Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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Estudo encontra bactérias resistentes a antibióticos em esgoto de hospitais

Um trabalho inédito no Brasil, que verificou a presença de bactérias resistentes a antibióticos em um sistema de tratamento de esgoto hospitalar, publicado na Revista Letters in Applied Microbiology e premiado no 24º Congresso da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, foi coordenado pelo pesquisador da ENSP, Dalton Marcondes Silva (DSSA/ENSP), e realizado em parceria com o Instituto Oswaldo Cruz. A pesquisa alerta para o cuidado no tratamento dos efluentes hospitalares e a dificuldade orçamentária para utilizar modelos que eliminem completamente esses patógenos.

'Eficiência de uma estação de tratamento de esgoto hospitalar por processo anaeróbio na remoção de vírus da hepatite A, enterobactérias e resistência a antibióticos' é o título do projeto, que teve início na dissertação de mestrado de Tatiana Prado, e o objetivo inicial de verificar a presença de patógenos no lodo de estações de tratamento hospitalares visando a avaliação da possibilidade de utilização agrícola desse lodo. "Ao longo do trabalho verificou-se que seria mais interessante estudar as características dos efluentes hospitalares e a eficiência da estação na redução dos microrganismos e, assim, o estudo da utilização agrícola do lodo foi abandonado", revelou Dalton Marcondes. Nesse projeto verificou-se a eficiência da estação de tratamento de esgotos na remoção de parâmetros físico-químicos, de forma a atender a legislação e mostrar que apesar do bom funcionamento da estação a redução dos microrganismos pode ser muito pequena.

De acordo com o coordenador, a questão que envolve o tratamento de efluentes hospitalares é tratada por lei no Rio de Janeiro e tema de grande preocupação do governo federal. Mas há uma grande discussão sobre a diferença entre os efluentes hospitalares e o doméstico, e esse foi um dos aspectos que motivou a realização do estudo.

Segundo o pesquisador, há diversas pesquisas no Brasil que demonstram que as bactérias nesses dois ambientes possuem as mesmas características. Logo, não deveria haver um esforço adicional na eliminação de bactérias, vírus ou protozoários de efluentes hospitalares. No entanto, estudos feitos fora do Brasil demonstram que as bactérias hospitalares, pelo fato de terem passado por um sistema dentro do hospital onde as pessoas recebem antibióticos, apresentam maior resistência a eles. E mais do que isso. "Pelo fato de estarem dentro de uma estação com bactérias resistentes e outras não, há uma troca de material genético entre elas, criando um grupo resistente. Esse estudo, porém, nunca havia sido realizado no Brasil".

Para Marcondes, o atual modelo de desinfecção ainda não elimina um número considerável de bactérias e vírus. Para ter uma análise precisa dos efluentes, trabalhou com as pesquisadoras Wilma de Carvalho Pereira (ENSP/Fiocruz), Tatiana Prado, Marise Dutra Asensi (IOC/Fiocruz) e Ana Maria Coimbra Gaspar (IOC/Fiocruz) na detecção dos microrganismos.

Trabalho ganha prêmio em congresso de Engenharia Sanitária e Ambiental

O resultado foi publicado na revista Letters in Applied Microbiology e o resultado mais ineteressante, segundo os autores, foi com as bactérias. "Encontramos a Klebsiella pneumoniae - uma bactéria que produz um gen de resistência a antibióticos - nos efluentes e no lodo do hospital. Fizemos os testes e ela apresentou resistência a dois ou mais antiobióticos. Isso significa que se essa bactéria encontrar no meio ambiente algum ser que possa contraí-la, ele vai ter muita dificuldade no tratamento. O resultado foi compatível com o de outros países e foi a primeira vez no Brasil em que se realizou um estudo de resistência a antibióticos em bactérias hospitalates de efluentes hospitalares. Por isso tivemos sua publicação nessa revista conceituada na área de microbiologia. Além do mais isso faz com que as pessoas que defendiam que o esgoto hospitalar não necessitava de muito cuidado possam rever suas opiniões. O risco é grande".

Com relação aos vírus,a utilização de uma metodologia mais sofisticada demonstrou uma grande quantidade desses organismos mesmo após a etapa de desinfecção. "Isso mostra que se for desejada a eliminação completa, esse tratamento simples, aprovado inclusive pelas autoridades no Rio de Janeiro, é ineficiente. Mas isso nos coloca um desafio tecnológico. A tecnologia atual e que todos os hospitais usam é a cloração simples. Para alcançar um bom nivel de desinfecção é preciso um tratamento fisico-quimico antes da cloração, o que impõe custos maiores ao tratamento. Eliminar organismos nas estações de tratamento de esgoto é um desafio para o mundo todo. Existem técnicas de pasteurização, tratamento terciário seguido de cloração, mas são caros. Pasteurização, por exemplo, é muito oneroso. Nele você tem a eliminação de qualquer microsganismo, e é um processo usado no leite. O leite tem um valor comercial elevado, mas o efluente hospitalar não".

O trabalho também foi premiado como Melhor Poster 'Perfil de bactérias resistentes a antibióticos em efluente de esgoto hospitalar', apresentado no 24º Congresso da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), em BH.

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