Busca do site
menu

Susan Ayers: o suicídio é a principal causa de mortalidade materna no Reino Unido

ícone facebook
Publicado em:12/03/2020
Susan Ayers é diretora do Centro de Pesquisa em Saúde Materna e Infantil da City University, em Londres, especializada na saúde mental das mulheres durante a gravidez e após o parto, com foco particular na relação entre parto e transtorno do estresse pós-traumático. A psicóloga e professora apresentou, durante o Centro de Estudos da ENSP, resultados de relatórios que mostram que de 15 a 20% das mulheres relatam problemas de saúde mental durante a gravidez e/ou período puerperal. No Reino Unido, o suicídio já é a principal causa de mortalidade materna (morte de mulher da gravidez até o primeiro ano do nascimento da criança). Os dados apontam, ainda, que 4% da mulheres têm transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) na gravidez naquele país. “Em números absolutos, mais pessoas sofrem de TEPT por partos do que veteranos de guerra”, comparou. A psicóloga britânica mostrou quais são as principais barreiras ao acesso a um tratamento efetivo no sistema de saúde de seu país. “Uma das barreiras para que as mulheres consigam ajuda é que elas possam reconhecer os sintomas nelas mesmas e conversem com alguém a respeito”, contou ela em entrevista após a apresentação no Ceensp. 

Susan Ayers: o suicídio é a principal causa de mortalidade materna no Reino Unido

Foi dito, durante o seminário, que a saúde física das mulheres grávidas e a saúde física dos bebês recebe muito mais atenção do que a saúde mental materna perinatal. Por que é importante dar mais atenção à saúde mental das grávidas e puérperas?
 
O impacto na vida da mulher dos problemas de saúde mental perinatal podem ser devastadores. Como eu disse, no Reino Unido, o suicídio é a principal causa de morte de mulheres no primeiro ano após o nascimento de um filho. O impacto na família sobrevivente é também imenso. Quando você ouve de um pai “perdi a mãe dos meus filhos por suicídio e, agora, tenho uma criança recém-nascida para criar, isso realmente tem um efeito enorme em provocar uma reflexão sobre mudanças. E o trauma de mais longo prazo na criança atravessa até a geração seguinte. Isso é muito importante de ser abordado por profissionais de saúde e incluído nas políticas públicas. Os dados apontam, ainda, que 4% da mulheres têm transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Em números absolutos, mais pessoas sofrem de TEPT por partos do que veteranos de guerra.
 
Você falou, em sua apresentação, que os problemas de saúde mental na gravidez e no puerpério são frequentes, mas a principal barreira para que as mulheres consigam ajuda é o estigma que envolve os diagnósticos. Como combater esse estigma?
 
Uma das coisas que nós realmente temos que fazer é aumentar a conscientização e reduzir o estigma, então o quanto mais disseminarmos informações sobre problemas de saúde mental perinatal e sobre as pessoas que vivenciam esses problemas, mais as pessoas vão compreender, e isso contribui para reduzir o estigma. Uma das barreiras para que as mulheres consigam ajuda é que elas possam reconhecer os sintomas nelas mesmas e conversem com alguém a respeito. Algumas vezes, elas têm medo de que as crianças sejam retiradas dos seus cuidados caso demonstrem ter algum sintoma de transtorno mental, e isso atrapalha o diagnóstico e o tratamento.
 
O estigma vem diminuindo nos últimos tempos?
 
Não tivemos estudos que avaliassem o estigma ao longo do tempo. No Reino Unido, não tivemos uma campanha a respeito de saúde mental perinatal com o objetivo de reduzir o estigma. Tivemos campanha a respeito de saúde mental de uma forma geral, e ela mostrou resultados positivos, de que se você investe no tema isso realmente pode funcionar.
 
Quais são os melhores argumentos para se persuadir as autoridades a investirem na conscientização e tratamento de problemas de saúde mental perinatal? 
 
Primeiro de tudo, é alta a carga das doenças, e os efeitos de longo prazo na vida da mulher e da criança até sua idade adulta, que têm desdobramentos em toda a família. O impacto econômico é imenso, custa muito para a sociedade, especialmente pelo fato de os problemas perdurarem no longo prazo durante toda a vida da criança.
 

Seções Relacionadas:
Entrevistas

Nenhum comentário para: Susan Ayers: o suicídio é a principal causa de mortalidade materna no Reino Unido