Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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Palestra aponta soluções para habitação de baixa renda

A luta pela inclusão urbanística das classes de baixa renda nas cidades brasileiras foi o principal foco da apresentação do arquiteto e ex-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil Demetre Anastassakis, que inaugurou o curso de especialização em Promoção de Espaços Saudáveis e Sustentáveis da ENSP, na segunda-feira (12/4). Demetre destacou a importância da implementação de programas de assistência técnica popular como forma de prevenir a construção insegura e em áreas de risco, o que, segundo ele, poderia evitar grandes tragédias como as que assolaram a região metropolitana do Rio de Janeiro. O evento reuniu novos alunos do curso, pesquisadores e professores do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental (DSSA/ENSP).

O chefe do DSSA, Odir Clésio da Cruz Roque, deu boas-vindas aos alunos e explicou que esse curso não tem apenas o foco no saneamento, na engenharia ou na habitação. "Ele é intersetorial e interdisciplinar, pois perpassa por várias áreas do conhecimento. Não se faz apenas projetos e obras de melhoria. O que se faz é saúde. Saneamento é saúde", afirmou. Odir comentou ainda que, segundo a Organização das Nações Unidas, o Rio de Janeiro é umas das cidades mais críticas no que se refere à contaminação da água. "Elas chegarão a um estado inutilizável devido à poluição e contaminação. Em 2015, já teremos problemas de abastecimento público de água se nada for feito", disse ele.

Dados da ONU, mostrados por ele, indicam ainda que esse problema da contaminação da água se reflete em todo o país. "Setenta e oito por cento da água do país está na Amazônia, onde se encontra apenas 7% da população. Já o Sudeste, que concentra 43% da população do país, possui apenas 6% das reservas de água. Se não agirmos, nossa população futura ficará prejudicada. Pesquisas na área apontam que, com essa grande poluição, essas águas não terão como passar por um processo de tratamento simples e até nem terão condições de serem tratadas", disse o chefe do departamento.

"Por outro lado, em 2007, o Brasil alcançou a meta do milênio relativa à água nas zonas urbanas, que estava prevista para 2015. Desde então, 91,3% da população urbana possui água encanada por rede geral no interior do domicílio", disse. Demetre comentou que, em alguns lugares em que foram feitas obras de melhoria depois da última chuva que também colocou o Rio de Janeiro debaixo d'água, não aconteceu uma tragédia tão grande e tiveram poucas mortes, como Petrópolis, Canal do Cunha, Nilópolis e outros.

"O Rio de Janeiro é uma cidade com grandes áreas de aterramento, Manguinhos, Flamengo e Vigário Geral são alguns exemplos disso. Os governantes deixaram as pessoas construírem moradias nessas 'não cidades'. Inclusive foi o próprio governo que criou a primeira favela do Rio de Janeiro, o Morro da Providência, que, no final do século XIX, assentou, na encosta de um morro na zona portuária, os soldados que voltaram da Guerra de Canudos. E sempre tem gente querendo culpar a população por morar nesses locais. Isso é absurdo. O que se precisa é fortalecer a implementação de programas de assistência técnica popular. As pessoas fazem seus 'puxadinhos' sem critério. Essa assistência auxilia para a construção com o mínino de segurança. Essa é uma forma de prevenir a construção insegura e em áreas de grande risco. Assim podemos prevenir grandes tragédias."

Demetre apontou que os governos devem ocupar os vazios inaproveitados que estão na cidade. Grandes lotes, construções abandonadas etc. "Nessas áreas ociosas, devemos investir em projetos de moradias populares. Essa pode ser uma alternativa para solucionar os problemas de habitação do Brasil. A urbanização em loteamentos periféricos feita de 'casinhas' é um modelo questionável, pois permite a expansão desregrada com os famosos 'puxadinhos'. Com esse tipo de construção também é preciso desenvolver infraestrutura de todos os tipos, desde a construção de redes de água e esgoto até meios de transporte, que atendam a essa população", explicou.

O professor do curso e integrante da Rede Brasileira de Habitação Saudável (RBHS/DSSA/ENSP) Alexandre Pessoas Dias fez uma apresentação da ementa do curso, falou dos seus objetivos e disse para todos que o essencial é que os profissionais dessa área tenham como compromisso transformar o mundo, que eles estejam engajados e se esforcem para colocar em prática tudo que aprendem, pois, de acordo com ele, a técnica tem de estar a serviço da sociedade. Alexandre apresentou também o trabalho da Rede Brasileira de Habitação Saudável.

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