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Seminário “Revolução Digital e Saúde” discutiu aceleração no uso das tecnologias em tempos de covid-19

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Publicado em:29/09/2020
Os desafios da transformação digital para a Saúde Pública foram o tema do seminário on-line “Revolução Digital e Saúde: contextos, aplicações, riscos”, promovido pela Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030, com o apoio da iniciativa Brasil Saúde Amanhã.  
 
Realizado no dia 24 de setembro e veiculado pelo canal da VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz no YouTube, o evento contou com quatro painéis temáticos. O primeiro, “Visões da Transformação Digital”, conduzido pelo advogado Christian Perrone, pesquisador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio), tratou de aspectos conceituais e regulatórios da transformação digital e os seus principais impactos para a sociedade. Para ele, entre as tendências trazidas pelas tecnologias e o uso de Big Data e Inteligência Artificial no campo da saúde estão a popularização do uso de gadgets e wearables - dispositivos pessoais como o oxímetro de dedo, e relógios de pulsos ou outros dispositivos utilizados no corpo para registrar dados de condições físicas -, com dados cada vez mais disponíveis e personalizados. 
 
Com o monitoramento constante, no entanto, surgem novos problemas e desafios. A possibilidade de vigilância maior, a manipulação de dados e de comportamentos, a exclusão e discriminação social, e até a perda de empatia e da fronteira entre o digital e o físico estão entre os problemas listados. O pesquisador procurou enumerar elementos de uma reestruturação da arquitetura do sistema de saúde, da governança, regulação e instituições da área no “pós-revolução digital”. Para ele, a chave para enfrentar os novos desafios trazidos pela tecnologia passam por “manter a centralidade no humano” e garantir a proteção de dados desde o início do design dos sistemas e ferramentas de saúde. 
 
Em seguida, o professor Chao Wen Lung, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), abordou as possibilidades de uso das tecnologias em serviços assistenciais, diagnósticos e terapêuticos. Para ele, às vésperas da disseminação da tecnologia 5G, com sua alta conectividade, “nossa fronteira na entrega de serviços de saúde não serão mais os hospitais e consultórios, mas sim as residências. O hospital será um hub principal (um nó do sistema). Toda a saúde terá que convergir para uma saúde conectada”. 
 
O pesquisador afirmou que a educação dos profissionais e dos cidadãos para o uso das tecnologias tem papel essencial e que a inteligência artificial não prescinde do elemento humano. “É como um aplicativo de GPS para o motorista, não prescinde da inteligência humana”, comparou. Segundo ele, é importante melhorar a formação das pessoas para que criem “maturidade e discernimento” nos usos das tecnologias em saúde. “Toda vez que a educação veio depois de uma nova tecnologia só aconteceu dor social”, alertou. 
 
O pesquisador Diego Xavier, do projeto Big Data do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), tratou das possibilidades de uso de tecnologias digitais na dimensão populacional, nas áreas da epidemiologia e vigilância em saúde, considerando também experiências e iniciativas de monitoramento da pandemia de covid?19. 
 
Segundo ele, a velocidade de propagação da doença demandou uma alteração significativa nos processos e métodos de vigilância no campo epidemiológico. “As plataformas de mídia social passaram a ser usadas mais intensamente por agências de saúde para fornecer atualizações e esclarecer incertezas ao público, além de incentivar o debate científico e combater notícias falsas. Empresas adotaram o reconhecimento facial com imagens térmicas para identificar pessoas com temperatura elevada em vários pontos de triagem”, exemplificou.
 
O uso de Big Data, Internet das Coisas e Inteligência artificial, além do aprendizado de máquina, de acordo com o pesquisador, aprimoraram a detecção e o diagnóstico de covid-19, a triagem inicial para casos suspeitos. Aplicativos de celulares também foram capazes de apontar áreas de contágio, fazer rastreamento de contatos e sugerir intervenções direcionadas. “Algumas nações que implantaram de forma eficaz o uso dessas tecnologias foram capazes de conter a pandemia e manter o monitoramento de casos e óbitos de forma mais eficaz”, concluiu. 
 
No último painel, “Implicações e Riscos das Tecnologias Digitais na Saúde”, a coordenadora do MediaLab da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fernanda Bruno, discutiu as implicações sociais e os riscos associados às tecnologias digitais também no campo da saúde mental. Durante a pandemia, de acordo com a pesquisadora, houve um aumento de 226% na instalação de aplicativos de celulares que oferecem serviços de bem estar psicológico”. “Se, por um lado, esses aplicativos oferecem serviços de bem estar físico, mental e emocional, eles, por outro lado, coletam conjuntos de dados muito valiosos para o mercado e para o campo da saúde mental e esses dados passam por trajetos e destinos que ainda não estão muito claros”, apontou.   
 
“Quem usa o aplicativo interage com atores que ele não conhece, como bancos de dados, plataformas e algoritmos”. A pesquisa observou questões de privacidade e uso de dados implicadas, mas, para além disso, Fernanda enxerga um problema também no modelo de cuidado embutido no discurso dos aplicativos sobre a saúde mental. “Há uma grande centralidade no indivíduo, e o bem estar emocional muitas vezes é apresentado como uma ´simples escolha´”, criticou a pesquisadora. “Quando se fala em digitalização da saúde, precisamos pensar em que modelo de cuidado queremos”, declarou. 
 
A abertura do evento foi feita pelo sanitarista Paulo Gadelha, coordenador da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030. Uma fala de introdução foi feita também pelo sanitarista José Noronha, coordenador executivo da inciativa Brasil Saúde Amanhã. Cada apresentação foi seguida por comentários de pesquisadores da Fiocruz Manoel Barral Netto, da Fiocruz Bahia, Angélica Baptista Silva, Fernando Verani e Leonardo Castro, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz). O debate foi mediado pelo pesquisador da Ensp/Fiocruz Marcelo Fornazin.
 
 
O vídeo com o seminário está dsiponível no canal da VídeoSaúde Distribuidora da Fiocruz.
 
Fonte: CCI ENSP
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