Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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Viva a Vida é o conselho de Dom Mauro à ENSP

"A grandeza de uma instituição é o seu compromisso com a vida, com a sociedade e com o povo. O ensino, a pesquisa e extensão são as suas marcas". Foi homenageando a ENSP que o bispo emérito da Diocese de Duque de Caxias (RJ), Dom Mauro Morelli, proferiu a palestra de abertura do ano letivo de 2009 da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. A cada ano, a ENSP se renova com a entrada de alunos e mantém a tradição de trazer grandes nomes para suas aulas magnas, e a vinda de Dom Mauro Morelli foi mais um exemplo dessa tradição. Ao longo de sua palestra, pediu a todos da Escola que vivam a vida de forma plena e consciente.

A solenidade foi aberta pelo diretor da ENSP, Antônio Ivo de Carvalho, informando que, em 2009, a Escola está recebendo 163 novos alunos de mestrado e doutorado em seus três programas stricto sensu - Saúde Pública, Saúde Pública e Meio Ambiente, e Epidemiologia em Saúde Pública -, que se juntam aos mais de 500 alunos que estudam aqui. Atualmente, a ENSP, somando todos os alunos de seus cursos lato sensu e stricto sensu, sejam nas modalidades presenciais e a distância, conta com cerca de 20 mil alunos. "Essa é uma cifra significativa, pois existem profissionais que passaram pelos nossos cursos aproximadamente em três mil municípios brasileiros", afirmou o diretor.

Ivo homenageou as mulheres pelo dia 8 de março e lembrou que, infelizmente, os dados ainda demonstram uma situação de violência contra mulheres e meninas que é assustadora. Pesquisa realizada no Hospital Pérola Byington, em São Paulo, referência no tratamento de mulheres vítimas de violência sexual, mostra que 43% dos atendimentos diários se referem a meninas com menos de 12 anos que engravidaram depois de estupro. O Brasil faz anualmente cerca de três mil abortos legais em mulheres de todas as idades, segundo o Datasus.

Ao apresentar o palestrante Dom Mauro Morelli, Antônio Ivo lembrou do trabalho do bispo emérito em prol da dignidade humana e de sua luta ao lado de Herbert José de Sousa, o Betinho, no movimento 'Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida', defendendo um país mais democrático e com menos excluídos socialmente.

Iniciando sua palestra, Dom Mauro Morelli disse estar feliz ao ter recomeçado sua vida aos 69 anos, quando renunciou a diocese, tornando-se bispo emérito de Duque de Caxias. Pretende, agora, aos 74 anos, voltar à sua terra natal, em Penápolis (SP) para retornar o trabalho em repúdio às torturas praticadas nas delegacias de polícia. Além disso, Dom Mauro segue na sua luta em busca de melhor educação alimentar e nutricional para as crianças. "Esse é um trabalho decisivo para a vida humana. O alimento é vida e um caminho para a paz. É através dele que você consegue reunir famílias de diferentes religiões e credos", ressaltou.

'Coragem', 'ousadia' e 'humildade' foram três virtudes levantadas por Dom Mauro Morelli em sua exposição. Com isso, o bispo emérito pediu a todos que vivessem suas vidas com vigor, mesmo com todas as dificuldades que possam encontrar, saber quem ouvir para fazer aquilo que se ouve, sem ser insensato, além de ter noção de sua excelência e de sua insignificância perante tudo. E afirmou: "Nós somos uma síntese de milhões de pequenas vidas dentro de nós. Por isso, temos que ter consciência das nossas próprias limitações".

"O mundo de hoje é muito desafiador. Não dá para ser tão dogmático. Temos que ter muita humildade. Temos que saber fazer as boas perguntas, e são elas a base para uma grande sociedade. Tenho certeza que esta Escola faz muitas e boas perguntas", disse Dom Mauro. Partindo desse princípio que o bispo destaca a grande contribuição das crianças fazendo perguntas, e que são elas as responsáveis pela renovação humana ao mexer com duas coisas: a ecologia e a economia.

Em seguida, contou como surgiu o movimento 'Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida' que traz para o Brasil o sonho de um novo conceito de desenvolvimento, com o fim da desigualdade e não ser apenas um programa de caridade ou assistência social, mas sim como uma luta por um direito básico de todos. "A solidariedade somente é uma virtude quando a justiça é honrada", destacou.

Desde então, Dom Mauro Morelli vem trabalhando em defesa de uma melhor alimentação e nutrição para a população e por uma distribuição de renda justa. Para o palestrante, o país tem que dar mais atenção ao que produz e parar de tratar o alimento como uma simples mercadoria. "Enquanto isso ocorrer, haverá fome na terra", afirmou.

Ele informou que, segundo dados do IBGE de 2008, cinco mil famílias brasileiras concentram aproximadamente 46% do PIB nacional, enquanto que no mesmo período o IPEA informou que 10% dos mais ricos controlam 50% da riqueza nacional. "Temos que mexer com a concentração de renda e pensar num novo modelo de desenvolvimento e produção saudável de alimento para que seja distribuído de acordo com as necessidades de cada um. Hoje, temos um país de elite, no qual 20 a 25% têm direito a tudo, e o resto da população a nada".

Dom Mauro lembrou que o país já conta com uma Política Nacional de Alimentação e Nutrição, embora o monitoramento nutricional da população seja baixíssimo. Defende que a estratégia de Saúde da Família e a utilização de Agentes Comunitários de Saúde são ferramentas fundamentais para se trabalhar melhor essa política, além de se fazer um trabalho intensivo nas escolas para que as crianças tenham acesso, cada vez mais, a alimentos saudáveis para o seu bom crescimento.

Ao encerrar sua palestra, Dom Mauro Morelli disse que "o Brasil infelizmente ainda tem um ministério da Doença. Porque, aqui, ficamos correndo atrás da doença que tem um rabo tão comprido que, quando chegar ao fim, vai encontrar analfabetismo, falta de higiene, falta de alimentação, falta de carinho; está tudo isso na base da ciência, e esse é o nosso desafio".

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