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Laboratório Territorial de Manguinhos: vídeo, novo site e debate mostram importância do projeto

Ao som do samba da Unidos de Manguinhos, num vídeo de seu desfile do Carnaval 2008, as pessoas foram chegando e ocupando praticamente todos os lugares do Salão Internacional da ENSP. Eram autoridades da Fiocruz, profissionais de diversas unidades da Fundação e moradores das comunidades de Manguinhos envolvidos diretamente com o projeto do Laboratório Territorial de Manguinhos (LTM) ou simplesmente simpatizantes e entusiastas do trabalho que vem sendo desenvolvido há mais de cinco anos, fruto do interesse de juntar ciência e cidadania para transformar as realidades urbanas complexas, repletas de injustiça social e ambiental.

A programação, que ocupou toda a manhã da quinta-feira (11/09), incluiu a exibição do documentário 'Manguinhos: histórias de pessoas e lugares'; o lançamento do site do LTM; uma exposição de pintura da artista plástica Viviane Donato, bolsista do projeto e moradora de Manguinhos; e o debate 'Produção de Conhecimento, Tecnologias de Comunicação e Cidadania' que confirmou, sem sombra alguma de dúvidas, o que uma das coordenadoras do Laboratório, a pesquisadora da ENSP Fátima Pivetta, disse ao iniciar as atividades do dia: "Este vídeo do desfile da Unidos de Manguinhos, nós fizemos questão de exibir para mostrar que muita coisa boa acontece em Manguinhos". O evento do Laboratório Territorial de Manguinhos integrou as atividades da semana comemorativa dos 54 anos da ENSP.

Vídeo recupera memória de Manguinhos e aponta o caminho de um futuro melhor

Após algumas poucas palavras sobre o trabalho desenvolvido pelo Laboratório Territorial de Manguinhos (LTM) e do agradecimento aos inúmeros membros da equipe, colaboradores e parceiros, Fátima Pivetta anunciou a exibição do documentário 'Manguinhos: histórias de pessoas e lugares', utilizando palavras das bolsistas moradoras Gleide Guimarães Alentejo e Consuelo Guimarães Mateus do Nascimento: "A importância de contar a história de Manguinhos está em estabelecer um paralelo entre o 'Por que manguinhos é assim?' e o 'Porque Manguinhos nasceu assim'. Tentar mudar uma comunidade apenas em seu aspecto físico, sem considerar a história viva do lugar, é desperdiçar recursos. Manguinhos tem um histórico de mais de 50 anos de incursões, muitas delas sem resultado algum. Trabalhar as memórias individual e coletiva é a estratégia de falar de Manguinhos para Manguinhos, fazer Manguinhos falar de si com segurança e com autoconhecimento para, a partir daí, influir e participar ativamente de seu processo de transformação em busca de um futuro com melhor qualidade de vida".

O filme, construído com roteiro de Fabiana Melo, Patrícia Vieira e Daniele Oliveira, traz, nas palavras dos próprios moradores da região, a esperanças de mudanças, como expressa a dona Maria Aparecida, avó de Consuelo: "A mesma união que levou a Unidos de Manguinhos da Graça Aranha para a Rio Branco e, agora, para a Marquês de Sapucaí quando ela já estava quase desfilando em Madureira, pode levantar a região, melhorando as condições de vida da população".

O documentário está inscrito na 2ª Edição do Cine Cufa - festival de obras audiovisuais produzidas por cineastas de diferentes favelas do mundo - e será exibido nesta sexta-feira (12/09), às 18h no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB). Além disso, está concorrendo ao prêmio 'Governo do Rio: na tela da favela', que será entregue à produção mais votada no Festival. Para votar, entre no site do Cine Cufa, clique em 'prêmio' e preencha a cédula de votação com o nome do filme 'Manguinhos, história de pessoas e lugares'.

Trabalho do Laboratório Territorial de Manguinhos é considerado modelar

Depois do vídeo, foi composta a mesa de abertura da cerimônia de lançamento do site do LTM, que contou com a presença dos diretores da ENSP, Antônio Ivo de Carvalho, e da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), André Malhão; do vice-presidente de Gestão do Trabalho e Desenvolvimento Institucional da Fiocruz, Paulo Gadelha; e de Juliana Wotzasek Rulli, do Ministério da Saúde, que representou o coordenador geral de Vigilância Ambiental em Saúde, Guilherme Franco Netto.

"Este projeto se constrói a partir de uma idéia 'aparentada' com a utopia. Uma idéia e um ideal de que o conhecimento relevante não nasce nos livros, abstratamente, e nem é extraído diretamente da experiência empírica, mas que nasce de uma associação de experiências atuais e ancestrais de toda a humanidade, expressa pelo conhecimento acadêmico, e que vai, a partir de elementos da vida e da prática cotidianas, se realinhando, adequando e, ao mesmo tempo, sendo utilizado e aplicado na transformação da realidade", afimou Antônio Ivo ao parabenizar todos os envolvidos nas atividades do Laboratório.

Segundo ele, o site marca o início de um processo renovador para a ENSP, para a Fiocruz e para a comunidade em que todos ganham. "Esse trabalho é fundamental para todos aqueles que se movem no seu fazer e no seu saber cotidiano orientados por uma idéia de mudança, de alcançar uma situação mais justa e participativa do que a que vivem atualmente. O site expressa a integração que esse projeto traz e é fruto do esforço conjunto de profissionais da Escola Politécnica e da Coordenação de Comunicação Institucional da ENSP, que responderam ao desafio de incorporar novas tecnologias para atender às necessidades específicas do LTM", disse.

De acordo com André Malhão, o LTM é uma experiência vitoriosa na medica em que busca desenvolver, ainda que no plano local, ações concretas de enfrentamento, denúncia e compromisso que rompem a lógica que leva às iniqüidades sociais. "A Fiocruz tem se colocado como uma instituição de Estado que luta para a instauração de uma nova forma de sociedade mais justa. Este projeto funciona como um espaço de coerência entre o nosso discurso, as nossas falas e a nossa prática, ainda que nos deparemos com muitos limites. O site, por sua vez, serve como instrumento de comunicação e de registro do que já foi feito e do que está sendo feito, como um instrumento de democratização da informação, de tentativa de quebrar a hierarquia que existe entre o trabalho intelectual e o trabalho manual, o que está diretamente relacionado à proposta da Escola Politécnica e o que justifica plenamente a parceria estabelecida neste projeto".

Para Juliana Villardi, da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), o LTM realiza um trabalho emocionante, que valida o apoio prestado pela Secretaria. "Nós do Ministério estamos buscando formas de participar e, mais do que isso, de nos apropriarmos do conhecimento que está sendo produzido, de pensar formas de inserir esses conhecimentos nos serviços, fazendo com que ele seja utilizado em prol da população".

Paulo Gadelha, que iniciou sua fala com elogios ao documentário apresentado - "Como materialização do trabalho da equipe do LTM e de seus parceiros e colaboradores, ele é marcante e mostra, por si só, a qualidade do trabalho que vem sendo realizado", destacondo a importância do projeto que envolve profissionais de várias unidades da Fiocruz e moradores das comunidades no entorno da Instituição. "Esse projeto pode ter grande repercussão na forma de a Fiocruz atuar, no enfrentamento dos desafios que surgem a todo instante nos diversos espaços de iniqüidade social que a Fundação ocupa pelo Brasil", disse, citando como exemplo o caso do PAC Manguinhos. "Nós podemos ajudar a evitar, dependendo da nossa capacidade de mobilização, que o PAC Manguinhos fique aquém das suas possibilidades de intervenção e de melhorias para a população. Se ele se limitar a ser apenas uma intervenção urbana, e não um processo que respeite a história local e associe cultura, saúde, educação, geração de emprego entre outras coisas, para mudar efetivamente as formas de convívio e organização das pessoas, ele estará aquém do que as pessoas desejam e do que pensamos como saúde do território".

Academia e moradores: aprendendo a falar uma linguagem comum

Na apresentação do site, a primeira a falar foi Consuelo Nascimento, bolsista moradora do LTM. Visivelmente emocionada, a graduanda em Direito, ressaltou que o site espelha o longo caminho que vem sendo percorrido por todos que estão envolvidos no trabalho e é fruto de um aprendizado mútuo que, a partir de duas linguagens tão distintas e distantes - a da Academia e a dos moradores das comunidades de Manguinhos -, criou uma linguagem comum: a do compartilhamento dos saberes. "Nós mostramos aos pesquisadores que Manguinhos não é um pedaço do inferno, e eles nos mostraram que, infelizmente, Manguinhos não é um espaço de vida saudável. Nós aprendemos a caminhar juntos, a construir uma via de mão dupla, sem limite de velocidade, que vai de Manguinhos ao restante da cidade do Rio de Janeiro e vice-versa", contou, lembrando a frase de Boaventura Santos que inspira o trabalho do LTM: "A solidariedade como forma de conhecimento é o reconhecimento do outro como igual, sempre que a diferença lhe acarrete inferioridade, e como diferente, sempre que a igualdade lhe ponha em risco a identidade".

Em seguida, foi a vez do pesquisador Marcelo Firpo, do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP). Numa breve exposição, ele falou sobre alguns aspectos teóricos que embasam o trabalho realizado e os principais eixos de atuação do LTM, com destaque para a questão da história - "Não podemos falar de território e pessoas sem conhecer o seu passado e suas possibilidades de transformação" -; da cidadania - "Temos que estimular a criação de redes sociais e lutar para que as pessoas se apropriem do saber constituído nessas redes" -; e do ambiente - "Só é possível pensar promoção da saúde, se ela for uma prática emancipatória, que traga autonomia e amplie o potencial de organização e intervenção coletiva".

Debate faz público refletir sobre questões importantes

A última atividade da programação, o debate 'Produção de Conhecimento, Tecnologias de Comunicação e Cidadania', reuniu Patrícia Evangelista, ativista de diversos movimentos sociais de Manguinhos; e Monique Carvalho, socióloga e integrante doObservatório de Favelas do Rio de Janeiro. Após a apresentação das duas convidadas, o público levantou inúmeras questões que afetam diretamente e muitas vezes até impedem a luta da população pelos seus direitos.

Patrícia Evangelista, uma das fundadoras da Agenda Redutora das Violências em Manguinhos, mostrou a trajetória dos movimentos sociais da região, proporcionando aos presentes uma ampla visão da capacidade organizativa dos moradores, bem como dos desafios que ainda precisam ser superados. "O trabalho do Laboratório Territorial de Manguinhos é fundamental para o fortalecimento da luta pela universalização do saneamento ambiental e pelos direitos humanos", ressaltou.

Monique Carvalho encerrou as apresentações apresentando o trabalho desenvolvido pelo Observatório - "Nós formamos uma rede sócio-pedagógica integrada por pesquisadores e estudantes, geralmente oriundos das camadas populares que conseguiram preservar seus vínculos e identidades com o território de origem, vinculados a diferentes instituições acadêmicas e organizações comunitárias". Segundo ela, a instituição visa criar metodologias que se efetivem na forma de políticas públicas, atuando basicamente na formação de lideranças populares com perfis técnicos e engajamento político; na sistematização, produção, análise e difusão de informações sobre os espaços populares e assessoria a grupos comunitários locais, no campo do diagnóstico social; na produção de estudos e intervenções no campo da violência urbana e dos direitos humanos; e na produção crítica para registro e difusão de experiências e práticas cotidianas presentes nas comunidades populares.

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