vigilância Sanitária, habilitando o profissional para atuar nos diversos níveis do sistema.

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