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Artigo alerta para perigo de adoção parcial ou renúncia de medidas de distanciamento social

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Publicado em:22/06/2020
Artigo alerta para perigo de adoção parcial ou renúncia de medidas de distanciamento socialEm artigo publicado no jornal El País, o farmacêutico sanitarista e especialista em Direito e Saúde e em Pneumologia Sanitária pela ENSP, Leandro Farias, alerta para o possível aumento de casos ou mortes por Covid-19 caso medidas de flexibilização de isolamento social sejam adotadas. Confira, abaixo, a íntegra do artigo:
 
Saúde, economia e sensatez na pandemia
 
O distanciamento social tem custos econômicos, mas adotá-lo parcialmente ou renunciar a ele pode custar muito mais caro. É “natural” que haja “tensionamento” para a flexibilização das medidas de distanciamento social por conta dos impactos econômicos gerados. Os resultados divulgados da economia, no primeiro trimestre, mostram queda de 3,4% na população ocupada e redução de 2% no consumo das famílias. O déficit primário em abril foi de 92,9 bilhões de reais, e parece haver pouco espaço para uma expansão fiscal vigorosa com uma crise dessa magnitude exige.
 
Porém, precisamos reforçar que a economia é feita por pessoas. Os números revelam que apenas o Estado do Rio de Janeiro ultrapassou a marca de países inteiros (China, Índia e Rússia!) em número de mortes confirmadas por Covid-19: 5.686 mortes e 56.732 casos confirmados.
 
Um estudo da Fiocruz indica que, mesmo com a restrição parcial ou total ― o chamado lockdown ―, o coronavírus continuará circulando, e qualquer nível de relaxamento resultará em aumento de casos e mortes (dezenas de milhares), uma vez que, na ausência de uma vacina ou medicamento para Covid-19, as medidas de distanciamento social são necessárias por alguns períodos até 2024.
 
“(...) a adoção das medidas de distanciamento social resulta em custos econômicos, mas adotá-las parcialmente ou renunciar a elas pode significar não só custos maiores, mas, também, graves impactos para a saúde. (...) Podem gerar dezenas de milhares de óbitos que seriam evitáveis", dizem os pesquisadores.
 
Relembrando: a economia é feita por pessoas. Convido você, leitor, a fazer a seguinte reflexão: Quanto tempo leva para que um profissional se torne capacitado para desempenhar tal função? Quanto tempo VOCÊ levou para se tornar apto para executar o seu trabalho? Lembrando que os processos de “ficar de pé”, “andar”, “falar”, “ler”, “escrever”, “fazer contas” e todo o período acadêmico são inclusos no seu tempo de aprendizado.
 
Na economia, é preciso haver quem produza e quem compre, e, para isso, é necessário haver saúde. Consultas, exames, internações e medicamentos têm custo elevado, basta olhar o porcentual do PIB estadunidense destinado à assistência à saúde.
Segundo dados da Subsecretaria de Atenção Hospitalar Urgência e Emergência, do início de abril até a semana passada, 1.298 pacientes morreram com síndrome respiratória aguda grave na fila à espera de um leito nas 26 emergências da prefeitura do Rio. E, neste momento, leitor, haveria centenas de pessoas na fila por leitos de enfermaria e UTI.
 
Levantamento feito pela Ministério Público do Rio de Janeiro mostra que há 1.886 leitos impedidos de funcionar em 27 hospitais da rede federal, estadual e municipal, e 55% deles, por conta de falta de profissionais, seguido de infraestrutura.
Enquanto isso, em plena pandemia, investigações expõem possíveis relações entre lideranças políticas, empresários, o governador do Rio e o escritório de advocacia da primeira-dama, cenário semelhante a um “passado bem recente”.
 
Mais de 700 milhões de reais foram destinados à montagem e ao funcionamento de sete hospitais de campanha; porém, dos sete hospitais prometidos para o final do mês de abril, apenas um está em funcionamento, o Hospital do Maracanã, que, apesar de inaugurado, segundo reportagens, tem demonstrado desorganização e precariedade.
 
Em 31 de dezembro, a China enviou o alerta à Organização Mundial de Saúde sobre a Covid-19. Após um mês, a Itália registrou os dois primeiros casos (dois turistas chineses). Em 26 de fevereiro, anunciamos o primeiro caso, um homem que retornou de viagem da Itália. Ou seja, o Brasil acompanhou antecipadamente a gravidade e as medidas sanitárias adotadas pela China, Europa e EUA.
 
Ainda não existe vacina ou medicamento para eliminarmos o vírus. Por ser uma doença nova, ainda estamos pesquisando e buscando entender quais os efeitos do vírus em nosso organismo. Precisamos ganhar tempo! Por isso, a importância de não sobrecarregarmos o nosso sistema de saúde. A retomada gradual da economia requer, primeiramente, respeitar e seguir com as medidas de distanciamento social, implantação de um programa de testagem em massa da população e ampliação da oferta de leitos hospitalares. Economicamente falando: toda vida importa!
 
Leandro Farias é farmacêutico sanitarista da Fiocruz, fundador do Movimento Chega de Descaso
 

Fonte: El País
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