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Covid-19: Pesquisa aponta necessidade de investir em APS

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Publicado em:18/08/2020
Covid-19: Pesquisa aponta necessidade de investir em APSSomente 34% dos profissionais das equipes de atenção primária à saúde informaram ter recebido capacitação sobre Covid-19 e sobre uso de equipamento de proteção individual. É o que mostram os resultados da pesquisa Desafios da Atenção Básica no enfrentamento da pandemia da Covid-19 no SUS, conduzida pela USP, Fiocruz, UFBA e UFPEL, a partir da iniciativa da Rede de Pesquisa em Atenção Primária da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), com o apoio da Opas/Brasil. Ainda de acordo com os dados da pesquisa, quando esses dados foram analisados separadamente, a capacitação chegou a 41,1% para EPI e 54,2% sobre Covid-19.
 
Em relação à presença dos equipamentos nas unidades de saúde, os profissionais da APS relataram estar “sempre disponíveis” luvas (85,7%); máscara cirúrgica (67,2%); Máscara N95 (30,0%); óculos ou elmo (62,7%); e avental impermeável (31,9%). Ademais, quando o estudo considerou a existência de todos os EPI, o acesso a esse conjunto foi referido por apenas 21,7% dos profissionais entrevistados, com diferenças entre as regiões brasileiras (16,1% no Nordeste e 38,5% no Sul). Quase 90% dos gestores relatam dificuldade de compras dos equipamentos.
 
“A APS no SUS está se reinventando, redescobrindo novas formas de cuidado. A despeito disso, urge fortalecer a capacitação e a educação permanente de todos os profissionais das equipes, uma vez que somente 34% informaram ter recebido capacitação sobre Covid-19 e sobre uso de EPI organizada pela gestão. Muitas iniciativas de capacitação vêm sendo desenvolvidas gradualmente, mas ainda são insuficientes. É necessário desenvolver estratégias ágeis e amplas de comunicação à distância para atualizar conhecimentos e capacitar para a vigilância à saúde, novas formas de atenção remota e de ação no território”, admitiu a pesquisadora da Fiocruz Ligia Giovanella, uma das autoras do estudo.
 
Quanto à disponibilidade de insumos, o termômetro infravermelho foi considerado suficiente por apenas 18,7% dos profissionais entrevistados, de oxímetros por 35,6%, de oxigênio por 34,7% e o acesso a teste RT-PCR para Covid-19 por apenas 18,9%. Além disso, mais da metade dos profissionais (55%) relataram que não há acesso ao teste RT-PCR, fundamental para diagnóstico, notificação, busca de contatos e alta dos pacientes. “Há necessidade de ampliar a capacidade de testagem. Fazemos ainda muito pouco, o que se demonstra pela elevada positividade dos testes, que chega a 50%. Os países que conseguiram controlar a pandemia alcançaram positividade de 5%, mostrando que estavam testando suficientemente contatos assintomáticos”, diz Giovanella.  
 
A pesquisadora da Fiocruz completa afirmando que, mesmo diante de um cenário adverso, a APS no SUS está se reinventando. “As equipes estão descobrindo novas formas de cuidado à distância por telefone, por WhatsApp, por visitas peridomiciliares dos ACS, mas faltam recursos, internet, oxímetros, termômetros infravermelho, educação permanente para os profissionais, equipamentos de proteção individual. “ constata Ligia Giovanella.
 
Luiz Augusto Facchini, pesquisador da UFpel e membro do grupo de coordenação da pesquisa, sugere. “A APS dispõe de uma rede de mais de 40.000 equipes de saúde da família e 300 mil ACS e Agentes de Endemias, cujo trabalho poderia reduzir a propagação da pandemia pelo interior e periferias das grandes cidades.”
 
APS terá papel fundamental na vacina contra covid-19
 
No que diz respeito à organização do serviço, somente 71,3% dos profissionais referiram que as UBS eram notificadas sobre casos suspeitos e confirmados de sua área de abrangência, ou seja, 30% não recebem esta informação crucial para o acompanhamento dos doentes e rastreamento dos contatos. Os Agentes Comunitários de Saúde por sua vez, foram deslocados para trabalhar na recepção de sintomáticos respiratórios na Unidade Básica de Saúde segundo 48% dos entrevistados, enquanto somente 37% desse contingente estão prioritariamente atuando no território. 
 
A atuação da APS pode ser sistematizada em vigilância em saúde nos territórios; atenção aos usuários com Covid-19; suporte social a grupos vulneráveis; e continuidade das ações próprias da APS. Para a pesquisadora Ligia Giovanella, a atenção primária terá um papel essencial na vacinação contra a Covid. “O Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ) nos mostrou que 77% das UBS ofertavam vacinação regular e dispunham de geladeira exclusiva para vacinas. Quando a vacina contra Covid-19 chegar, as equipes de atenção primária terão o papel fundamental para auxiliar a distribuição a todos os lugares, a todas as pessoas e em todos os rincões do país”, concluiu a pesquisadora.
 
A pesquisa
 
A pesquisa Desafios da Atenção Básica no enfrentamento da pandemia da Covid-19 no SUS teve o objetivo de identificar os principais constrangimentos e as estratégias de reorganização da atenção primária à saúde/ atenção básica (APS/AB) utilizadas pelas Equipes de APS/AB no enfrentamento da Covid-19 nos municípios brasileiros. Participaram da pesquisa 2.566 profissionais e gestores, sendo 1.908 profissionais de saúde da APS/AB e 566 gestores. Os participantes se distribuíram em todos os estados da federação além do Distrito Federal, atuantes mil municípios diferentes.
 
A pesquisa é coordenada por Aylene Bousquat (USP), Ligia Giovanella Fiocruz), Luiz Augusto Facchini (UFPEL), Maria Guadalupe Medina (UFBA) e Maria Helena Magalhães de Mendonça (Fiocruz) e tem o apoio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).
 

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