Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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Alunos apresentam conceitos de promoção da saúde

Tatiane Vargas

Expressar o conhecimento adquirido a partir de estudo individual e socializado com o grupo, podendo criar e trazer os conceitos que tiveram a oportunidade de aprofundar ao realizarem suas sínteses com base em situações-problema e seus relatos de prática, foi o principal objetivo da plenária do curso de especialização em Promoção da Saúde e Desenvolvimento Social, intitulada Promoção da Saúde e Desenvolvimento Social nas Instituições e Organizações, que aconteceu na sexta-feira (16/12). Divida em dois grupos, a turma problematizou e apresentou conceitos vistos em sala e realizou duas apresentações baseadas em situações-problema envolvendo temas como saúde do adolescente, desafios do envelhecimento e saúde do trabalhador.

Dando início à plenária do meio da unidade II, do curso de especialização em Promoção da Saúde e Desenvolvimento Social, coordenado pela pesquisadora Maria de Fátima Lobato (Daps/ENSP), o grupo Nó em pingo D'água apresentou a primeira situação-problema: Percepção de crianças e adolescentes sobre temas de saúde, abordando temas como condições de vida, determinantes sociais da saúde, territorialidade, atividade física, vulnerabilidade e sedentarismo. Com base em cinco questões de aprendizagem, o grupo abordou a temática de como trabalhar com o diagnóstico participativo na perspectiva do empoderamento comunitário, valorizando as potencialidades locais e pautas de vida e citando diversos autores.

Destacaram que o conceito de diagnóstico participativo é compreendido como um conjunto de técnicas e ferramentas que permite às comunidades fazerem seu próprio diagnóstico e, a partir daí, começarem a autogerenciar o seu planejamento e desenvolvimento. Logo, o empoderamento comunitário é aquele em que os indivíduos e organizações aplicam suas habilidades e recursos nos esforços coletivos para encontrar suas respectivas necessidades. De acordo com o grupo, "esse nível tem a possibilidade de influenciar decisões e mudanças no sistema social mais amplo. É composto de capacidade e ação - sendo a capacidade definida pelo uso de poder para resolver problemas, e a ação definida por conseguir uma razoável partilha de recursos". Outro conceito apresentado pelo grupo foi o de empowerment comunitário, ou empoderamento comunitário. Segundo o grupo, ele propõe estratégias que visam promover a participação de indivíduos e comunidades, maior participação política, maior justiça social e melhoria de qualidade de vida, acarretando o aumento de capacidade dos indivíduos e coletivos para definirem, analisarem e atuarem sobre seus problemas.

Primeiro relato de prática foi fato acontecido em hospital

Em seguida, o grupo Nó em pingo D'água destacou seu primeiro relato de prática e citou um fato acontecido em um hospital municipal no Rio de Janeiro, quando uma avó levou uma criança de 1 ano e oito meses até lá alegando que a criança havia caído e, por isso, estava vomitando. O grupo explicou que, "no decorrer da avaliação da avaliação médica, a equipe que atendeu a criança identificou várias marcas de queimadura em seu corpo e várias cicatrizes compatíveis com arranhão, o que levou à suspeita de maus tratos. Ao ser abordada sobre o que havia acontecido com a criança e o motivo de tantas marcas, a avó alegou não saber explicar o ocorrido, relatando que havia colocado a filha para fora de casa logo após o nascimento do neto, pois a mãe da criança queria continuar 'levando vida de garotinha', fato que a avó não concordava e, por essa razão, viviam em conflito". O grupo destacou ainda que, quando perguntada sobre o pai da criança, a avó alegou que ele era um bandido e havia morrido antes de a criança nascer, fato este que revoltou ainda mais sua filha, pois ela achava que iria mudar de vida quando a criança nascesse. A avó afirmou para a equipe que o melhor seria que a polícia levasse a criança, pois a filha não o queria, e ela não tinha condições de criá-lo.

Diante do relato de prática, o grupo trabalhou diversos conceitos, como políticas públicas, promiscuidade, maus tratos, reinserção social, vínculo familiar, direitos da criança e da mulher, notificação de casos de violência, sexualidade, abordagem profissional, reorientação de serviços, proteção da criança, violência, apropriação da informação, afetividade, vulnerabilidade e condição social. E questionou ainda, entre outras questões, até que ponto a reorientação dos serviços e a abordagem profissional podem contribuir para a construção de redes de apoio a grupos de maior vulnerabilidade? Como as políticas públicas podem contribuir na abordagem profissional nas questões de abandono de incapaz, visando apropriação de informações por parte de quem abandona? Como as políticas públicas associadas aos meios de informação podem contribuir para reduzir o número de crianças vítimas de maus tratos de seus familiares? E, por fim, qual a importância das políticas públicas no que diz respeito à apropriação de informação para os jovens sobre sexualidade, proteção da criança e vínculo familiar.

Segunda situação problema foi relacionada à saúde do trabalhador

A segunda situação problema apresentada pelo grupo Nó em pingo D'água foi relacionada à saúde do trabalhador. Os alunos debateram questões como: sobrecarga funcional, gestão participativa, desvalorização do profissional, valorização profissional, ambientes saudáveis, desvio de função, participação comunitária, comprometimento profissional, relações trabalhista fragilizadas, direitos do trabalhador, saúde ocupacional e absenteísmo. O grupo abordou como a promoção da saúde pode contribuir na construção de ambientes saudáveis, atuando sobre a saúde ocupacional dos seus trabalhadores, melhorando a qualidade dos servidos oferecidos e reduzindo o absenteísmo.

Para isso, eles ressaltaram o conceito de serviços de medicina do trabalho, que designa um serviço organizado nos locais de trabalho ou em suas imediações com a finalidade de proteger os trabalhadores dos riscos à saúde, resultantes do seu trabalho e de suas condições de trabalho; contribuir à adaptação física e mental dos trabalhadores, adequando-os ao trabalho segundo suas aptidões; e manter ou contribuir para o bem-estar físico e mental dos trabalhadores. O grupo destacou ainda que a saúde ocupacional consiste na promoção de condições laborais que garantam o mais elevado grau de qualidade de vida no trabalho, protegendo a saúde dos trabalhadores, promovendo o bem-estar físico, mental e social, prevenindo e controlando os acidentes e as doenças por meio da redução das condições de risco. "A saúde do trabalhador representa o desenvolvimento de intervenções que buscam ser reconhecidas em seu saber; a conquista de espaços para questionamento sobre o processo de trabalho, particularmente sobre novas tecnologias; o exercício correto à informação e a recusa ao trabalho perigoso ou arriscado à sua saúde, tendo maior controle sobre as condições e ambiente de trabalho a fim de torná-los mais saudáveis", concluíram.

O reino "relaxista" e as famílias reais promotoras de saúde

O segundo grupo, chamado Relaxa, utilizou atividades lúdicas para apresentar os conceitos aprendidos em sala e abordar as situações-problema. O grupo encenou uma peça de teatro em que havia duas famílias reais que habitavam o Castelo da Fiocruz e realizavam atividades de promoção da saúde com a população do entorno. A primeira situação problema abordada pelo grupo foi a mesma do grupo Nó em pingo D'água, Percepção de crianças e adolescentes sobre temas de saúde. Eles deram início citando o conceito de diagnóstico participativo, que é a realização de um diagnóstico em um território que visa conhecê-lo em profundidade, de maneira a problematizar as principais dimensões de sua realidade social. Ainda de acordo com eles, o conceito de diagnóstico participativo comunitário amplifica suas possibilidades na medida em que pressupõem que seja realizado em um contexto complexo e dinâmico, como são as comunidades, contando para tal com a participação efetiva dos atores sociais envolvidos no processo dinâmico de investigação social.

O grupo trabalhou questões como sedentarismo, prática de atividade física, diagnóstico participativo, grupos focais, pautas de vida, determinantes sociais de saúde, cenário, escuta, diferenças, iniquidades e participação social para debater quais recursos metodológicos podem contribuir para promover o diálogo dos determinantes sociais de saúde com as pautas de vida. "Os recursos metodológicos são encaminhamentos que podem favorecer a construção de linhas de ações e planejamento didático oferecendo orientações, sem, entretanto, estabelecer regras fixas a serem seguidas", explicou o grupo. Ainda de acordo com o grupo, esse movimento de reorganização tecnológica do trabalho em saúde quer compreender como se dão as complexas relações entre homem e o seu espaço/território de vida e trabalho, sendo fundamental para a identificação de suas características históricas, econômicas, culturais, epidemiológicas e sociais, bem como de seus problemas (vulnerabilidades) e potencialidades.

A partir dos conceitos apontados pelo grupo na apresentação, foi apresentado seu primeiro relato de prática, sobre um senhor que tinha três filhos. Ele e a família eram assíduos participantes da comunidade religiosa Testemunhas de Jeová na cidade de Juiz de Fora. Um dia, a filha mais nova, com 7 anos, sentiu-se mal, e o pai a levou para o hospital. Ao chegar, a equipe médica já percebeu que a criança estava bem pálida, muito magra e era bem pequena para a idade. Relatava fortes dores de cabeça e, segundo o pai, elas eram diárias. Após a avaliação médica e exames clínicos, foi diagnosticado que a menina tinha um tumor cerebral devido à má formação congênita, o que poderia ter sido diagnosticado mais cedo se os pais tivessem procurado ajuda médica. O médico de plantão chamou o pai da criança e explicou que ela precisava fazer uma cirurgia e precisaria receber transfusão sanguínea. O pai prontamente respondeu: "Prefiro ver minha filha morta, mais indo para o céu, do que tê-la viva e indo para o inferno". Ele assinou um termo de responsabilidade e tirou a filha do hospital, levando-a para a casa. Ao deixar o hospital, disse aos médicos: "Se a minha filha tiver de ser curada será Deus que fará, e não vocês."

Diante desta situação, o grupo apontou que "cultura é uma manifestação coletiva que reúne heranças do passado, modos de ser do presente e aspirações, isto é, o delineamento do futuro desejado. Por isso mesmo tem de ser genuína, isto é, resultar das relações profundas do homem com seu meio, sendo, por isso, o grande cimento que defende as sociedades locais, regionais e nacionais contra as ameaças de deformação ou dissolução de que possam ser vítimas". O grupo Relaxa abordou ainda como mediar os conflitos entre as práticas de saúde e as diferentes culturas e crenças religiosas. Segundo ele, cuidar vai muito além de impor aquilo que acreditamos como sendo o mais correto. Mediar práticas de saúde com as diferentes culturas e crenças religiosas não é um fim em si mesmo, requer esforço profissional em ultrapassar barreiras, muitas vezes religiosas, para entender qual o significado que as crenças têm na vida das pessoas e considerar a interferência das diferentes culturas.

A segunda situação problema abordada pelo grupo foram Os desafios de uma equipe frente ao envelhecimento. Eles iniciaram destacando que "os idosos se tornaram descartáveis em um sistema que valoriza a capacidade produtiva em detrimento de outras habilidades do ser humano". Foram abordados conceitos como problemas sociais, atendimento fragmentado, integralidade, política do idoso, acesso, articulação de ações, programas focalizados, estatuto do idoso, redes de demanda, vínculo, ouvir e escutar, espaço para o envelhecimento saudável e participação social. O grupo levantou a questão de como promover a integralidade do cuidado à população idosa no cotidiano das práticas de saúde e finalizou afirmando que relações baseadas no acolhimento - vínculo e escuta - devem levar em consideração que não é possível humanizar as práticas de saúde se não se partir do pressuposto de que a resposta diferentes necessidades de saúde é o fundamento de qualquer proposta de inclusão emancipatória dos sujeitos nas políticas e ações de saúde.

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