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Pesquisador discute reforma psiquiátrica em evento na Itália

A visita de Franco Basaglia ao Brasil, em 1978 - ano em que foi iniciado o Movimento da Reforma Psiquiátrica no país - foi o tema abordado por Paulo Amarante, pesquisador do Departamento de Planejamento e Administração em Saúde (Daps) e coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde mental (Laps), num dos seminários da segunda edição da Feira Internacional de Editoria Científica de Trieste (Fest), realizada na Itália, de 16 a 20 de abril.

"Em 1978, ano em que o Basaglia esteve no Brasil, foi promulgada a Lei da Reforma Psiquiátrica Italiana (Lei 180), também conhecida como Lei Basaglia, em referência ao psiquiatra que abriu as portas do manicômio de Trieste e que começou o movimento antimanicomial em todo o mundo. Trinta anos depois, os organizadores da Fest resolveram prestar uma homenagem a ele e dedicar um espaço especial do evento à questão da reforma psiquiátrica", explicou o pesquisador.

Presente na mesma mesa que o coordenador de saúde mental da Organização Mundial da Saúde (OMS), Benedetto Saraceno, Paulo Amarante lembrou que a passagem de Basaglia pelo Brasil, em 1978 e 79, ocorreu no auge da aprovação da lei italina, única no mundo que determina a extinção e proíbe a construção de novos manicômios em todo o território nacional. "Em 1979, Basaglia visitou o hospital psiquiátrico de Barbacena e o comparou a um 'campo de concentração'", contou Amarante, completando: "O evento deu visibilidade ao tema e contribuiu enormemente na construção de uma opinião pública favorável às mudanças, dando um impulso fundamental à reforma psiquiátrica brasileira".

Segundo o pesquisador da ENSP, a visita de Basaglia serviu de inspiração para o primeiro filme do diretor e produtor mineiro Helvécio Ratton, o curta 'Em nome da Razão', que ganhou vários prêmios. Além disso, levou o jornalista Hiran Firmino, criador e editor-chefe da Revista JB Ecológico, a publicar uma série de reportagens no Estado de Minas, denunciando a violência institucional em Barbacena. "Esse conjunto de reportagens, que recebeu o prêmio Esso de Jornalismo e outros, foi publicado logo depois pela Editora Codecri, do Pasquim, com o título 'Nos porões da loucura'", comentou Paulo Amarante.

Durante a II Fest, também foram lançadas edições em francês e alemão do livro Conferenze Brasiliane (Editora Raffalelo Cortina), uma coletânea da produção de Basaglia em conferências e reuniões das quais participou enquanto esteve no Brasil. O livro, publicado na Itália em 2000, por ocasião dos 20 anos da morte do psiquiatra italiano, ocorrida em 5 de agosto de 1980, tem um posfácio de autoria de Paulo Amarante, com participação das pesquisadoras da USP Denise Dias Barros e Maria Fernanda de Silvio Nicacio.

"Essas conferências realizadas no Brasil têm sido objeto de muito interesse, pois marcam um importante momento na vida de Franco Basaglia, envolvido com a lei recém-aprovada, a movimentação política para a efetivação política e social da lei, e com a ânsia de que os países, muito particularmente os latino-americanos, reproduzissem, com as devidas adequações, a iniciativa italiana. Além disso, traz o pensamento político do psiquiatra, num contexto de aliança de centroesquerda em seu país, e de compromisso histórico, após o seqüestro seguido de morte, do primeiro ministro Aldo Moro", conclui.

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