Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

Notícias

Notícias

Especialistas discutem promoção da saúde no contexto do Teias

As duas últimas mesas-redondas do seminário internacional Aportes interculturais e interprofissionais em promoção da saúde: um diálogo norte e sul-americano no contexto dos Territórios Integrados de Ações em Saúde (Teias) debateram temas como autismo, terapia ocupacional, ciências sociais para a área de Manguinhos, acessibilidade aos mais necessitados e políticas públicas para enfrentamento das dificuldades familiares, pobreza e violência. O evento foi promovido pela Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção de Saúde da Fiocruz (VPAAPS/Fiocruz) na ENSP. Acesse, na Biblioteca Multimídia da ENSP, as apresentações e os áudios das palestras.

O pesquisador Francisco Ortega, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), destacou a tentativa de deslocamento do autismo do campo de doenças mentais para o campo da deficiência. Ele fez uma comparação sobre o tratamento do autismo no Brasil e nos Estados Unidos: "No Brasil, ainda não temos um movimento como nos Estados Unidos, onde os pais de crianças autistas estão envolvidos em pesquisas biomédicas e em tratamentos na busca de cura para o problema. Essa questão aparece no campo biossocial nos Estados Unidos, e, no Brasil, dentro da saúde, num campo entre tratamentos iguais em oposição ao tratamento do autismo como sendo não deficiente", explicou o pesquisador.

Em seguida, o professor de antropologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), José Otávio Silva, leu um texto sobre terapia ocupacional no Brasil, um breve histórico do assunto no país, e o surgimento da profissão. De acordo com o texto, os terapeutas ocupacionais no Brasil, ainda hoje, produzem uma das mais originais táticas profissionais no campo da terapia ocupacional. "Agora, são os povos do Norte que precisam olhar para a prática e o uso da ocupação no Brasil para poderem reinventar sua profissão", destacava o texto.

Já a pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Sandra Galheigo, apresentou dados sobre atenção básica no Brasil, mostrando que mais da metade dos profissionais do país estão na região Sudeste. "Há aproximadamente 8,6 profissionais por habitantes em São Paulo, e 6,1 na região de Goiás". Sandra frisou a importância de novos cursos de terapia ocupacional no Brasil, onde um terço dos cursos existentes está no Estado de São Paulo. "A saúde é o nosso grande empregador, e a terapia ocupacional estava muito fora desse setor, embora alguns profissionais trabalhassem em projetos intersetoriais trazendo a saúde até o seu trabalho. Com a criação de novos cursos e, consequentemente, a formação de novos profissionais, essa realidade, aos poucos, vai mudando."

Lenira Zancan, do Departamento de Ciências Sociais da ENSP e do Laboratório Territorial de Manguinhos, falou do papel do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF/ENSP/Fiocruz), que atua há mais de quarenta e cinco anos na assistência à população de Manguinhos. "É um desafio fazer uma assistência que responda às necessidades dessa população em um contexto de grande vulnerabilidade social como esse em que vivemos."

Encerrando a mesa, Elizabeth Campos, do Fórum Social de Manguinhos, destacou o tema acessibilidade àqueles que necessitam de atenções e tratamentos especiais. "Essa população precisa de acesso efetivo aos direitos e possibilidades, às novas tecnologias, às novas terminologias, porque, na realidade, tudo está muito guardado, muito escondido; ainda há muito preconceito e muitas coisas que não foram ditas e nem colocadas, o que dificulta a qualidade de vida daquele que precisa de atenção especial e de seus familiares. A acessibilidade é um direito nato de qualquer ser humano." Para Elizabeth, é preciso estreitar os laços de cooperação, aportar recursos técnicos e científicos nos territórios de exceção, como Manguinhos, e estabelecer diálogos com atores e iniciativas no local. "Precisamos perceber os entraves não como dificuldades, mas como possibilidades de discussão em prol da qualidade de vida dessa população. Vamos buscar na base para que outros possam trazer uma transformação efetiva no seu lugar."

Desigualdade social dificulta acesso à educação, saúde e emprego

A terceira e última mesa-redonda do seminário foi aberta pela pesquisadora Fátima Gonçalves Cavalcante, do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/ENSP/Fiocruz), que apresentou um estudo relacionado à área de deficiência, mostrando que a desigualdade social dificulta o acesso à educação, saúde e emprego, causando consequências à criança e ao adolescente deficientes. Segundo a pesquisadora, as pessoas com deficiência são as mais pobres entre os pobres. "Pobreza gera deficiência, e deficiência gera pobreza. A questão do acesso à alimentação, saúde e educação traz a possibilidade do desenvolvimento de crianças com problemas de desenvolvimento. E a exclusão escolar, a falta de habilidades, a baixa autoestima e, muitas vezes, a necessidade de um dos membros da família abdicar do trabalho para cuidar da criança com deficiência causa a diminuição da renda familiar, e essa família empobrece, muitas vezes tendo que sair até de sua habitação." Fátima terminou falando da necessidade de políticas públicas que possam transformar a realidade dessas pessoas: "Um conhecimento e uma prática complexos para lidar com problemas complexos."

Em seguida, Rosa Mitre, do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), explicou o programa interdisciplinar que ela faz parte 'Saúde e Brincar'. "Por meio da ação, procuramos transformar os espaços hospitalares em locais de uso comum. Isso significa que nós não trabalhamos em salas fechadas, nós usamos os próprios espaços do hospital para mostrar que são possíveis novas maneiras de abordagem e intervenção". Para Rosa, o trabalho em equipe é fundamental, e as equipes precisam se abrir e trabalhar de maneira integrada. Também do IFF/Fiocruz, a enfermeira Luiza Vachod falou de sua experiência no Programa de Assistência Domiciliar Interdisciplinar (Padi/IFF), que tem como objetivo prestar assistência multiprofissional em domicílio às crianças e adolescentes com doenças pulmonares crônicas. Luiza destacou a importância da família no processo: "Sem a família não acontece nada. A família é nossa grande parceira, mesmo com toda a assistência domiciliar, quem cuida vinte e quatro horas é o familiar."

Encerrando a mesa-redonda, Annibal Coelho de Amorim, da VPAAPS/Fiocruz, contou que, em uma de suas viagens a países nórdicos, teve acesso a um artigo que constatava grande número de depressão em familiares de pessoas com deficiência. "Quis fazer essa pesquisa de uma forma diferente. Fizemos a pesquisa na Colômbia, no Brasil, na Tailândia e na Malásia, mas, além de investigar esses dados, quisemos incorporar uma tecnologia social mais precisa, dar voz a quem sempre teve voz, mas não era escutado. Não importava saber se havia a depressão, mas sim como essas pessoas poderiam ser ajudadas". Foi feito, então, um vídeo chamado 'Above the Waves', que hoje se encontra em 56 países, com depoimentos das mães contando como elas lidavam com esses problemas.

O pesquisador contou que está sendo formado o projeto Rede de Mulheres Muito Especiais, criando no Rio de Janeiro uma aliança para essas mulheres poderem conversar e revolucionar a medicina de pés descalços. "Vamos nos despir de compreender e se relacionar com o outro, se despir do obstáculo relacional, buscando uma nova atitude." Annibal encerrou o evento exibindo uma parte do vídeo feito pelas mães em depressão. "Sem a possibilidade de apoiar essas narrativas, o trabalho de Territórios Integrados de Ações em Saúde não vai adiante", encerrou o pesquisador.

voltar voltar

pesquisa

Calendário

Nenhum agendamento para hoje

ver todos