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Abertura do Epi2011 lota auditório em São Paulo

Isabela Schincariol

"Dentre todos os lugares do mundo, o Brasil foi o único país com mais de 100 milhões de habitantes que assumiu o desafio de construir um sistema de saúde nacional, público e gratuito para toda a sua população", declarou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, durante a cerimônia de abertura do VIII Congresso Brasileiro de Epidemiologia. Ele afirmou, ainda, que vivemos um momento de grandes desafios, como o rápido envelhecimento da população e a epidemia de crack, o elevado número de morte de jovens, principalmente negros, e o alto índice de acidentes de trânsito. Sobre a economia, Padilha ressaltou que nenhum país do mundo enriqueceu sem ter a saúde como centro de seu projeto econômico de desenvolvimento. Também presente na mesa de abertura, o presidente da Associação Brasileira de Pós-Graduação (Abrasco), Luiz Augusto Facchini, foi aplaudido quando afirmou que não basta mais evidenciar que o SUS é bom para os pobres: "Sem um sistema público realmente único e qualificado o Brasil não se tornará rico, mas, sim, um país desigual."

Intitulada As contribuições da epidemiologia para a construção do SUS, a conferência de abertura foi realizada em 13 de novembro, em São Paulo, e contou com a presença de mais de dois mil participantes e muitas autoridades de Estado e representantes da sociedade civil. Além de Padilha e Facchini, a mesa foi composta pelo secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa da Silva Junior, pelo presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, pelo presidente do VIII Congresso da Abrasco, José Cássio de Moraes, entre outros nomes. O evento, que se encerra nesta quarta-feira (16/11), contou com cursos, oficinas, cinco conferências, nove mesas-redondas, 51 painéis, 16 debates, 35 palestras, três sessões especiais, 109 comunicações coordenadas, 3.030 pôsteres e mais de 20 lançamentos editoriais.

Saúde no centro do desenvolvimento social e obsessão pela qualidade são metas

Segundo Padilha, um sistema que interna cerca de um milhão de pessoas por mês, realiza mais de 30 milhões de procedimentos oncológicos por ano, tem o maior programa de atenção primária do mundo - com quase 100 milhões de pessoas assistidas - e um dos maiores programas de imunização, com 96% da produção nacional de vacina, só foi possível devido aos espaços de produção de pesquisa acadêmica e um forte movimento político, intelectual e teórico iniciado no final da década de 1980 no interior das instituições de ensino e pesquisa do país.

O ministro afirmou que o Brasil percorreu novos caminhos nos últimos anos e que as direções assumidas ampliaram o direito à saúde; porém, o direito continua muito desigual. "Nos últimos 23 anos, o país tirou 40 milhões de pessoas da miséria e ajudou a reduzir uma série de doenças, patologias e agravos diretamente relacionados à fome e à pobreza. Reduziu 46% da mortalidade por doenças cardiovasculares e 22% da mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis. No entanto, não alcançamos redução significativa em relação ao câncer, principalmente pela incapacidade do SUS de diagnosticar precocemente, tratar adequadamente e acompanhar o processo de reabilitação do doente. A maneira como nosso ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem lidado com a sua doença pode nos ajudar, pois lança uma luz no problema, ampliando o debate e contribuindo, assim, com a sensibilização e com a redução do estigma e do preconceito que ainda envolvem a doença", alertou Padilha.

Para o ministro, além do câncer, o país precisa travar uma grande luta contra a epidemia do crack e contra as causas das elevadíssimas taxas de acidentes de trânsito. "Pela primeira vez, ultrapassou-se em mais de 40 mil o número de óbitos decorrentes de acidentes de carro e de moto. Ao todo, foram mais de 145 mil internações. Além disso, estamos cientes do problema que teremos que enfrentar por sermos o país com maior taxa de envelhecimento dos últimos dez anos em todo o mundo. Todas essas questões exigem um rearranjo do sistema de saúde e das políticas. Muitas dessas políticas universais não tratam de maneira diferente a quem precisa, não impõem a equidade no centro do planejamento e reforçam ainda mais as desigualdades. Portanto, devemos investir cada vez mais nos agravos que levam ao risco e também construir redes de maneira diferente", disse Padilha.

Ele disse, ainda, já ter ganhos na área, como a tentativa de transformar em lei a medida provisória de restrição absoluta do consumo de cigarros em ambientes fechados em nosso país. Também falou sobre a implementação das Academias da Saúde, que já apresentam aumento da prática de atividade física entre a população atendida e a redução do uso de medicações permanentes, anti-inflamatórios, antidepressivos e outros.

Para ele, a busca pela conquista do direito à saúde não é mais tema exclusivo dessa área, pois grande parte da oportunidade de desenvolvimento econômico e social brasileiro está depositada na sua própria capacidade de transformar o tema "saúde" em um tema central de esforços, tendo a "qualidade em saúde" como verdadeira obsessão nesse processo de transformação. O Ministério conta com uma força de trabalho de 12 milhões de profissionais de saúde para mudar a realidade do nosso país.

O ministro anunciou que o ano de 2011 será marcado pela menor taxa de casos de malária dos últimos 25 anos no país - a menor taxa de toda a história recente do país. "É preciso assimilar que tudo mudou. Com as pesquisas realizadas, também entendemos os riscos possíveis da influenza. Este ano também tivemos redução de 86% do número de internações e óbitos quando comparados com as taxas do ano passado, basicamente pela adoção de vacinas e antigripais. Além disso, o Brasil conviveu muitos anos com a epidemia da dengue e, apesar de termos reduzido em 40% os casos graves e em 25% o número de óbitos, precisamos nos preparar para os próximos seis meses, ou vamos continuar convivendo com a possibilidade de epidemias.

Abrasco: mudanças fortalecerão o campo da saúde coletiva

Durante a cerimônia, Facchini anunciou oficialmente a incorporação efetiva dos cursos de graduação em saúde coletiva à Abrasco, que continua usando a mesma sigla, porém agora com nova denominação: Associação Brasileira em Saúde Coletiva. "Isso nos dá muita honra e orgulho, pois nossa histórica entidade de caráter científico deverá permanecer inalterada, superando o temor de muitos, pois, ao contrário das suposições, fortaleceremos o campo da saúde coletiva e a capacidade científica do mais alto nível em nosso país", assegurou ele. A Associação foi criada em 1979, com cinco programas de pós-graduação, e hoje já conta com 54 programas em atividade. Em 2007, foram criados cursos de graduação em saúde coletiva e eles começaram a atuar no âmbito da Abrasco porque boa parte deles está vinculada a instituições que já tinham programas de pós-graduação e docentes que eram associados à Abrasco.

Para Facchini, "essa convergência foi bastante natural. Em 2010 criamos o Fórum de Graduação em Saúde Coletiva, mas a mudança no estatuto só veio agora, com o nome e a permissão da associar estudantes de graduação. Somos, então, uma grande comunidade no âmbito da saúde coletiva no Brasil. E temos a expectativa de até 2012 termos 20 cursos de graduação em saúde coletiva em atividade no país. Vale a pena enfatizar que continuamos sendo uma entidade de saúde coletiva multiprofissional, multidisciplinar, não governamental, não sindical, não corporativa e com ênfase no compromisso da ciência com os interesses da população para o desenvolvimento do país", ressaltou.

O presidente da Abrasco disse, ainda, que a presença do ministro nesse evento fomenta o diálogo com a comunidade científica. "Entendemos a saúde como desenvolvimento. Portanto, ela precisa ocupar posição central nas políticas econômicas e sociais do nosso país. Somente assim será possível alcançarmos plenamente os propósitos dos fundamentos do SUS". Facchini falou ainda do reconhecimento nacional e internacional da produção brasileira de conhecimento no campo da saúde coletiva e das políticas de saúde. Ele também destacou o ciclo virtuoso de crescimento econômico e desenvolvimento social vivido pelo Brasil e afirmou que a saúde precisa ocupar lugar central na agenda política do país.

"Hoje, dispomos de todos os meios políticos, técnicos, financeiros e científicos para alcançarmos as transformações do projeto da reforma sanitária brasileira. É preciso concentrar esforços, pois não queremos um sistema que seja universal na alta e baixa complexidade, entregando aos planos de saúde e empreendimentos privados a média complexidade. Queremos um SUS inteiro, complexo e sem 'apartheid sanitário'. Nesse contexto, o subfinanciamento do SUS é injustificável. Não basta mais evidenciar que o SUS é bom para os pobres, pois sem um sistema público realmente único e qualificado o Brasil não se tornará rico, mas sim um país desigual", concluiu Facchini, sob fortes aplausos da plateia.

Em seu discurso, José Cássio de Moraes comentou que a realização desse VIII Congresso evidencia a brilhante trajetória da epidemiologia brasileira no cenário nacional e internacional e lembrou que nos últimos anos houve expressivo aumento do número de grupos e linhas de pesquisa epidemiológicas no país, acompanhado da desconcentração geográfica dos pesquisadores e incremento dos cursos de pós-graduação, tanto acadêmicos quanto profissionais. Segundo ele, o crescimento da epidemiologia também pode ser conferido no aumento da produção científica e na elevação do prestígio das revistas científicas em nosso campo. Ele concluiu dizendo que o tema desse congresso olhou para o futuro, sem esquecer as doenças transmissíveis e negligenciadas que ainda fazem parte do nosso cotidiano".

Crédito foto: Juana Portugal/ Abrasco

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