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Aula Inaugural da Fiocruz debate pandemia, economia e saúde pública

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Publicado em:17/03/2020
A Fiocruz promoveu, nesta segunda-feira (16/3), a sua Aula Inaugural de 2020. O evento teve como destaque a conferência Saúde pública na Era do Desenvolvimento Sustentável, do economista americano Jeffrey D. Sachs, da Universidade Columbia. A palestra, que foi transmitida ao vivo dos Estados Unidos e contou com a mediação da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, não teve público presencial, devido às medidas de prevenção e contenção da pandemia do novo coronavírus. O público acompanhou via internet.
 
Aula Inaugural da Fiocruz debate pandemia, economia e saúde pública
A palestra, que foi transmitida ao vivo dos Estados Unidos e contou com a mediação da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, não teve público presencial, devido às medidas de prevenção e contenção da pandemia do novo coronavírus (foto: Peter Ilicciev)

Antes de passar a palavra a Sachs, Nísia prestou solidariedade à Universidade Columbia e fez um breve balanço da trajetória acadêmica do economista. Autor de vários livros, colunista de dezenas de jornais, consultor de governos e um dos maiores especialistas no planeta no tema do desenvolvimento sustentável, Sachs foi incluído duas vezes na lista dos 100 Líderes mais Influentes do Mundo e é uma das principais referências nas questões relativas ao combate à pobreza e ao crescimento econômico, em especial nos países em desenvolvimento.
 
Sachs iniciou sua participação lamentando não poder estar presente pessoalmente à aula inaugural e agradeceu o convite para fazer a abertura do ano acadêmico da Fiocruz. “Diante da atual crise, dos desafios que temos à frente e das restrições às viagens, todos os dias importam. Conheço bem a Fiocruz e sei que a instituição é crucial, para o Brasil e o mundo, na resolução da atual crise gerada pelo novo coronavírus. E farei tudo para ajudar o Brasil a superar esse grave momento. A saúde pública, em todo o mundo, precisa cooperar e trabalhar em conjunto. Contem comigo”.
 
Para o professor americano, os líderes políticos mundiais não estão à altura do desafio e não conseguem dar as respostas satisfatórias à crise. “Os Estados Unidos têm atualmente o presidente mais perigoso, para o próprio país e também para o mundo. No momento não precisamos e nem queremos ouvir políticos, e sim os cientistas, os especialistas. Eles é que vão nos ajudar a sair dessa situação”. Ele listou a mudança dos hábitos em Nova York a partir desta segunda-feira, quando praticamente todas as atividades pararam.
 
“Achávamos que algo assim era inimaginável, mas aconteceu. Trump e seu governo não entenderam nada e portanto não fizeram nada para deter a progressão do problema, que se tornou imenso”. Sachs lembrou que a Fiocruz tem um histórico de bons resultados e surgiu, nos idos de 1900, para enfrentar a febre amarela, a varíola, a peste bubônica e outras doenças tropicais e que a Fundação conseguirá, agora, responder ao novo coronavírus de maneira eficiente.


Confira o evento na íntegra.

O economista afirmou que a atual pandemia é de difícil controle, porque é transmitida facilmente e porque o seu combate exige uma mudança radical na vida das pessoas. Mudança essa que os líderes políticos, com poucas exceções, não conseguem realizar a contento. “Poucos países, como Cingapura e Taiwan, realmente pararam. Quando começa a transmissão comunitária e o rápido alastramento da doença, como já ocorre no Brasil, fica quase impossível controlar. Nos EUA estamos, oficialmente, com cerca de 3 mil casos, mas esse número deve ser 10 vezes, ou mais, maior, já que a testagem aqui é baixa”.
 
Sachs espera que a Fiocruz consiga desenvolver um modelo epidemiológico para o Brasil, usando dados e informações geoespaciais, dentro de um esforço nacional para conter e debelar a crise. “Alguns modelos sugerem que até 65% da população mundial pode ser infectada. Quanto mais esperarmos para tomar as medidas necessárias, e radicais, mais a pandemia vai se alastrar. O tempo é extremamente importante”.
 
Segundo Sachs, a China parece ter sido bem sucedida em controlar o novo coronavírus. “O país é muito organizado, de cima para baixo, e implantou políticas rígidas. Em Wuhan, onde tudo começou, a população foi obrigada a informar às autoridades, duas vezes por dia, sua temperatura, para que todos fossem monitorados. Nos EUA e no Brasil um cenário assim é provavelmente muito difícil, já que há uma desorganização geral por parte dos governos. Além disso, fechar tudo leva a dificuldades”.
 
De acordo com o conferencista, esta é a primeira “epidemia online” da História e com certeza deixará lições e mudará hábitos. “Haverá forçadamente uma mudança na economia. As pessoas verão que é possível trabalhar de casa, as universidades ampliarão suas atividades de ensino a distância, serão realizadas menos reuniões presenciais, gastaremos menos combustíveis. Na saúde, a conectividade, com a telemedicina, os serviços sociais online trarão benefícios. É um aprendizado dramático, que terá efeitos importantes e duradouros na economia mundial”.
 
Sachs disse que os impactos negativos na economia também serão grandes. “Vamos perder produção e a atividade econômica vai declinar. Teremos um choque, mas desta vez, ao contrário de outras crises, será diferente. Minha previsão, que está mais para um chute, é que a economia mundial cairá cerca de 10 a 12%, com uma fase extrema que poderá se estender por até três meses. Acredito que será a pior queda desde a crise de 1929 e que as dificuldades serão prolongadas, o que é mais complicado ainda em um país como o Brasil, frágil financeiramente”. 
 
O professor disse que o Brasil está duas semanas atrás dos EUA, no que diz respeito ao agravamento da pandemias, e que deve olhar para o vizinho do Norte como exemplo do que não deve ser feito. “Trump foi negligente e não capacidade, não está à altura de uma crise como essa. Perdeu muito tempo negando a doença, em que pesem os esforços do CDC e do NIH. Mas esses institutos tiveram seus orçamentos muito reduzidos, o que neste momento gera problemas. Temos um governo de idiotas”. Para Sachs, a cooperação internacional é fundamental, pois o Covid-19 não será facilmente erradicado, além de ser uma epidemia global que, segundo ele, “ficará conosco por muito tempo”. 
 
Após a conferência, os ex-presidentes da Fiocruz Paulo Buss e Paulo Gadelha fizeram perguntas a Sachs. Devido a outros compromissos, ele precisou ser rápido nas resposta às perguntas de ambos, que tiveram a ver com o multilateralismo, tão combatido pelo Governo Trump. Segundo Sachs, a crise é global e mostra que os países são totalmente interdependentes. “As mudanças climáticas, a defesa da biodiversidade, a importância da [Organização das Nações Unidas] ONU e da [Organização Mundial da Saúde] OMS, o Acordo de Paris e outros temas multilaterais precisam ser levados a sério. É claro que podemos ser orgulhosos de nossos países, mas é necessário reconhecer que dependemos uns dos outros e que a cooperação vai nos ajudar a enfrentar as crises, como a do novo coronavírus”.
 
Mesa de abertura da conferência
 
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, reiterou o compromisso da instituição com a gravidade da situação a nível global com a pandemia do Covid-19. “É importante lembrar do grande esforço que estamos assumindo para mobilizar toda a nossa capacidade e todas as áreas do conhecimento para responder a esse desafio. A Fiocruz não poderia agir de forma diferente em seus 120 anos”, disse. “Cabe a todos nós, à comunidade científica e principalmente às autoridades públicas, pensar em medidas imediatas para a contenção dessa pandemia – e também de outras emergências que certamente virão”. Por fim, apontou que a grande forma da sociedade se mostrar resistente e unida é corresponder a medidas de proteção coletiva.
 
Aula Inaugural da Fiocruz debate pandemia, economia e saúde pública
Vice-presidente de Informação, Educação e Comunicação, Cristiani Vieira Machado apontou a necessidade da coletividade em momentos de crise na saúde (imagem: Divulgação)

Essa também foi a mensagem da vice-presidente de Informação, Educação e Comunicação, Cristiani Vieira Machado, que apontou a necessidade da coletividade em momentos de crise na saúde. “Devemos pensar no bem público, nos mais vulneráveis e naqueles que terão mais dificuldade de se proteger ou de acessar serviços de saúde de qualidade”. No que tange as atividades de educação, Cristiani afirmou que haverá orientações específicas, como alternativas pedagógicas e canais de comunicação com os alunos da Fiocruz. “Precisamos enfrentar essa pandemia com responsabilidade e tranquilidade”, pontuou. Ela lembrou que o Plano de Contingência da Fiocruz, assim como outras informações ligadas ao coronavírus, estão disponíveis no Portal Fiocruz.
 
Cristina Guilam, coordenadora-geral de Educação, falou sobre acolhimento: “Estamos diante de uma pandemia que nos impele ao isolamento, no entanto queremos passar a ideia de pertencimento diante aos desafios”, disse. Ela comentou a necessidade de repensar eventos de acolhimento aos estudantes, como o Fiocruz Acolhe, que foi cancelado. E completou com anúncios para a área da educação e do ensino na Fiocruz: “Hoje lançamos a chamada para o Prêmio Oswaldo Cruz de Teses e a Medalha Virginia Schall de Mérito Educacional. Vamos nos manter juntos, informados e conectados”, finalizou.
 
Aula Inaugural da Fiocruz debate pandemia, economia e saúde pública

Presidente da Associação de Pós Graduandos, Richarlls Martins falou de atividades virtuais e necessidade de enfrentamento da crise da melhor maneira possível (imagem: Divulgação)

Quem representou o corpo discente na mesa de abertura do evento foi Richarlls Martins, presidente da Associação de Pós Graduandos (APG-Fiocruz). “Nós da APG estamos nos organizando para enfrentar esse contexto de crise da melhor forma, pensando meios de trocar conteúdos, disciplinas e atividades virtualmente”, contou Richarlls. “Entendemos que são medidas necessárias, principalmente para a população pobre, porque precisamos de ações urgentes que garantam a saúde de todos – enquanto representação discente temos o maior orgulho pelo papel da Fiocruz nesse contexto”, comentou.

O sindicato de trabalhadores da Fiocruz (Asfoc) foi representado por Michele Alves, presidente da associação. Ela lembrou da luta do sindicato em defesa da ciência, da tecnologia, da educação e do Sistema Único de Saúde (SUS). “Vocês devem estar junto com a gente se engajando nesse desafio, para que consigamos cada vez mais efeturar nossas pesquisas”, disse Michele.


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