Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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ENSP apresenta resultados preliminares da carga de mortalidade no Rio

Apresentar os resultados parciais do componente mortalidade do estudo Carga de Doença no Rio de Janeiro, que está sendo realizado por um grupo de pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, foi o foco do Centro de Estudos da ENSP realizado nesta quarta-feira, 12 de novembro. O trabalho 'Carga Global de Doença: Componente de Mortalidade no Estado do Rio de Janeiro' foi exposto pelo pesquisador Joaquim Valente, do Departamento de Métodos Quantitativos (Demqs), explicando os métodos utilizados para um melhor entendimento do estudo, além de trazer alguns resultados preliminares.

A coordenadora da sessão, Joyce Mendes, também do Departamento de Métodos Quantitativos (Demqs), revelou que o estudo foi feito em dois momentos - 1998 e 2005 - e que o objetivo da sessão foi promover um debate sobre o tema nos campos da ciência e tecnologia, C&T, da gestão e do Direito. "O professor Joaquim Valente trará um resultado parcial, que é a mortalidade. O componente morbidade ainda não está pronto e será apresentado em breve, quando pretendemos apresentar o resultado final do estudo", destacou.


Para o diretor da ENSP, Antônio Ivo de Carvalho, essa abordagem da carga de doenças é uma inovação no que diz respeito a estabelecer diagnósticos de saúde, vincular esses diagnósticos a um planejamento que leve em conta o custo-efetividade e a apoiar decisões em cima de dados mais sofisticados do que simplesmente os índices de mortalidade existentes. "Os resultados apresentados fazem parte ainda de uma iniciativa para a criação de um centro permanente da Escola, para investigação e estudo sobre carga de doenças, e que isso passe a ser foco da ENSP no diálogo com os outros protagonistas do sistema de saúde e principalmente com a população, que tende a ser beneficiada pela maior clarividência dos decisores apoiados por esse tipo de abordagem", afirmou o diretor.

O pesquisador Joaquim Valente iniciou sua exposição explicando que o objetivo do Carga de Doença não é fornecer um detalhamento sobre uma doença qualquer, mas sim um panorama da ocorrência de várias doenças em determinadas áreas de forma simultânea. O indicador utilizado para esse estudo é o DALY (Disability Adjusted Life Years - Anos de vida perdidos ajustados por incapacidade), em que se mede, ao mesmo tempo, o efeito da mortalidade e dos problemas de saúde que afetam a qualidade de vida dos indivíduos. Segundo o pesquisador, "um DALY é igual a um ano de vida sadia perdido, e incorpora os conceitos de morte prematura e anos vividos com incapacidade".

Nos estudos de Mortalidade (Years Life Lost - YLL) dentro do Carga de Doeças, revelou Joaquim Valente, fica fácil a utilização de tal indicador, pois para se obter o YLL exato faz-se uma média envolvendo a incidência, que é a própria mortalidade, a duração, que é a expectativa de vida em cada faixa etária e a gravidade da doença, que é máxima e única para todas as causas. "Entretanto, das dez maiores causas de incapacidade no mundo, em 1990, cinco são de origem neuro-comportamental, e isso não aparece no estudo de Carga de Doenças", explicou. Ao todo, o estudo trabalha com três grandes grupos, envolvendo 107 categorias de doenças e ferimentos. São eles: Grupo I - infecciosas e parasitárias, condições maternas, perinatais e nutricionais; Grupo II - não-transmissíveis; e Grupo III - causas externas.

Após explicar os métodos utilizados para o Carga de Doenças, o pesquisador apresentou os resultados preliminares sobre mortalidade no Estado do Rio de Janeiro, que, em 1998, teve 114.069 óbitos e, em 2005, 116.530 óbitos. Apesar de um maior número de óbitos em 2005, a Taxa de Mortalidade Bruta (TMB) por mil habitantes caiu 9,5% entre 1998 (8,4%) e 2005 (7,6%). Quando a TMG se juntou ao YLL (TMGYLL), os pesquisadores obtiveram dados diferenciados por cada uma das macrorregiões do estado. Em 1998, foram perdidos 135 anos de vida perdida por cada mil habitantes, enquanto que, em 2005, esse valor caiu para 112 anos. Os resultados trazem ainda os índices de mortalidade por sexo, por faixa etária e por cada grande grupo. A apresentação está disponível na Biblioteca Multimídia da ENSP.


Os pesquisadores puderam perceber que não existem grandes diferenças nas taxas de mortalidade nos três grandes grupos, apenas um aumento no grupo III (causas externas), causado, principalmente, por conta dos altos índices de violência no Rio de Janeiro. "Percebemos que os homens morrem quase quatro vezes mais que as mulheres. E a faixa etária com maiores índices de mortalidade, devido a causas externas, é a de 15 a 29 anos, aproximadamente 76% dos YLL", ressaltou.

Dentre as conclusões apresentadas, o estudo detectou uma redução de 17% nas TMG, ajustadas por idade, entre 1998 e 2005, sendo similar em ambos os sexos. Já as taxas ajustadas por idade, TMG e a TMG-LL do estado do Rio de Janeiro foram, em 2005, respectivamente 84% e 79% daquelas do próprio estado, em 1998, além do que no estado do Rio de Janeiro, como um todo, 29% dos YLL foram atribuíveis ao Grande Grupo III (causas externas).

O primeiro debatedor convidado, o pesquisador Adolfo Chorny, acredita que o principal enfoque do estudo seja contribuir com uma reestruturação dos serviços de saúde de acordo com a real situação de saúde da população, e isso só é possível com dados mais precisos. Uma das críticas feitas pelo pesquisador quanto a essa metodologia é que ela considera todos iguais e não leva em conta a condição social de cada um. "Entretanto, a Carga de Doenças permite pensar de forma efetiva as necessidades de saúde, e os profissionais de planejamento devem fazer um esforço para utilizar tais informações da melhor maneira possível. Para fazer saúde, não podemos trabalhar apenas com a morte. Isso serve para a construção de cemitérios. Temos que fazer saúde trabalhando em cima da doença e da vida de cada um", afirmou.

A superintendente de Programação em Saúde da Sesdec/RJ, Magda Chagas, concordou com Adolfo Chorny quanto à necessidade de utilização do Carga de Doenças como um instrumento de gestão e planejamento em saúde e que ele traz exatamente esse olhar diferenciado sobre a saúde. "Temos que lembrar que o planejamento do nosso sistema de saúde leva em conta os índices de morbidade e mortalidade hospitalar, enquanto que o Carga de Doenças apresenta dados das pessoas que não utilizam o sistema de saúde, e isso é fundamental para que possamos adequar nossas ações de forma mais eficaz. Temos a possibilidade de discutir um sistema de saúde muito melhor do que temos agora e não dá para criticar um estudo como esse sem antes entendê-lo", argumentou.

O envolvimento do direito com a saúde e sua relação com o Carga de Doenças foi o tema da fala da membro do Comitê de Direitos Humanos da OAB/RJ, Miriam Ventura. Ela explicou o processo de judicialização na saúde, que já foi tema de um Centro de Estudos realizado em julho, e acredita que o envolvimento com o Carga de Doenças mostrará que a justiça precisa desenvolver novos processo decisórios de forma a resolver os problemas de uma saúde como direito do indivíduo. "Nesse sentido, a atuação do Ministério Público e de Organizações Não-governamentais, em ações coletivas, baseadas em estudos epidemiológicos dessa natureza, podem prevenir violações futuras, e, assim, reduzir a demanda judicial", encerrou.

Após todas as exposições, foi aberto debate com o público presente. Esse Centro de Estudos integrou a série de atividades relacionadas ao Projeto de Cooperação ENSP/SESDEC-RJ.

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