Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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Política em saúde é tema de livro e site colaborativos

Com o objetivo de entender melhor como se dão as construções políticas no Brasil e compartilhar diferentes visões, será lançado o site Análise de Políticas na Saúde na terça-feira (8/11), às 14h, no auditório do Instituto de Medicina Social (IMS) da Uerj. Este espaço, que visa ser prioritariamente um ambiente de interação, colaboração e participação, é coordenado pela pesquisadora Tatiana Wargas de Faria Baptista (Daps/ENSP) e pelo professor do Instituto de Medicina Social da Uerj (IMS) Ruben Araujo de Mattos. Para o lançamento, foi programado um debate aberto ao público com os dois coordenadores e outros autores que trabalham no projeto Construindo Caminhos para a Análise de Políticas de Saúde. De acordo com Tatiana, todo o material disponível na página eletrônica foi desenvolvido de maneira coletiva. Além do site, o projeto conta ainda com a elaboração de um livro digital e público.

A antiga parceria iniciada em 2005 entre Tatiana e Ruben se tornou oficial em 2009, quando foi submetido e aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) um projeto para elaboração de material didático para formação em pesquisa. A proposta do projeto surgiu dos alunos e vinha ao encontro da necessidade há muito sentida pelos professores Ruben e Tatiana no processo de formação e pesquisa em saúde. Em seu trabalho, Tatiana sempre considerou a orientação de alunos de pós-graduação na área de análise de políticas de saúde como um desafio. "Esta é minha linha de pesquisa, porém é sempre um desafio, pois, apesar de termos muitos materiais disponíveis que abordam metodologias de pesquisa e referenciais teóricos sobre análise de políticas, temos uma questão bastante específica que é a nossa política de saúde. Nunca foi tarefa fácil encontrar referenciais que respondessem às nossas expectativas, que falassem proximamente dos obstáculos que encontramos quando analisamos os bastidores de construção da nossa política", apontou ela.

A inquietude em tentar desvendar como fazer análise de política, como falar disso no âmbito brasileiro e como sair do ciclo de reprodução de análise baseada em modelos estrangeiros levou esse grupo - composto de inúmeros pesquisadores provenientes de diferentes instituições - a se reunir em torno do tema e desenvolver um projeto na busca pela compreensão da construção política em seu sentido amplo. "A demanda desse debate mais profundo e qualificado partiu principalmente de alunos e outros pesquisadores que acompanhavam nosso trabalho, meu e do Ruben, em disciplinas que ofertávamos juntos. A última disciplina foi sobre As políticas do Ministério da Saúde que buscam transformar práticas, analisando a política de humanização e a política de educação permanente. Assim, conseguimos despertar interesses e reunir muitas pessoas nessa discussão. Entre eles estão pesquisadores e alunos da ENSP, do IMS, da Escola Politécnica em Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Ministério da Saúde e outros."

Ideia sempre foi construir projeto em espaço colaborativo

A ideia original sempre foi construir o projeto de maneira que ele pudesse ser um espaço colaborativo. E, de acordo com Tatiana, sua estrutura foi ganhando forma no decorrer do processo de trabalho. "Ele tem espaço para comentários, mas infelizmente ainda não é tão colaborativo quanto gostaríamos. O que buscamos é instigar um olhar mais crítico e aguçado sobre as nossas análises de políticas. Partimos de uma perspectiva de ciência construcionista em que assumimos que nossas análises são narrativas construídas a partir dos próprios referenciais e escolhas, e refutamos a ideia de uma verdade universal. Portanto, aceitamos que existe uma realidade a ser descoberta, uma outra realidade política", argumenta a pesquisadora.

Tatiana continuou defendendo que, neste projeto, não se restringe a noção de política às políticas governamentais. A proposta não é olhar para as políticas públicas como construções de Estados restritas ao âmbito governamental, mas construções que refletem a interação com os sujeitos, com os diferentes grupos sociais. "Sabemos que muitas vezes as políticas não ganham expressão em textos legais e oficiais. E ainda existem as políticas das instituições que se concretizam na prática cotidiana das instituições, que passam pelo texto legal, mas não se concretizam como tal. Essas são as regras não ditas, e também queremos trabalhá-las, conhecê-las. Também queremos explorar o não dito", desafiou.

A construção dos materiais é compartilhada e conversada com os integrantes do grupo - que hoje são oficialmente 13 integrantes - durante as oficinas de trabalho realizadas sistematicamente. Porém, além deles, também participam outros convidados que apresentam diferentes enfoques e pontos de vista. Os temas e propostas são apresentados e discutidos todos, pois, segundo Tatiana, é muito relevante ter esse olhar diferenciado.

Para ela, outro ponto muito interessante do projeto e que vem se desenvolvendo bem é a área chamada Caminhos da Pesquisa (parte 3). "Usamos esse espaço para contar a história das escolhas metodológicas de trabalhos desenvolvidos. Aqui algumas pessoas falam um pouco sobre o caminho percorrido, desde a escolha do tema até a decisão por uma técnica ou outra. Temos vivenciado uma situação preocupante em que as pessoas primeiro escolhem a técnica que irão utilizar para depois decidirem sobre o seu objeto de estudo quando o caminho deveria ser inverso. Trocando esse tipo de experiência, acreditamos que ajudamos os interessados a fazerem suas próprias escolhas e decidirem o melhor caminho a seguir. Para essa área temos a pretensão de desenvolver pequenas entrevistas em vídeos sobre a experiência de quem já passou por esse processo. O que queremos mostrar é o caminho reflexivo sobre a metodologia utilizada. Para tanto, pedimos que os entrevistados explorem as escolhas que fizeram, os limites dos seus estudos, digam o porquê de determinada escolha e outros. Apesar de ser muito interessante e inovador, este é um trabalho difícil, pois somos moldados na academia a falar da metodologia de forma muito teórica", contou.

Textos do site também estão no livro digital

Hoje, todos os textos disponíveis no site também estão no livro digital Caminhos para a análise de políticas na saúde. E, em todos os textos, foram disponibilizados hiperlinks e boxes de ajuda para a leitura, que são bastante explicativos e auxiliam a compreensão do texto enriquecendo o aprendizado. Dentro do site, os boxes estão divididos pelos capítulos do livro e abordam temas como Sobre o sentido da expressão senso comum; O problema da escolha do que ler; Algumas definições de políticas públicas; A agenda internacional e políticas nacionais, entre outros. "Os boxes ainda não estão disponíveis em todos os textos, e algumas áreas ainda estão passando por revisão. Mas esse é um processo de construção contínua. E, além disso, todos os autores, de alguma forma, foram envolvidos na construção do conteúdo do site, pois todos os textos passaram por discussão coletiva", explicou ela.

Tatiana disse ainda que a proposta do livro digital é ser sempre um livro público. Ele já está sendo pensado em formato impresso, e sua publicação está prevista para o final do ano de 2012. Um dos pontos-chave de negociação com a editora que fará sua impressão é que o livro fique disponível em formato digital para que qualquer pessoa interessada possa baixá-lo. Outro desdobramento possível é o desenvolvimento de um e-book - livro em formato digital que pode ser lido em equipamentos eletrônicos, como computador, leitor de livros digitais ou até mesmo celulares que suportem esse recurso. A diferença é que, além do texto, ele tenha a mesma interatividade do site, com acesso aos boxes, aos hiperlinks, que já fazem parte do conteúdo disponível no site.

Para finalizar, Tatiana falou de outras ferramentas disponíveis na página, como a área Vídeos, em que se pretende disponibilizar a gravação das oficinas e encontros realizados, e a área Síntese, na qual haverá documentos, apresentações de aulas, textos complementares, resenhas, entre outros. Além disso, o site pretende, com autorização, disponibilizar textos raros que são importantes para análises de políticas em geral; e também oferecer poemas na área intitulada Provérbios e Cantares. Tatiana contou que muito autores do site também escrevem poesias. Ela, por exemplo, já escreveu uma chamada Política, que, em breve, estará disponível no site. A ideia é que cada texto seja acompanhado de um poema.

*O IMS está localizado no Pavilhão João Lyra Filho, 7º andar. Rua São Francisco Xavier 524.

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