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Além do coronavírus, dengue, chikungunya e zika também são graves problemas de saúde pública global

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Publicado em:04/03/2020
Além do coronavírus, dengue, chikungunya e zika também são graves problemas de saúde pública globalEm época de coronavírus, o alerta também deve servir para as infecções por arbovírus, incluindo dengue, chikungunya e zika, importantes doenças emergentes e reemergentes, que são consideradas graves problemas de saúde pública global devido à sua forte morbimortalidade. "A dengue é endêmica em mais de 100 países nas regiões tropicais e subtropicais do mundo, totalizando cerca de 100 milhões de casos notificados por ano. Estimativas utilizando modelagem estatística sugeriram que a dengue infecta aproximadamente 390 milhões de pessoas por ano no mundo, das quais 96 milhões apresentam sintomas detectáveis ​​com diferentes níveis de gravidade."
 
A detecção de clusters de dengue representa uma importante estratégia de epidemiologia, que contribui para melhores alocações de medidas de controle no território e priorização de áreas sujeitas a risco aumentado de transmissão. São raros os estudos que envolvem populações humanas com mobilidade baixa; portanto, o estudo Definição de áreas persistentes com risco aumentado de dengue através da detecção de clusters em espécies com diferentes padrões de mobilidade e imunidade no Rio de Janeiro, Brasil teve como objetivo investigar a presença de clusters persistentes de dengue no município do Rio de Janeiro, entre variações com diferentes padrões de mobilidade e imunidade. O cluster da dengue é definido como pelo menos dois casos localizados a 200 metros um do outro e cujas datas de início dos sintomas estão a três semanas uma da outra. 
 
Para estruturas como populações, os clusters persistentes estavam localizados principalmente na Zona Oeste da cidade, conforme constata a pesquisa. A semelhança espaço-temporal entre as áreas de risco persistente em áreas de risco, como sugere a Zona Oeste, uma região com crescimento urbano desordenado e média de renda baixa, apresenta o maior risco de transmissão de dengue. A definição de clusters de dengue persistentes contribui para o aprimoramento das estratégias de controle da dengue e de planejamento territorial.
 
De acordo com o artigo, os padrões de transmissão de DENV são determinados por uma combinação de fatores sociais e ambientais que incluem o hospedeiro humano, o vírus e o vetor. A cidade do Rio de Janeiro é caracterizada por grande heterogeneidade e complexidade espacial. A cidade possui alta densidade populacional, crescimento urbano desordenado, falta de infraestrutura, degradação ambiental e grande desigualdade socioespacial. Essas características territoriais, aliadas às condições climáticas locais, contribuem para o estabelecimento e manutenção das epidemias, dificultando o controle da dengue e as medidas de prevenção.
 
"Grande parte dos estudos ecológicos em epidemiologia vê o território de maneira homogênea para a detecção de padrões de transmissão, deixando de representar a heterogeneidade envolvida na dinâmica epidemiológica de determinadas doenças. Assim, a estratificação territorial em áreas com maior risco por meio da análise de agrupamentos busca padrões espaciais de eventos e caracterização de áreas homogêneas", observam os autores.
 
A análise de varredura no espaço-tempo também tem sido usada para estudar a dengue, dizem os pesquisadores. Já foi estudada a interação entre densidade populacional e falta de água corrente como causa de surtos de dengue no Vietnã. No norte da Argentina, já estudaram a propagação de um surto de dengue com base no agrupamento de casos no espaço-tempo. Análises espaço-temporais de casos de dengue foram realizadas na Tailândia, Vietnã e Colômbia. No Brasil, foram identificadas três publicações que discutem dengue usando o SaTScan: uma analisa casos de dengue na cidade de Lavras, Minas Gerais, entre 2007 e 2010; o segundo detecta clusters baseados na sazonalidade da dengue nos municípios brasileiros de 2007 a 2011 ; e a terceira, analisa a determinação de clusters e fatores associados à propagação da dengue durante a primeira epidemia envolvendo o DENV-4 na cidade de Vitória, Espírito Santo.
 
Os autores não encontraram nenhum estudo sobre a detecção de clusters usando o SaTScan para a cidade do Rio de Janeiro. Nesse contexto, a cidade é um cenário importante para a compreensão dos fatores que afetam a dinâmica da transmissão da dengue e a exacerbação da doença, uma vez que o RJ apresenta consideráveis ​​diferenças socioeconômicas e demográficas entre suas regiões administrativas, além de apresentar altas taxas de incidência ao longo dos anos. 
 
Segundo eles, a forma como o espaço geográfico é modelado afeta significativamente os padrões de mobilidade humana, geralmente dando origem a aglomerados de mobilidade altamente locais. O uso de grupos populacionais que diferem em sua mobilidade pode ser uma ferramenta importante para a escolha de grupos populacionais para abordar objetivos e doenças específicos . Tanto a mobilidade humana quanto a imunidade aos diferentes sorotipos de DENV são consideradas fatores de confusão na definição de áreas prioritárias para intervenções em dengue.
 
As atuais estratégias de controle da dengue, especialmente aquelas direcionadas ao vetor primário, Ae. aegypti , dizem os autores que produz resultados limitados, uma vez que os sistemas de saúde têm utilizado metodologias gerais em todo o território, deixando de levar em conta as diferentes realidades locais. Definir áreas com maior risco é, portanto, uma maneira de racionalizar recursos e otimizar os resultados das intervenções.
 
Assim, este estudo procurou investigar a presença de aglomerados persistentes de dengue no espaço-tempo na cidade do Rio de Janeiro em populações com perfis distintos de mobilidade e imunidade, com base na incidência de dengue entre 2008 e 2014. Utilizamos dados de incidência para a população de 5 anos e mais velhos (com maior mobilidade e mais expostos ao DENV ao longo do tempo) e à população de crianças menores de 5 anos (com menos mobilidade e menor probabilidade de terem sido expostos a diferentes sorotipos de DENV), além de definir as regiões com aglomerados persistentes, que ou seja, aqueles que se repetem ao longo dos anos nos dois grupos populacionais.
 
Outro estudo acerca do tema é De toda maneira tem que andar junto: ações intersetoriais entre saúde e educação para crianças vivendo com a síndrome congênita do vírus Zika. Com base na experiência de um programa de intervenção para famílias de crianças com a síndrome congênita do vírus Zika, que inclui múltiplas deficiências, em uma instituição de educação, foram observados os desafios e conquistas encontrados com a entrada dessas famílias no sistema escolar. O objetivo deste artigo também foi explorar as possíveis contribuições para a construção das relações intersetoriais visando à inclusão escolar de crianças com deficiência. “É possível constatar uma mudança provocada pelo programa na relação entre as famílias e os profissionais da instituição de educação; as famílias tiveram espaço para elaborar seus receios e discutir o papel da escola na vida de crianças com deficiência.”
 
Essa síndrome comporta microcefalia e/ou outras alterações do sistema nervoso central associados à infecção pelo vírus. Ela afeta o desenvolvimento global, com alterações consideráveis nas aquisições motoras, visuais, de alimentação e cognição, impondo uma vida com condições crônicas complexas de saúde. 
 
As necessidades da síndrome congênita do vírus Zika ultrapassam as respostas oferecidas pelo sistema de saúde, alerta o artigo. Necessitam de ações intersetoriais, de políticas compensatórias inclusivas que enfrentem processos de vulnerabilidade. A deficiência e a pobreza são entendidas como elementos que interagem entre si, formando um ciclo. O desenvolvimento de uma criança com deficiências se torna desafiador, implicando oferecer oportunidades para além dos processos de reabilitação, em um círculo virtuoso, com ações em outras esferas do cuidado na direção da intersetorialidade e integralidade.
 
O estudo ainda defende que políticas de caráter intersetorial precisam de articulações e arranjos por meio de parcerias entre diferentes setores e segmentos sociais como: educação, saúde, cultura, esporte, lazer, empresas privadas, organizações não governamentais (ONG), fundações, entidades religiosas, as três esferas de governo e organizações comunitárias.
 
Neste artigo, ilumina-se a experiência de construção de um projeto intersetorial, centrado na relação entre saúde e educação, articulando as famílias com crianças vivendo com a síndrome congênita do vírus Zika, e ações de capacitação para os profissionais de educação que atuam com elas. O princípio da integralidade, focalizando crianças com deficiências em que se identificam as crianças com a síndrome congênita do vírus Zika, depende de dispositivos intersetoriais que articulem atenção especializada à saúde, reabilitação, atenção básica, além da inclusão no ambiente escolar.
 
Já o artigo Experiências de pais de crianças nascidas com microcefalia, no contexto da epidemia de Zika, a partir da comunicação do diagnóstico aponta que, em 2015, a epidemia do Zika vírus causou um cenário de emergência sanitária no Brasil, quando ocorreu um crescimento considerável na quantidade de crianças nascidas com microcefalia, em alguns casos revelada ainda na vida intrauterina. “Observou-se que os afetados apresentavam alterações radiológicas peculiares e achados que iam além da microcefalia, tendo-se descartado as principais causas de infecção congênita, bem como as causas genéticas e ambientais.”
 
As investigações clínicas desse surto, segundo o artigo, evidenciaram a associação com a infecção pelo Zika vírus que, ao acometer mulheres durante a gestação, causa, nas crianças, a síndrome congênita pelo Zika vírus (SCZ).
 
No Brasil, a microcefalia ganhou status de epidemia e passou a ter grande visibilidade nos noticiários brasileiros. A superexposição midiática da microcefalia evidenciou o quanto, até então, o assunto era silenciado e trouxe à tona a situação de outras crianças com deficiências, relata o artigo. “Entretanto, a necessidade de resposta e priorização das ações governamentais, em caráter emergencial, para as crianças afetadas pelo Zika vírus, reforçou, em outros momentos, a invisibilidade dessas outras condições crônicas, para as quais não existiam programas específicos de atendimento.”
 
De acordo com o estudo, culturalmente, tem cabido às mulheres o cuidado dos filhos, em particular dos que apresentam adoecimento ou alguma deficiência. “Essa situação exige das mulheres quase uma exclusividade e, por conseguinte, uma abdicação de outros compromissos da vida social, visto que a priorização é dada ao papel de ser mãe. Por outro lado, elas têm assumido também um perfil ativista ou militante, na luta pelos direitos de seus filhos. Essa identidade ativista parece constituir-se, em certo sentido, como libertadora.”
Segundo dados da pesquisa, a notícia de que os filhos tinham microcefalia foi inesperada para 14 entrevistados. Os outros seis haviam ouvido falar sobre a epidemia na mídia e já conviviam com o medo da doença. “Os responsáveis pelas crianças percorreram uma difícil jornada, desde o momento de suspeita até a definição do diagnóstico, marcada por omissões, notícias controversas, incompletas, erradas e/ou tardias.”
 
Os três artigos científicos estão disponíveis no Cadernos de Saúde Pública publicado em dezembro de 2019.
 


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