Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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Programa de Controle da Dengue em Manguinhos apresenta estratégias

Formado por um grupo de pesquisadores de diversas unidades da Fiocruz e por moradores de Manguinhos, o Programa de Controle da Dengue em Manguinhos (PCDM) atua nesse território desde a epidemia de 2008, promovendo ações baseadas numa relação dialógica entre diferentes saberes, conhecimentos, informações e técnicas, construindo estratégias que oferecem condições para uma sociedade com cidadania ativa e organizada.

Atualmente, o grupo desenvolve estratégias de monitoramento contínuo e controle do Aedes aegypti com moradores, baseando-se no conhecimento da bioecologia desse mosquito e do território no qual ele se reproduz, fazendo uso de armadilhas de oviposição (ovitrampas) e do Sistema de Informações Georrenferenciadas (SIG), este último, contando com suporte do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz)..

Por causa do forte calor e das chuvas de verão, que tendem a aumentar o risco de uma nova epidemia, os pesquisadores do programa têm desenvolvido ações de prevenção dentro do campus da Fundação e ao redor, com atividades nas escolas e alerta para o cuidado ao lidar com o lixo. Em entrevista ao Informe ENSP, os coordenadores do PCDM - que inclui integrantes da Assessoria de Cooperação Social e do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental da ENSP, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), da Cooperação Social da Presidência da Fiocruz, da União Ativista Defensora do Meio Ambiente (Uadema), do Núcleo de Apoio às Pesquisas em Vetores (Napve/IOC) e da Rede CCAP (Oscip situada em Manguinhos) - abordaram a importância da população no combate ao mosquito e falaram sobre as principais ações desenvolvidas pelo grupo.

Informe ENSP: Quais são as estratégias de mobilização social para controle e combate ao mosquito da dengue promovidas pelo PCDM?

Coordenação do PCDM:
As estratégias atualmente adotadas pelo PCDM são produtos das experiências que desenvolvemos desde 2008 e do diálogo estabelecido com diferentes interlocutores. A opção por ações contínuas voltadas para o controle da dengue resulta de um encontro que realizamos na ENSP em 2008, no qual moradores de Manguinhos e pesquisadores da Fiocruz discutiram a questão da dengue na região. Nesse sentido, apesar de reconhecermos que o verão é a estação em que fatores como o maior volume de chuvas e o aumento das temperaturas potencializam a proliferação do principal vetor da dengue, a nossa atuação ocorre durante todo o ano.

Em maio de 2010 realizamos um seminário e uma oficina, com apoio da Rede de Ações Integradas de Atenção à Saúde no Controle da Dengue (Rede Dengue Fiocruz) - que tem nos dado um apoio fundamantal -, e nesses eventos discutimos estratégias para o controle da dengue em 'territórios vulneráveis'. Daí resultou um Plano de Ação (junho 2010) em que nos baseamos para planejar as atividades em andamento.

Em setembro de 2010, lançamos um edital para a contratação de bolsistas, cujos perfis orientavam-se pela busca de moradores/estudantes. Assim, passamos a contar com cinco bolsistas - das quais quatro são moradoras de Manguinhos - que atuarão em escolas e unidades locais de saúde tanto na produção de informação sobre infestação pelo Aedes aegypti, quanto na difusão dessas e de outras informações relacionadas à doença.

Com o apoio dessas bolsistas desenvolveremos processos educativos a partir das unidades escolares e de saúde. As estratégias que fundamentarão tais processos serão definidas de acordo com as especificidades de cada um dos locais e dos seus respectivos públicos.

Informe ENSP: Quais são as ações do PCDM dentro do próprio campus da Fiocruz? E na comunidade, quais serão as áreas assistidas?

Coordenação do PCDM:
No campus da Fiocruz, junto com a Diretoria de Administração do Campus (Dirac/Fiocruz), o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), o Núcleo de Apoio às Pesquisas em Vetores (Napve) e a União Ativista Defensora do Meio Ambiente (Uadema) participamos do monitoramento contínuo da presença do Aedes aegypti em diferentes locais, utilizando armadilhas de oviposição ("ovitrampas"). Essa etapa do projeto - que se limita à implantação das armadilhas, coleta e identificação das paletas positivas, contagem dos ovos e, posteriormente, à emersão dessas paletas para identificação das espécies de Aedes coletadas no campus da Fiocruz - serve como treinamento para as bolsistas do PCDM atuarem em espaços estratégicos no território de Manguinhos.

Fazemos o monitoramento da presença do Ae. aegypti através das ovitrampas e da utilização de aspiradores movidos à bateria - método utilizado para capturar fêmeas de Ae. aegypti que estão ativas ou em repouso - em quatro locais em Manguinhos. São eles: Escola Municipal Maria de Cerqueira, Escola Municipal JK, Escola Municipal Ema Negrão, Escola Municipal Albino Souza Cruz e Clínica da Família Victor Valla. No Campus da Fiocruz atuamos no Centro de Saúde Escola da ENSP.

Informe ENSP: Por que a opção pelas unidades de saúde?

Coordenação do PCDM:
A opção pelas unidades de saúde decorre da possibilidade de elas concentrarem potenciais portadores do vírus dengue nos períodos epidêmicos. Por outro lado, sabemos que as escolas concentram considerável contingente infantil, portanto, sem resposta imunológica para os três tipos do vírus dengue que cocirculam no Rio de Janeiro.

Informe ENSP: Em relação às armadilhas, como funciona o procedimento de captura?

Coordenação do PCDM:
Utilizamos ovitrampas, que são armadilhas amplamente consolidadas no meio científico e compostas com recipientes de plástico preto e paletas de eucatex. No interior desses recipientes, coloca-se água e um pouco de feno, servindo de atrativo para os mosquitos. As paletas, que ficam fixadas na parte interna do recipiente, servem de base para a oviposição dos mosquitos. Semanalmente, as paletas são recolhidas, e os ovos das paletas positivas são contados e identificados com auxílio de estereomicroscópios. Tal procedimento serve para nos fornecer indicadores de infestação pelo vetor do dengue e também para detectarmos as áreas que possuem a presença do Ae. Aegypti. Com os dados produzidos num determinado espaço é possível produzir mapas de infestação e, desse modo, orientar ações voltadas para o controle e prevenção do vetor nesse ambiente.

Uma vez constatada a infestação pelo vetor do dengue nos locais onde o projeto se realiza, serão utilizados aspiradores movidos à bateria com o propósito de obtermos indicadores de mosquitos adultos. Posteriormente, serão produzidos informes/alertas para levar ao conhecimento dos usuários e dos profissionais das unidades de saúde e escolares a importância da retirada do inseto e dos seus ovos desses ambientes.



Informe ENSP: Qual a importância do trabalho conjunto de diversas unidades da Fundação para combater o mosquito?

Coordenação do PCDM:
As ações voltadas para o controle do vetor do dengue devem, sem dúvida, envolver as diversas unidades - recursos humanos e materiais nelas existentes - da Fiocruz. No entanto, é sabido que algumas unidades são responsáveis pela execução de ações mais específicas no que diz respeito ao controle de vetores. Podemos citar, por exemplo, o papel fundamental atribuído à Dirac nesse processo.

Por outro lado, dada a complexidade que envolve os processos relacionados à dengue, consideramos de fundamental importância não apenas o trabalho conjunto, mas, sobretudo, integrado, entre diferentes unidades da Fiocruz. Nesse caso, não nos referimos apenas ao controle do vetor, mas às ações voltadas para a redução dos impactos dessa doença sobre a população.

Assim sendo, é de fundamental importância o diálogo entre as unidades que cuidam da assistência aos enfermos pela dengue, as que se encarregam das pesquisas clínicas, virológicas etc. Com efeito, a Rede Dengue tem cumprido um importante papel no sentido de estimular a articulação entre diferentes ações desenvolvidas no interior da Fiocruz.


Entretanto, ao pensarmos tanto no controle do vetor quanto da incidência do dengue, não o fazemos como se a Fiocruz estivesse isolada do restante do território em que está localizada. Consideramos que quaisquer estratégias de ação contra a dengue seriam impensáveis sem a presença de diálogo não somente com os habitantes desse território, mas, da mesma forma, seriam inviáveis sem o chamamento dos gestores públicos para as responsabilidades que lhes cabem nesse processo.

Informe ENSP: De que forma a incidência de casos de dengue nos anos anteriores pode influenciar uma nova epidemia em 2011?

Coordenação do PCDM:
É muito difícil prever e/ou caracterizar, com base na incidência anterior de casos, a dinâmica de uma nova epidemia de dengue. Sabemos que há, no município do Rio de Janeiro, a circulação de três dos quatro tipos de vírus da dengue, e estima-se que parte significativa da sua população seja suscetível a alguns deles. Por outro lado, são evidentes as condições propícias à proliferação do vetor da dengue em parte considerável desse território. Todavia, conjecturarmos com base nesses fatores seria um risco.

Acreditamos que a ocorrência anterior de epidemias poderia influenciar positivamente, caso tivessem sido tomadas as providências necessárias à solução de problemas já identificados. Por exemplo, a existência de criadouros domiciliares e peridomiciliares poderia ser ter sido reduzida sensivelmente se tivessem sido implementadas, desde as epidemias anteriores, políticas públicas com esse objetivo. Assim, a difusão sistemática entre a população de informações sobre a transmissão da dengue, sobre a reprodução do seu vetor, sobre os procedimentos adequados para a eliminação e/ou a redução de possíveis criadouros do Aedes aegypti também poderia ser acionada como uma medida importante. Entendemos que o empoderamento resultante da apropriação desses conhecimentos pelas populações afetadas poderia gerar uma mobilização local capaz de orientá-las no sentido da eliminação de possíveis criadouros do Aedes aegypti.

Informe ENSP: E a situação do lixo em Manguinhos? Como alertar a população para o despejo em lugares apropriados?

Coordenação do PCDM:
A situação do lixo é grave. Evidenciamos isso, num primeiro momento, durante a realização das atividades de campo do Curso de Qualificação para Promotores de Saúde Ambiental (2009), quando percorremos diversas ruas, vielas e becos de seis comunidades de Manguinhos. Naquela oportunidade, além de visualizarmos locais com alta concentração de resíduos sólidos, ouvimos depoimentos de várias pessoas sobre essa questão. Com base nisso preferimos não atribuir a culpa pelo acúmulo de resíduos sólidos aos moradores sem, antes, fazermos uma análise crítica da situação.


Discutimos, então, a questão dos resíduos sólidos, ainda em 2009, no Fórum Social de Manguinhos, porém não pudemos contar com a representação efetiva da Comlurb nesse debate, o que seria fundamental para entendermos, por exemplo, as razões para a inexistência de coleta regular em alguns locais desse território.

Por outro lado, na oficina que promovemos em maio de 2010, a questão dos resíduos sólidos voltou à tona com a informação dada pelo presidente da Associação de Moradores de Varginha sobre três casos de mordida de ratos, ocorridos em abril desse ano. Nesse processo, fomos questionados sobre o planejamento de ações para o controle da dengue sem a inclusão da questão dos resíduos sólidos em Manguinhos.

Pouco tempo depois, a turma de agentes comunitários de saúde (ACS) do Programa Teias-Escola Manguinhos, numa de suas avaliações durante o processo de formação na EPSJV, considerou o lixo como o principal problema em Manguinhos. Essa avaliação resultou num seminário - realizado na Biblioteca Pública de Manguinhos - que discutiu a questão dos resíduos sólidos na região a partir da percepção desses ACS.

Com base nesses processos, construímos uma proposta de Plano de Resíduos Sólidos para Manguinhos. Essa proposta faz parte de um projeto apresentado ao PDPST e considera a construção compartilhada de saberes como o principal método para a conscientização - de moradores e gestores públicos - acerca do manejo dos resíduos sólidos em Manguinhos. Por meio dela, pretendemos analisar a questão dos resíduos sólidos nesse território, de modo que sejam consideradas a sua classificação, sua deposição e a coleta.

Coordenação do PCDM:

Cristina Barros de Medeiros - Presidência _ Cooperação Social
Elizabeth Campos Silva - Casa Viva
Maylau Matos - ENSP - Cooperação Social
Nildimar Honório - IOC - Napve
Paulo Roberto de Abreu Bruno - ENSP - DSSA

Equipe de bolsitas do PCDM:

Anastácia Ferreira dos Santos - Estudante de Serviço Social
Andréa Almeida de Souza - Geógrafa
Carmem Fátima das Neves Pinheiro - Bióloga
Geralda da Paz de Almeida - Secundarista
Graciara da Silva - Secundarista

Equipe do NAPVE:

Célio Pinel
Marcelo Vicente
Luciene Pinheiro
Renata Fernandes

Daniel Câmara - Bolsista de Apoio Técnico - CNPq - IOC

Fotos: Virginia Damas (CCI/ENSP) e Equipe do PCDM

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