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Grupo avalia bactérias resistentes ao mercúrio

Tatiane Vargas

Utilizar bactérias nativas resistentes para tratar a contaminação por mercúrio é o principal objetivo da linha de pesquisa Estudo de Bactérias resistentes ao mercúrio em ecossistemas aquáticos brasileiros, coordenada pelo chefe do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental da ENSP, Paulo Barrocas. Esta linha de pesquisa vem sendo estudada desde 2006 e, neste período, foi contemplada por três editais de pesquisa, dentre eles o Programa Estratégico de Pesquisa em Saúde (Papes IV e V) e o Edital Universal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Em julho deste ano, foram apresentados os últimos resultados da pesquisa no maior congresso mundial sobre o mercúrio, o 10th International Conference on Mercury as a Global Pollutant, realizado em Halifax, Canadá.

Esta linha de pesquisa conta também com a colaboração das alunas do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da ENSP, Ana Claudia Santiago de Vasconcellos, Sheila da Silva Duque e Adriana de Lima Almeida Bezerra, de bolsistas de iniciação científica, além de pesquisadores de outros departamentos da ENSP, como o Departamento de Ciências Biológicas, o Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP) e o Departamento de Endemias Samuel Pessoa, bem como de duas unidades da Fiocruz, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS).

O grupo de pesquisa vem participando das sucessivas edições do International Conference on Mercury as a Global Pollutant, realizado a cada dois anos, quando se reúnem especialistas do mundo inteiro que trabalham com mercúrio. "Nesse evento, estão presentes os maiores especialistas no assunto abordando os diferentes aspectos da poluição por mercúrio, como a toxicologia e a contaminação humana pelo mercúrio, os seus ciclos atmosférico e hidrogeoquímico, impactos das mudanças climáticas na poluição do mercúrio, desenvolvimentos de novos métodos analíticos e políticas para substituição do uso do mercúrio, ou seja, todos os aspectos relacionados à poluição por mercúrio", afirmou Paulo Barrocas.

Segundo ele, no Brasil a contaminação por mercúrio está relacionada à questão da extração de ouro e também de outras atividades industriais que utilizam mercúrio em seus processos produtivos, como, por exemplo, lâmpadas fluorescentes, termômetros, barômetros, entre outros. O coordenador do grupo ressaltou a importância da participação em congressos internacionais, como o deste ano no Canadá e o de 2009 na China, para conhecer os últimos desenvolvimentos na área, e também apresentar os resultados dos estudos realizados no Brasil.

A doutoranda Ana Claudia Santiago de Vasconcellos, que participa da pesquisa desde a graduação, como bolsista de iniciação científica, posteriormente no mestrado e agora dando continuidade ao estudo no doutorado, representou o grupo no congresso no Canadá. Durante o evento, ela fez uma apresentação oral e ainda expôs três pôsteres.

Ana Claudia apontou a gravidade da questão da poluição por mercúrio, classificado como um poluente global. Mesmo distante de qualquer fonte de contaminação, é possível achar a substância, pois ele possui transporte atmosférico global e está presente em toda a biosfera. A aluna explicou que a ideia dos estudos desenvolvidos pelo grupo de pesquisa é isolar bactérias resistentes ao mercúrio e utilizá-las para tratar a contaminação pela substância, removendo-a de efluentes e recuperando-a na forma metálica. "Em minha dissertação de mestrado, medi a capacidade dessas bactérias de remover o mercúrio da solução, e o resultado que obtive foi de aproximadamente 70% da concentração inicial em quatro horas, um resultado muito significativo. No doutorado, a ideia é utilizar os dados do mestrado para criar um biorreator que possibilite a remoção contínua de mercúrio das soluções", explicou a doutoranda.

Apresentado em sessão oral no congresso, o trabalho da aluna de doutorado Sheila da Silva Duque aborda a diversidade genética do gene que dá resistência às bactérias ao mercúrio. Segundo, Ana Claudia, responsável pela apresentação do estudo, Sheila está realizando atualmente a análise do sequenciamento, o DNA das bactérias isoladas. Ana Claudia destacou que, durante o período de desenvolvimento dos estudos do grupo, foram acumuladas mais de 400 cepas de bactérias de todas as regiões do Brasil. Segundo ela, o objetivo de ter bactérias de todas as regiões brasileiras é possuir exemplos de todos os tipos de biodiversidade que há no país.

"Coletamos bactérias de todos os tipos de ambiente, estando eles contaminados ou não, já que o mercúrio é um poluente com abrangência global que se encontra em todos os locais. Assim, estamos testando também outra hipótese do estudo, que é encontrar bactérias resistentes em todos os locais, mesmo aqueles que não tenham nenhuma fonte direta de mercúrio. Outro trabalho apresentado no formato de pôster no congresso foi o da aluna de mestrado, Adriana de Lima Almeida Bezerra, que abordou a análise da atividade da enzima responsável pela remoção do mercúrio das soluções. O terceiro pôster tratou da contaminação por mercúrio em regiões costeiras tropicais, fruto de uma cooperação do grupo com pesquisadores de outras instituições brasileiras e internacionais. Este estudo, coordenado pela professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Mônica Ferreira da Costa, irá gerar a publicação de um número especial da revista Environmental Research, em 2012.

Na opinião de Ana Claudia, a participação no congresso foi fundamental para a troca de experiências com pesquisadores de ponta. "Estamos realizando a coleta de bactérias em muitos ambientes. Participando deste congresso, podemos mostrar o nosso trabalho com bactérias brasileiras para pesquisadores de todo o mundo", ressaltou.

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