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Programa Radis, o mensageiro do movimento sanitário, completa 25 anos

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Publicado em:24/08/2007

O Programa Radis, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), completou 25 anos em agosto, ainda impulsionado pelos ideais da Reforma Sanitária brasileira. Criado em 1982, na efervescência das idéias do movimento, foram 88 edições da antiga Súmula, 23 da Tema, 20 da Dados, 36 do jornal Proposta, e, com cinco anos e meio de existência, 60 edições da revista Radis. Atual coordenador, o jornalista Rogério Lannes se integrou à equipe do Programa Radis – Reunião, Análise e Difusão de Informações sobre Saúde – em 1987, a convite dos jornalistas Álvaro Nascimento e Marcus Barros Pinto, todos egressos da redação carioca do jornal O Globo. “Nossa entrada no Programa fez parte do projeto de Sergio Arouca, na época presidente da Fiocruz, de dar um tratamento jornalístico às revistas do Radis”, conta. A seguir, Rogério Lannes fala ao Informe ENSP sobre a trajetória pioneira e ininterrupta na comunicação em saúde, suas conquistas e dificuldades.

Informe ENSP: Fale um pouco sobre a história do Programa Radis.

Rogério Lannes:
O Radis foi criado em 1982 como um projeto de educação continuada do Departamento de Ciências Sociais da ENSP, idealizado por economista-sanitarista Sergio Góes, que lançou as revistas Súmula, Tema e Dados. O programa ganhou caráter mais amplo por volta de 1986 e 1987. Na época, jornalistas da grande imprensa foram chamados para abordar de forma mais acessível questões da ciência, tecnologia e saúde e difundir as teses do Movimento Sanitário, que serviram de base para a Constituição de 88 e a Lei Orgânica da Saúde. Para atender a esses novos objetivos, em 1987 foi lançado o Proposta, o Jornal da Reforma Sanitária. Em formato tablóide, visava dar continuidade aos debates da VIII Conferência Nacional de Saúde e acompanhar e influenciar a Constituinte com pontualidade e agilidade. Em 2002, uma grande mudança: as revistas lançadas em 1982 deram lugar à Radis que, com projeto editorial e gráfico inteiramente novos e um volume muito maior de páginas por ano, manteve-se coerente com sua linha editorial e histórica. Nosso público, hoje, chega a 60 mil assinantes entre profissionais, gestores, estudantes, conselhos, instituições de saúde, bibliotecas, instituições de ensino, parlamentares, sindicatos rurais e urbanos, associações de moradores, organizações não-governamentais e veículos de imprensa.

Informe ENSP: O que o Radis representa para a Saúde Pública?

Rogério Lannes:
Ele foi pioneiro em abordar o conceito de saúde de forma ampliada e utilizar linguagem jornalística. Na Constituinte, na votação da Lei Orgânica da Saúde e durante todo o processo de municipalização e implantação do Sistema Único de Saúde, transformou-se num espaço de intenso debate de idéias sobre as experiências em curso. Não ter uma linha editorial chapa branca, nem da Fiocruz nem do Ministério da Saúde, rendeu-lhe credibilidade. Mas acredito que outras alternativas de comunicação no campo da saúde são essenciais para que o maior número de vozes em prol da saúde pública seja ouvida, rompendo o monopólio dos grandes veículos de comunicação.

Informe ENSP: Quais foram os desafios do Radis nestes 25 anos?

Rogério Lannes:
No início, lidar com o choque entre o discurso e o texto acadêmico e o jornalístico. A recente cerimônia de comemoração dos 25 anos do Radis nos trouxe um pequeno exemplo. O presidente da Abrasco, José Carvalheiro, brincou que preferia a expressão “arauto” para o título escolhido pelos jornalistas para definir o Radis, que foi “o mensageiro da Reforma Sanitária”, possivelmente mais inteligível para os leitores em todos os municípios do país. Outro desafio, diverso da linguagem, foi cumprir não mais a função do “arauto”, que difunde unilateralmente informação, mas a do “mensageiro”, que leva e traz as informações e opiniões. Com o tempo, passamos a dar voz também ao cidadão comum e ao trabalhador, envolvidos com as questões da saúde e da qualidade de vida, e não apenas à academia, aos gestores e aos governos.

Informe ENSP: Quais foram as maiores dificuldades?

Rogério Lannes:
As incertezas quanto ao financiamento do Programa foram as maiores. O Radis só veio a ter um orçamento próprio em 2003. A segunda maior dificuldade sempre foi manter uma linha editorial independente, crítica e reflexiva. O período mais difícil nos dois sentidos foi no governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992). Na época, o dinheiro para as publicações do Radis desapareceu, as assinaturas de revistas e jornais foram suspensas e a assessoria de comunicação do ministro Alceni Guerra tentou fazer censura prévia de nossas pautas.

Informe ENSP: Qual é a situação atual do Radis em termos editoriais e financeiros?
Rogério Lannes:
Quando assumi a coordenação do Radis, em 2001, o Programa vinha de um longo período de baixo investimento. Não conseguíamos passar de quatro a seis revistas por ano e a redação estava reduzida a três pessoas. Álvaro Nascimento foi convidado a trabalhar na Vice-Presidência de Desenvolvimento Institucional, Informação e Comunicação da Fiocruz e me transferiu a coordenação. Um acordo entre as Direções da Fiocruz e da ENSP permitiu recompor parcialmente a equipe. Organizamos novos processos de trabalho na redação, redesenhamos a administração, com um setor de informática, e criamos uma nova área de Estudos e Projetos. Uma aproximação importante foi construída com os setores da ENSP responsáveis pelo planejamento, administração, compras e expedição, o que nos permitiu ganhos gerenciais com redução de custos de expedição, correios e impressão, além da agilidade necessária ao fluxo do trabalho. Do ponto de vista editorial, além da articulação que já existe com os outros setores de comunicação dentro e fora da Fiocruz, criamos, este ano, um Conselho Consultivo Externo, que interage com a coordenação do Radis, o diretor da ENSP e o presidente da Fiocruz, avaliando e propondo caminhos para o acompanhamento da Saúde nacional.

Informe ENSP: Quais são seus atuais desafios?

Rogério Lannes:
Quando retomamos o planejamento e a avaliação coletivos, alguns objetivos foram estabelecidos, como a recuperação da periodicidade e a reforma gráfica das revistas, a ampliação da cobertura jornalística, a reformulação do nosso site e a negociação de um orçamento próprio, compatível com as metas de produção, assim como a recuperação e digitalização do acervo de publicações e o envolvimento da equipe com atividades acadêmicas e de pesquisa em comunicação, educação e saúde. Com o empenho da equipe e o apoio das Direções da ENSP e da Fiocruz, todas essas metas foram atingidas. Mas há muito o que melhorar. Pretendemos digitalizar a hemeroteca (notícias de jornal sobre saúde em seu conceito amplo, reunidas desde 1982), aumentar o número de páginas da revista e produzir mais conteúdo em versão exclusiva para a internet, além de dar ao site versões em espanhol e inglês. Para isso, precisamos de mais profissionais e recursos. Acredito que vamos conseguir. Acho que, para um projeto que não tinha máquina fotográfica nem notebook até 2002, já avançamos bastante.


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