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Painel discute os idosos e temas transversais em meio à pandemia da Covid-19

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Publicado em:25/05/2020

*Moniqui Frazão

 

Culpar os idosos por onerar o sistema público de saúde e rejeitar comportamentos e atitudes dessas pessoas em gestos de intolerância são algumas das tendências que se acentuaram com a pandemia do novo coronavírus, como afirmaram pesquisadores reunidos no painel online “Ágora Abrasco: Covid-19 no Brasil = Gerontocídio?”, promovido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e transmitido no dia 29 de abril. Como a chegada da covid-19 no Brasil acentuou os preconceitos e os estereótipos em relação aos idosos, ao mesmo tempo em que intensificou um cenário de desproteção social a essa população? As tensões impostas pela pandemia, como o medo de contaminação e a falta de recursos, fizeram emergir alguns debates, entre os quais os idosos têm sido considerados uma das principais preocupações. Considerados como grupo de risco para a doença, o preconceito contra eles apareceu ou, de acordo com alguns especialistas, foi acentuado.


Para Anita Neri, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/Unicamp), o contexto atual é de pico do chamado etarismo, definido por ela como forma de intolerância que se reflete em comportamentos e atitudes com relação aos idosos. “A vida inteira observamos o acesso desigual dos mais velhos à participação social, oportunidades e direitos, simplesmente com base na idade cronológica e no conceito de que os velhos são todos iguais: frágeis, desamparados, dependentes e improdutivos”, ressaltou. Segundo ela, com a pandemia de covid-19, estamos vivendo também um surto de etarismo que contribui para agravar essa divisão secular entre velhos e jovens, entre “nós e eles”. “Também se acentua a culpabilização dos idosos por estarem onerando o sistema de saúde e desviando recursos que melhor caberiam ao atendimento dos mais jovens que produzem riqueza, ao invés dos velhos, que são inativos. Isso não é novo, mas está aflorando com toda a força nesse momento", afirmou.


Anita também alertou que os estigmas em relação à velhice podem ter consequências duradouras sobre as atitudes relacionadas aos idosos nas próximas gerações. “As pessoas que hoje são jovens poderão incorporar estereótipos negativos em relação à velhice, prejudicando as suas relações com o seu próprio envelhecimento. E, mais do que isso, no futuro eles poderão prejudicar ainda mais, por meio de políticas e práticas sociais discriminativas e restritivas”, pontuou.


Já Marília Louvison, docente da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP) e integrante do Conselho Deliberativo da Abrasco, trouxe a discussão sobre aspectos do sistema universal de saúde. Ressaltou a importância de um sistema universal para o enfrentamento da pandemia. “É reconhecido que só sobrevivemos a uma pandemia desse tipo com um bom sistema universal. O nosso sistema é um sistema universal, mas ele é fragmentado, subfinanciado, recentemente desconstruído, com um congelamento de gastos sociais que não assume a questão dos cuidados de longa duração, dos cuidados paliativos, serviços mais amigáveis ao idoso. Ou seja, já tem uma condição constitutiva no cotidiano que não é amigável ao idoso”, destacou. Em seguida, ela defendeu a regulação de 100% dos leitos públicos e privados em resposta à necessidade provocada pela pandemia. “É preciso ter os recursos no tempo certo, para que a gente possa minimizar algo tão difícil e de grande magnitude, que não vai ser fácil em nenhum país do mundo”, completou.


Etarismo e suas consequências


O termo “ageism” (ou etarismo) foi criado por Robert Neil Butler, gerontólogo, em 1969, para se referir à intolerância relacionada à idade. De lá para cá, o mundo seguiu vendo o envelhecimento da população mundial, com o aumento das expectativas de vida nos países. A expectativa de vida global aumentou de 64,2 anos (em 1990) para 72,6 anos em 2019, e deve chegar a 77,1 em 2050; e em 2018, pela primeira vez, pessoas com 65 anos ou mais superaram em números as crianças menores de cinco anos no mundo, segundo números da ONU, divulgados em junho do ano passado (Agência Brasil, 17/06/19).


Em mensagem recente (01/05), António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, também expressou preocupação com os efeitos da pandemia sobre os idosos. Segundo ele, a covid-19 está causando “medo e sofrimento incalculáveis para pessoas idosas em todo o mundo”. Ele publicou no dia 1° de maio um relatório a respeito do impacto da pandemia sobre as pessoas idosas. O site das Nações Unidas Brasil destaca algumas recomendações para essa faixa etária, entre elas:  que nenhuma pessoa, jovem ou velha, é dispensável, e que os idosos têm os mesmos direitos à vida e à saúde que todos os outros; que embora o distanciamento físico seja crucial, não se pode esquecer que o mundo é uma comunidade e que todos estão ligados; que todas as respostas sociais, econômicas e humanitárias devem levar em consideração as necessidades dos idosos, desde a cobertura universal de saúde à proteção social, trabalho decente e pensões. O secretário também disse que o mundo não deve “tratar as pessoas mais velhas como invisíveis ou impotentes” (Nações Unidas Brasil, 01/05).



*Estágio supervisionado



 


Fonte: Radis
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