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Rio de Janeiro é o primeiro munícipio a arriscar definição de areia limpa

"Quando trabalhamos com análise de risco à saúde, outros elementos, além de níveis colimétricos, devem ser considerados", destacou a pesquisadora Adriana Sotero, do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental (DSSA/ENSP), à revista Terra, do jornal O Globo, publicada no dia 22 de fevereiro. Segundo a especialista, não existe um padrão nacional para definir "areia limpa", e o Rio de Janeiro é o primeiro município brasileiro a arriscar uma definição.

Leia, abaixo, a matéria na íntegra:

Revista Terra (jornal O Globo)

Verão é o período que mais inspira cuidados

Não existe um padrão nacional para definir "areia limpa". O Rio foi o primeiro município brasileiro a arriscar uma definição. Seguindo uma recomendação do Conselho Nacional de Meio Ambiente, a Prefeitura instituiu, em 2000, uma resolução determinando qual seria a densidade máxima de coliformes totais toleráveis na areia.

A iniciativa, assinada pela Secretaria municipal de Meio Ambiente (Smac), deveria ser revisada em dois anos, quando passaria a considerar, também, a presença de parasitas. A nova resolução, no entanto, só foi divulgada no ano passado. E, assim como a versão original, também ignorou a presença de fungos, vermes e que tais.

- A secretaria foi de vanguarda ao lançar uma legislação específica que trata sobre a areia, mas ainda há muito o que melhorar - alerta Adriana Sotero, pesquisadora do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fiocruz. - Quando trabalhamos com análise de risco à saúde, outros elementos, além de níveis colimétricos, devem ser considerados.

Em vez de expandir o levantamento, a Prefeitura - junto à uma empresa terceirizada, contratada para medição da qualidade da areia -, restringiu-o e, teoricamente, facilitou a classificação da areia de uma praia como "limpa". Na resolução de 2000, todos os grupos de coliformes fecais colhidos numa amostragem eram analisados. Agora, estuda-se apenas a densidade de uma espécie - a bactéria Escherichia coli, associada a fezes de animais, como cães, pombos e ratos. Sua ingestão causa intoxicações alimentares.

A medição, além disso, também admite uma presença bem maior da E. coli. Em 2000, sua densidade máxima poderia ser de 400 NMP/100g (leia-se: 400 números mais prováveis por 100 gramas de amostra). Dez anos depois, este índice tolerado pulou para 3.800 NMP/100g.

Gerente de monitoramento de água e ambientes costeiros da Smac, Vera Lúcia de Oliveira não descarta que o órgão pode ter ficado mais "benevolente" com a poluição na areia.

Pode até ser que isso tenha acontecido. Se foi assim, é porque, antes, estávamos restritivos demais - assinala. - Já acumulávamos quatro anos de monitoramento da areia. Passamos esses dados para uma empresa, que foi a responsável por instituir os novos índices estatísticos. Quando foi decidido que consideraríamos apenas uma espécie, avaliamos que seria possível instituir um aumento na frequência com que ela aparece.

Para que o estudo possa detectar o mais fielmente possível as transformações da praia, o ponto de coleta da areia é sempre o mesmo. Os fiscais da prefeitura chegam ao local por aparelho GPS, traçam um retângulo de dois metros quadrados em volta e retiram uma amostragem de cada vértice, além de outra do meio.

A classificação, embora cercada de cuidados, não traz muitas surpresas. As praias voltadas para a Baía de Guanabara têm, invariavelmente, pior resultado do que as oceânicas. A areia costuma ser mais limpa na Zona Oeste, especialmente em Grumari, Prainha e Reserva. Na outra ponta - do ranking e da cidade -, as ilhas de Paquetá e do Governador são os endereços onde a poluição da areia é mais crítica. Na orla da Baía, de acordo com pesquisadores, a água fica mais represada. São regiões até alcançadas por correntes, embora elas contem com uma intensidade muito menor do que a vista nas praias oceânicas.

As praias de Baía têm uma faixa de areia muito estreita, que sofre ainda mais com a chegada do lixo que boia na água - explica Vera. - A classificação das praias pode variar, de acordo com o modo e a frequência de sua utilização. A Praia de Ramos, por exemplo, quase não recebe banhistas. Por isso, embora seja voltada para a Baía de Guanabara, sua areia costuma ser limpa.

O estudo, porém, tem lá as suas zebras. A Praia do Diabo, a preferida dos cachorros e repleta de fezes, tem boas avaliações. O Leblon, próximo à Rua Visconde de Albuquerque, também costuma apresentar bons resultados, mesmo sendo vizinho de um canal que joga detritos na água. Segundo Vera, isso acontece porque a coleta da areia ocorre em uma faixa próxima à água, mas não banhada por ela; logo, os contaminantes existentes no mar não interferem nas medições da areia.

Além da Smac, a Fiocruz realiza um monitoramento independente de quatro praias - duas na Ilha do Governador, duas em Paquetá. Em três anos de trabalho, as condições sanitárias desses endereços praticamente não mudaram: a quantidade de coliformes, fungos e parasitas encontrada nas medições é sempre superior à tolerável.

Coordenadora da pesquisa, Adriana Sotero percebeu como a qualidade da areia depende de muitas influências.

A ligação de rede de esgoto clandestina à rede fluvial, o que o leva a desaguar na areia das praias, é um desses fatores - lembra. - A carga de lixo orgânico deixado pelos banhistas também é crítica, já que ela atrai animais, inclusive ratos, à noite. As fezes desses bichos podem contribuir com parasitas. Assim, aumenta-se o risco de transmissão de doenças e ainda damos oportunidades para o crescimento dos micro-organismos.

Segundo Adriana, a sujeira trazida pelo mar também pode contribuir com a baixa qualidade sanitária da areia, principalmente no período de marés.

Nas praias em que atua, a pesquisadora não registrou um período em que os índices de poluição sejam menores, em relação aos vistos no resto do ano. Ainda assim, ela acredita que o verão demande mais cautela dos banhistas.

Por ser período de férias escolares, trata-se da época em que as praias são mais frequentadas - destaca. - As crianças acabam mais sujeitas aos riscos, e este grupo, como os idosos, são os mais vulneráveis ao contato com agentes transmissores de doenças.

Não raro a qualidade da areia é pior que a da água - principalmente na faixa não banhada pelo mar. Sentar-se sobre uma canga e usar calçados neste trecho são, de acordo com Adriana, cuidados "altamente recomendados".

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