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Segurança dos petroleiros na pandemia é debatida na ENSP

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Publicado em:05/08/2020
Segurança dos petroleiros na pandemia é debatida na ENSPMais um Centro de Estudos Miguel Murat de Vasconcellos (Ceensp) da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) foi realizado a fim de debater O cenário da Saúde do Trabalhador no setor petrolífero em tempos de pandemia. O tema tem ganhado destaque, já que surgiram muitas denúncias, realizadas pelos petroleiros, no que tange à forma de testagem ou, até mesmo, sua ausência, além da obrigatoriedade de trabalhar apesar de exames positivos.
 
A atividade esteve sob a coordenação da pesquisadora do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/Fiocruz) Liliane Teixeira. Ela explicou que a atividade foi proposta após o inicio da pandemia e, por isso, foi pensada em pesquisadores e sindicalistas atuantes nessas frentes. 
 
A abertura da palestra ficou por conta do professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Marcelo Figueiredo, que falou sobre o cenário da saúde do trabalhador do setor petrolífero nos tempos da pandemia, apresentando as principais medidas defendidas pelo campo de saúde do trabalhador para resolver o desafio do trabalho e torna-lo, realmente, um agente da promoção da saúde. “O trabalho deveria potencializar as capacidades humanas, e não ser o causador de adoecimentos, mutilações e mortes”, ressaltou o pesquisador, visto o grande número de petroleiros afetados pela Covid-19.
 
Para Marcelo, o mundo do petróleo não será mais o mesmo depois da pandemia da Covid-19, já que muitos fatores prejudicaram a grave instabilidade política e econômica instaurada no país, que teve como epicentro as principais empresas de distribuição de óleo e gás, que foram duramente atingidas. “Esse cenário propiciou diversas mudanças ao longo do tempo, assumindo, no tempo atual, um verdadeiro desmonte, que inclui a redução dos gastos operacionais com desdobramentos na frente de trabalho”, destacou ele, que acredita que a forma de gestão adotada por empresas desse setor não considera devidamente a característica do trabalho de quem lida diretamente com a forma do processo. 
 
As complexidades do trabalho dos petroleiros foram citadas pelo professor, que vão desde as atividades coletivas, contínuas e com alto grau de periculosidade com o risco de acidentes ampliados até o isolamento e confinamento para trabalhadores de offshore. Segundo Marcelo, essa condição de trabalho “implica um custo potencial nocivo para a saúde” desses trabalhadores.
 
Segurança dos petroleiros na pandemia é debatida na ENSP
A insatisfação generalizada dos trabalhadores diante das medidas adotadas pelas empresas foi abordada por Marcelo, que questionou a falta de diálogo com esses funcionários. “Porque não conduzir esse processo de construção de tais medidas em conjunto com os trabalhadores e seus sindicatos? Quem está alertando os trabalhadores são os sindicatos”, explicou o professor, que, logo após, relatou as formas de gestão nocivas à saúde e a segurança adotada pelas empresas, como a ampliação de jornada, a dilatação do tempo de embarque e o crescimento da terceirização. 
 
O professor ressaltou preocupação também com a reverberação do sofrimento psíquico desses trabalhadores, dando o exemplo da forma de isolamento “permanente” vivido por eles, já que, saindo do isolamento no trabalho, ainda tem que enfrentar o isolamento doméstico, dentre outras questões que implicam a saúde mental dos profissionais. “O sofrimento psíquico ativado no offshore é reativado no ambiente doméstico”, salientou.
 
Concluindo sua fala, o professor expressou preocupação sobre as regras adotadas pelo “ novo normal”, como o aumento da jornada de trabalho, a dilatação do tempo de embarque, dentre outras, que sejam adotadas como nova norma de trabalho para os petroleiros. “ As empresas do setor petrolífero que se recusam a dialogar com esses trabalhadores, que estão com suas vidas em risco, dentro e fora do ambiente do trabalho, que assediam, punem e demitem, estão em linha com uma tradição que as colocam na vanguarda do atraso”, concluiu o professor.
 
A voz dos trabalhadores frente à pandemia 
 
 “A inversão dos valores para com os trabalhadores, principalmente dentro da empresa em que eu atuo, onde os próprios médicos estão negligenciando atendimento me entristece”. Com esse pesar, o sindicalista da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), Marcelo Juvenal Vasco relatou os mais diversos casos que os trabalhadores do setor petroleiro vêm enfrentando com a pandemia da Covid-19. 
 
Juvenal evidenciou a demora das empresas, como Petrobrás, de implementar medidas significativas para seus trabalhadores, como o fornecimento de EPI, álcool em gel, dentre outros, para evitar os contágios. “As máscaras demoraram mais de um mês para chegar até as bases, e já tínhamos surtos de casos em várias,” observou ele. 
 
Segundo ele, bases do Norte do país apresentaram casos elevadíssimos nas bases de extração, e, mesmo assim, a Petrobrás demorou muito para agir, além de denunciar a forma como a empresa vem tratando os testes com os trabalhadores. “A empresa está fazendo os testes rápidos nos trabalhadores quando não realiza o exame completo, e os médicos da Petrobras estão considerando aptos ao trabalho os profissionais com ICM E ICG reagente”, disse ele, que contabilizou, só na refinaria de Cubatão, em São Paulo, 22 pessoas liberadas para trabalhar com os exames reagentes. Para ele, os próprios médicos da Petrobrás estão ajudando a propagar a doença dentro da empresa com essa atitude. 
 
Segurança dos petroleiros na pandemia é debatida na ENSPAlém disso, ele denuncia que a empresa não reconhece as mortes pela doença, não emitindo a Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT). “No Ministério de Minas e Energia, só constam três mortes, mas sabemos que são muito mais”, salientou ele, que, logo em seguida, afirmou que, ao contrário do que a empresa diz, ela não está tendo cuidado com seus funcionários. “A que preço os trabalhadores petroleiros estão arriscando suas vidas? Os trabalhadores estão levando o vírus para dentro de suas casas. Estamos sofrendo ataques aos nossos direitos. Para nós, trabalhadores petroleiros ficam só com a pandemia, e os lucros ficam com os acionistas”, concluiu.
 
Já o sindicalista da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Alexandre Guilherme Jorge, expôs os riscos à segurança dos petroleiros, que se intensificaram durante a pandemia da Covi-19. Calor, risco biológico, alta pressão, poeira são alguns dos riscos que os trabalhadores estão passando. Para piorar, Alexandre diz que as medidas para combater essa exposição não são debatidas com os petroleiros. “Nós somos apenas informados”, reclamou ele. 
 
Para ele, a atual gestão da Petrobrás não tem compromisso com a saúde dos trabalhadores, com o meio ambiente e a vida. “Eles estão totalmente voltados para o lucro dos acionistas estrangeiros”, reclamou ele explicando como a empresa vem fazendo testagem em seus funcionários. “Muitos petroleiros estão sendo testados  depois do trabalho. Trabalha, depois testa. Eles não testam antes de começar o serviço para não ter baixa na produção. Eles alegam que a produção não pode parar”, salientou.
 
Outro relato feito pelo sindicalista é o fato de a empresa não se responsabilizar pelos casos de funcionários contaminados pelo novo coronavírus. “Desde muito tempo, a Petrobras vem colocando a culpa de algum acidente de trabalho no próprio trabalhador. No caso do coronavírus, quando o trabalhador é contaminado, a culpa é pela falta de cuidado do mesmo, não pela má conduta da empresa”, explicou. 
Além disso, ele alega que o setor não tem a contabilidade relacionada aos casos de contaminados, falecimento, curados, pois esses dados estão sendo escondidos, além de sofrer mudanças grosseiras a cada divulgação. Alex cita um caso de uma refinaria no Paraná, onde teve 90 casos positivos em uma semana. Para não contabilizar esse número no município, a prefeitura estava “brigando” com a Secretaria Estadual de Saúde para que os 90 casos fossem diluídos no total de casos de contaminados do Estado, omitindo a atual situação daquela refinaria. 
 
Ao final da sua fala, o sindicalista fez um alerta para que os trabalhadores busquem o sindicato para fazer denúncias para que o sindicato possa atuar de forma mais efetiva e receber, também, orientações para possíveis situações.
 
Rede de Informação sobre a Exposição ao Agente SARS-COV-2 no Trabalho
 
A pesquisadora do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia  Humana (Cesteh/ENSP) Liliane Teixeira mostrou o trabalho realizado pelo Cesteh por meio da Rede de Informação sobre a Exposição ao Agente SARS-Cov-2 no Trabalho, além do documento emitido para auxiliar o Ministério Público do Trabalho (MPT) e orientar as empresas sobre as testagens da Covid-19.
 
Assista ao Ceeensp completo:
 
 


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