INFORME ENSP

O Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP) reeditou o livro Ambiente de Trabalho: a luta dos trabalhadores pela saúde. A nova edição é baseada na versão brasileira original do livro clássico no campo da Saúde do Trabalhador, o Modelo Operário Italiano (MOI), lançada em 1986, pela Editora Hucitec, de autoria de Ivar Oddone; Gastone Marri; Sandra Glória; Mariolina Chiattella; e Alessandra Re.

Construído em um ambiente fabril, o MOI teve como principal objetivo criar um novo método de ação contra a nocividade no trabalho, colocando o trabalhador como protagonista do processo. A publicação teve grande influência no desenvolvimento das relações do campo da Saúde do Trabalhador no Brasil.

O primeiro lançamento do livro aconteceu no dia 10 de julho e na ocasião sofreu um ataque hackers. Sobre o ataque sofrido, a ENSP divulgou uma nota pública e todas as providências jurídicas e judiciais estão sendo tomadas. A nova live de lançamento do livro está marcada para o dia 16 de outubro. Para participar será necessário se inscrever (em breve o link para as inscrições será divulgado).

Confira, abaixo, a entrevista concedia por Kátia Reis, uma das organizadoras da nova edição, sobre o processo de construção do livro.

Informe ENSP: Como foi realizado o processo de organização do livro?

Kátia Reis: Foi um processo bastante amplo e democrático, que teve como objetivo principal dar visibilidade, no âmbito da edição da obra, as várias experiências construídas no decorrer dos anos, tendo como referência central os preceitos do Modelo Operário Italiano (MOI). 

Fica claro que se trata de uma obra considerada uma bíblia do campo da Saúde do Trabalhador. Pioneira no campo, pois inspirou as bases da criação do campo da Saúde do Trabalhador no Brasil. Quando falo das bases são as bases teóricas, conceituais, metodológicas e práticas. Então é uma obra muito importante.

Pra se ter um marco histórico, de modo a compreender o valor da obra. Ela publicada no Brasil em 1986 e, desde então, vêm inspirando e influenciando todo o arcabouço do campo da Saúde do Trabalhador, desde ações de sindicatos, pois afinal trata-se de um modelo operário, mas também no âmbito acadêmico. No Cesteh/ENSP, todas as bases de criação vieram com o aporte contido nesse livro, considerado por muitos como um manual, um guia prático para fazer Saúde do Trabalhador. Essa é uma questão fundamental para pensarmos na importância da reedição.

Informe ENSP: O que o livro representa para o campo da Saúde do Trabalhador?

Kátia Reis: Ele é um marco inaugural, ou melhor, um marco seminal do campo. É a partir dele que começam os debates das conexões entre o trabalho acadêmico, científico, e as organizações dos trabalhadores, como também serve de empuxo para criação da estrutura da Rede SUS, na construção de uma Rede de Saúde do Trabalhador específica, que é a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast).

Ou seja, ele tem toda uma influencia política, conceitual e acadêmica e de organização de trabalhadores muito importante. É uma obra que, de fato, têm uma potência que até hoje inspira ações desenvolvidas nos vários grupos de Saúde do Trabalhador.

Informe ENSP: Como o livro pode contribuir com a questão dos ambientes de trabalho?

Kátia Reis: A base toda do livro, como seu título ‘Ambiente de Trabalho: a luta dos trabalhadores pela saúde’, traz a ideia de ambiente de trabalho (embora a original, que está contida no livro, têm como configuração os ambientes de fábricas e indústrias da época). Atualmente os ambientes de trabalho, sobretudo em período de pandemia, são virtuais. Entretanto, ele traz questões básicas pra se pensar a saúde dos trabalhadores nos ambientes de trabalho, que diz respeito aos processos de trabalho, a organização do trabalho, a forma como o trabalho se desenvolve e cria relações. É fundamental para pensar a relação trabalho e saúde, que são as bases das relações humanas num contexto do ambiente de trabalho.

O ambiente de trabalho nesse livro significa relações humanas, significa normas, significa o trabalho real, o trabalho como ele se desenvolve na realidade, significa nocividades, mapeamento de riscos, e validação do conhecimento pelo saber dos operários.

É Importante destacar que uma das questões do Modelo Operário Italiano (MOI) é exatamente a aproximação do saber operário com o saber acadêmico, a partir da construção das comunidades ampliadas de pesquisa. Existe todo um repertório conceitual importante que ainda marca o desenvolvimento de estudos no nosso campo.

Informe ENSP: O que os organizadores destacariam a respeito da publicação?

Kátia Reis: Foi um processo bastante democrático e amplo de discussão. Temos 28 autores, E somos quatro organizadores: eu, Kátia Reis, Gideon Borges, Renato Bonfatti e Letícia Masson, todos pesquisadores do Cesteh/ENSP. Temos que dar bastante destaque a parceria com a Editora Hucitec. Agradecer muito a Mariana Nada, diretora executiva da Hucitec, que possibilitou todo apoio e suporte para as sessões de debate entre os autores, inclusive o diálogo que tivemos com os autores italianos, entre eles, Alessandra Re, uma das autoras italianas da versão original do livro e viúva de Ivar Oddone, falecido principal autor da obra original. Mariana Nada esteve em diálogo conosco apoiando amplamente a republicação do livro no Brasil. Outra pessoa de fundamental importância na reedição da obra foi a Marianne Lacomblez, uma professora da Universidade do Porto que ajudou fazendo a mediação entre o grupo do Brasil - o nosso grupo do Cesteh - e o grupo italiano da Alessandra Re.

É um momento de comemoração, de celebração pela republicação da obra. O novo lançamento será uma comunhão de pensamentos e celebração, embora o contexto do país e no mundo seja bastante adverso e triste. Esperamos dar uma pausa para a celebração dessa obra de muita importância pra Saúde Coletiva.