Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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Economia verde é desafio para governos globais

Antonio Fuchs

A busca por um novo modelo econômico de baixo carbono, baseado no melhor aproveitamento dos recursos naturais, é o que se chama de economia verde. Foi abordando a importância deste processo que o sociólogo e cientista político Sérgio Abranches deu início às comemorações dos 57 anos da ENSP. Convidado para a conferência Rio+20: desenvolvimento sustentável, economia verde e erradicação da pobreza, o expositor ressaltou que os governos globais devem construir uma economia de baixo carbono para o século XXI, adotando um modelo econômico e social diferente do vivenciado ao longo do século XX.

Sérgio Abranches partiu da premissa que a humanidade não cria problemas que não esteja preparada para resolver, uma vez que os meios para se conseguir isso estão disponíveis para todos. Segundo o sociólogo, vivemos o processo de duas grandes mudanças globais: a climática - que envolve a capacidade do homem para mudar a biodiversidade do planeta - e a científico-tecnológica e social - que mostra que o estilo de vida ordenado no século XX está esgotado -, podendo esta ser sentida pela crise no capitalismo atual e vivida pelas grandes potências. "Todos os grandes eventos ocorridos no século passado estão ligados ao mundo social, ao político ou ao mundo econômico. Agora é diferente. A História está mostrando outro tipo de relacionamento. Vivemos na era do controle do homem sobre a natureza", destacou.

"Nós fracassamos em imaginar que seríamos capazes de controlar a natureza, sem pensar que ela nos sobrepujaria. Temos de nos valer das aplicações da ciência e da tecnologia para adaptar a sociedade de hoje às mudanças climáticas vividas", afirmou. Na opinião do sociólogo, não existe uma vontade política dos países para acabar com os problemas resultantes das mudanças climáticas, já que isso afeta diretamente o estilo de vida atual. O expositor lembra que a construção de uma sociedade sustentável jamais virá de cima para baixo. As cidades e estados sustentáveis primeiro deverão se transformar num padrão nacional, valendo-se de ações dos governantes locais e da sociedade civil, para então, no futuro, virarem um amplo modelo de sustentabilidade.

Mas como mudar o estilo de vida de bilhões de pessoas? Sérgio Abranches disse que não adianta apenas os países aumentarem suas economias para obter uma vida sustentável. Prova disso é que o modelo econômico vigente no século XX, que tinha por objetivo a busca pela expansão da riqueza, não reduziu a pobreza nos países, como também todo o avanço tecnológico não evitou as crises ambientais de hoje. "Desenvolvimento sustentável não é o crescimento ininterrupto do PIB de um país. É, sim, uma economia verde de baixo carbono agregada a uma pegada ambiental mínima", ressaltou.

"A busca por essa economia verde tem de passar pela substituição quase que integral de toda a logística energética do mundo. Quem perde com isso? As indústrias petrolíferas e de siderurgia. Quem ganha? As energias renováveis e os novos materiais. Isso acarretará a geração de empregos de melhor qualidade e remuneração, associada à maior flexibilização para o trabalhador, resultando no aprimoramento do bem-estar para a sociedade", enfatizou Abranches. Para se chegar a esse modelo sustentável, é necessário que haja maior globalização da ciência e do conhecimento, algo pouco explorado no Brasil. "Precisamos, cada vez mais, de investimentos em pesquisas, tanto no setor público quanto no privado. Estamos atrasados na busca por essa economia verde e pela economia limpa, oriundas de novas tecnologias", disse.

Dando ênfase à sua análise, Abranches apresentou quatro questões ambientais que mostram o descaso brasileiro ao meio ambiente. São elas: energia, água, ar e resíduos. O sociólogo lembrou que o país conta com uma política energética pouco sustentável, com alto desperdício e poluição da água, má gestão de resíduos, além de viver uma logística de alto carbono. E afirmou: "Isso é resultado do baixo investimento em educação e em ciência e tecnologia. Não dá mais para esperar. Tanto os governantes como a sociedade precisam se conscientizar para mudar isso."

Sobre a Conferência Rio+20, que acontecerá em 2012, no Rio de Janeiro, Sérgio Abranches se disse cético quanto aos resultados finais do encontro, pois os governos participantes estão com uma visão errônea da conferência, principalmente o brasileiro. Isso se justifica pelo fato de o foco estar voltado para o econômico, sem se preocupar com o meio ambiente. "Temos de aproveitar a Rio+20 para rediscutir a atuação do movimento ambientalista, para que ele coloque 'maior pressão' nos governos locais em prol de medidas que tenham por objetivo a governança global em um mundo ecologicamente verde", concluiu.

Dirigentes abrem as comemorações da ENSP

A solenidade de abertura do aniversário de 57 anos da ENSP reuniu, além do cientista político e sociólogo Sérgio Abranches, o diretor da Escola, Antônio Ivo de Carvalho, e o vice-presidente de Gestão e Desenvolvimento Institucional da Fiocruz, Pedro Barbosa. Abrindo o evento, Antônio Ivo destacou que "o desafio da saúde envolve uma agenda pública bem mais ampla nos dias de hoje. Por isso, a ENSP busca sempre debater temas relevantes durante a semana de comemorações, com a intenção de continuar fazendo a boa governança da saúde para a sociedade".

O diretor traçou um breve panorama de atuação da Escola, passando pelos números dos cursos lato sensu e stricto sensu; a importância da Escola de Governo para a formação de quadros, produção de conhecimento e apoio técnico não só para o SUS, mas também para outras áreas do governo. Mencionou o envolvimento da ENSP em diversas Redes, tais como a Unasul Saúde, a UNA-SUS e as Escolas e Centros Formadores em Saúde, além da atual gestão da iniciativa Teias-Escola Manguinhos, em que cuida da gestão da atenção primária para mais de 50 mil moradores da região. "Vivemos uma Escola para a saúde, ciência e cidadania, equilibrando todos esses compromissos para uma sociedade melhor", afirmou.

O diretor informou ainda que irá formar um grupo institucional que deverá conduzir o processo de reflexão na ENSP a respeito da Rio+20, com vistas a subsidiar as discussões com a Fiocruz e o governo brasileiro sobre temas relevantes para a conferência.

Já o vice-presidente Pedro Barbosa ressaltou que a Escola cumpre seu papel de não se intimidar com os limites e desafios na busca por melhor qualidade de vida para a sociedade, inovando com suas pesquisas e procurando fazer do processo de Reforma Sanitária um processo civilizatório para todos, como sempre destacou o sanitarista Sergio Arouca, patrono da instituição.

Confira, na Biblioteca Multimídia da ENSP, o áudio de Antônio Ivo e Pedro Barbosa.

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