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'Redes são mecanismos de desterritorialização e coexistência', aponta pesquisador argentino

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Publicado em:12/12/2019
'Redes são mecanismos de desterritorialização e coexistência', aponta pesquisador argentinoNo âmbito do III Colóquio Latino-Americano de Formação em Saúde Pública, a ENSP recebeu o diretor do mestrado em Saúde Pública da Universidad de Rosario, na Argentina, Mario Rovere, que discorreu sobre a palestra Redes colaborativas em saúde – cooperação na formação de profissionais. A mesa foi coordenada pela vice-diretora de Escola de Governo em Saúde da ENSP e coordenadora da Secretaria Técnica Executiva da Rede Brasileira de Escolas de Saúde Pública (RedEscola), Rosa Souza. Confira as apresentações em vídeo e a cobertura completa da mesa.

As exposições de Rosa Souza, da diretora da Escola de Saúde Pública Salvador Allende, da Universidade do Chile, Verónicas Iglesias Álamos; do assessor da Coordenação de Cooperação Internacional da Escola Politécnica em Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Helifrancis Condé; do assessor da Cooperação Internacional da ENSP, Pedro Burguer; e do coordenador adjunto da Red de Investigadores, Docentes e Instituciones Formadoras en Salud Pública (Redisp) do Peru, Pedro Riega López, também compuseram a mesa do segundo dia de debates do Colóquio.
 
Mario Rovere analisou que, com a desterritorialização da produção, ou seja, a produção em redes não só institucionais, mas também redes sociais, os vínculos são mais importantes que os limites dados a elas. “Tais limites passam a ser difusos, porosos, permitindo a elaboração e articulação de novas construções e ligações e, assim, novas redes.” Diferentemente dos sistemas, Rovere explicou que as redes constituem mecanismos de desterritorialização, de conexão do que é dividido e compartilhado. Segundo ele, os links e possibilidades de articulação tornam-se mais interessantes que os limites. Portanto, a autonomia não vem do isolamento, mas da riqueza das interconexões.
 
Para finalizar, Rovere abordou a questão das redes na perspectiva da homogeneidade e apontou que o neoliberalismo gosta dos indivíduos, porque o mercado funciona melhor com indivíduos do que com sujeitos organizados e redes. "Se pensarmos em redes como heterogeneidades organizadas, elas constroem coexistência, segurança e paz", disse ele, citando ainda o sociólogo Boaventura de Souza Santos: "Temos o direito de ser iguais quando nossa diferença nos inferioriza; mas temos o direito de ser diferentes quando nossa igualdade nos descaracteriza."
 
 
Nascida como Rede de Técnicos em Saúde, a atual Rede Internacional de Educação de Técnicos em Saúde (Rets) - cuja coordenação executiva está sob a responsabilidade da Escola Politécnica em Saúde Joaquim Venâncio(EPSJV/Fiocruz) -, teve seu embrião em 1995, quando foi identificada a necessidade de se construir uma rede regional de técnicos em saúde. Quem falou sobre a Rets foi o assessor de Cooperação Internacional da EPSJV, Helifrancis Condé Ruela. Ele lembrou que as atividades da Rede foram suspensas em 2001, mas, numa nova fase, em 2005, foi reativada e, desde então, ampliou seu escopo, tornando-se internacional.
 
A Rets é uma articulação entre instituições e organizações envolvidas com a formação e qualificação de pessoal técnico da área da Saúde em países das Américas, na África de língua portuguesa e em Portugal. Entre acordos e convênios com mais de 100 instituições de 20 diferentes países, a Rets seguiu construindo propostas de ensino e formação em saúde, bem como implementando projetos de pesquisa e promoção de divulgação científica de tais iniciativas. Helifrancis falou ainda sobre os atuais planos de trabalho da Rets para o quadriênio 2019-2022, que englobam, entre outras coisas, maior protagonismo dos países na responsabilidade das ações; incorporação de novos temas de pesquisa; educação interprofissional em saúde; identificação de novos perfis profissionais/atribuições dos técnicos em saúde; fortalecimento da capacidade de formação de formadores técnicos em saúde; e outros.  
 
Entre os novos desafios da Rets, Helifrancis destacou temas como visibilidade às políticas e agendas de trabalho que incluam a categoria dos técnicos em saúde, que, segundo ele, é a porção mais significativa entre os trabalhadores vinculados aos serviços de saúde. Em especial, ele considerou o fortalecimento da articulação da Rede com vistas a ampliar a capacidade de desenvolver projetos e angariar financiamento, enfrentar obstáculos logísticos e de acesso às TIC, e promover o intercâmbio de docentes, discentes e pesquisadores para a consolidação da Rede, fortalecendo, assim, sua sustentabilidade e execução do plano de trabalho.
 
 
A vice-diretora de Escola de Governo em Saúde da ENSP e coordenadora da Secretaria Técnica Executiva da Rede Brasileira de Escolas de Saúde Pública (RedEscola) traçou um grande panorama histórico das realizações e projetos da Rede ao longo de mais de uma década de atuação e falou, ainda, sobre a constituição da RedEscola. Atualmente, 54 instituições formadoras de todas as regiões do país compõem a Rede, além da Escuela de Salud Pública Dr. Salvador Allende, do Chile, que é um membro honorário. “Crescer e ganhar capilaridade é maravilhoso, mas, ao mesmo tempo, nos traz uma questão cara que é: Como fazer com que o sentimento de pertencimento vigore, de fato, entre tais integrantes?”, colocou Rosa. De forma muito generosa e carinhosa, ela também lembrou a fundadora da Rede, Tânia Celeste, que estava presente na plateia.    
 
Rosa Souza destacou os valores da Rede. São eles: inclusão, diversidade, solidariedade, gestão democrática, educação permanente e confiança, que, em sua opinião, é um dos mais valiosos princípios, pois “não existe relação que se sustente sem confiança. Em uma Rede com tanta heterogeneidade, o espírito de corpo é fundamental, sem isso não vigora”, defendeu.  Ela falou sobre projetos e iniciativas e ressaltou as diversas publicações produzidas no âmbito da Rede, todas disponíveis para acesso aberto em seu site (http://rededeescolas.ensp.fiocruz.br/publicacoes).
 
Encerrou dizendo que ainda é preciso melhorar os processos formativos: Saber o que queremos e para onde queremos ir. “Não devemos nos sentir confortáveis com o que está acontecendo hoje. É preciso sempre nos indagar: Para que serve e a quem serve? É importante lembrar a existência de um cidadão que espera que os profissionais formados consigam atuar de forma solidária, efetiva, competente e atenda aos anseios dessa população”, disse alertou Rosa.
 
 
O coordenador adjunto da Red de Investigadores, Docentes e Instituciones Formadoras en Salud Pública (Redisp), Pedro Riega López,  falou sobre as expectativas da criação da Rede peruana, bem como suas primeiras ações. Antes de falar dos planos da Redisp, López comentou sobre um dos momentos políticos mais difíceis que seu país, o Peru, está passando por ter seus dirigentes políticos mergulhados em casos de corrupção e suborno. "Apesar de um dos pilares da política de saúde do Peru ser o fortalecimento dos recursos humanos e a geração de um novo sistema de saúde, neste momento, temos meio milhão de trabalhadores do setor público contratados por empresas que não oferecem todos os direitos que eles deveriam ter”, lamentou ele.
 
A Redisp é fruto do esforço da Asociación Peruana de Facultades de Medicina, cujo foco é a atenção ao campo da Educação Profissional em Saúde como um elemento chave para o fortalecimento do sistema de saúde. Entre os projetos para o biênio 2019-2020 estão: sistematizar a formação e a capacitação em saúde pública do país, promover a pesquisa colaborativa na área, bem como difundir e compartilhar seus conhecimentos com as instituições parceiras e favorecer o intercâmbio e a cooperação internacional. "Queremos ser não apenas atores acadêmico-administrativos, mas verdadeiramente atores sociais para a transformação do sistema de saúde peruano. Ratifico também a vontade e o compromisso da Redisp/Aspefam para o fortalecimento e o reposicionamento da Saúde Pública como fator fundamental para a transformação dos sistemas de saúde das nações da América Latina, para a qual a formação de profissionais é um processo fundamental”, pontuou López.
 
 
A diretora da Escola de Saúde Pública Salvador Allende, da Universidade do Chile, Verónicas Iglesias Álamos, trouxe para o debate os desafios da Rede Chilena de Instituições Formadoras em Saúde Pública e ressaltou a falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento no seu país, em especial com a crise pela qual vem atravessando, potencializada pela violação dos direitos humanos. Ela lembrou que, desde que foi criada, a Escola de Saúde Pública tem como objetivo contribuir com a formação de recursos humanos crítico, reflexivo e comprometido com as necessidades de saúde da população,além da geração de conhecimentos.
 
"Em 2011, foi sugerida a criação da Rede, que nasceu com o propósito da cooperação e colaboração para o fortalecimento e troca de competências entre as instituições envolvidas, com vistas a gerar sinergias que contribuíssem e potencializassem a formação de políticas públicas de saúde do Chile. Entre os principais desafios apresentados pela coordenadora da Rede estão a construção de um plano de desenvolvimento conjunto, o fortalecimentos da confiança entre as instituições, o desenvolvimento de pesquisas que gerem evidências que embasem políticas públicas, bem como a sustentabilidade da rede.
 
 
Finalizando as apresentações acerca das redes colaborativas em saúde, o assessor de Cooperação Internacional da ENSP, Pedro Burguer - que estava representando o diretor da ENSP, Hermano Castro, nessa apresentação -, falou sobre o processo de reestruturação da Rede de Escolas de Saúde Pública da América Latina, que agora se chama Rede de Escolas e Centro Formadores em Saúde Pública da América Latina. Ele fez um grande apanhado desde a instauração da rede quando, em 2001, o Conselho de Ministros da Unasul reconheceu a Resp como estruturante para os sistemas de saúde.
 
“Essa Rede nasceu da necessidade de se capacitar recursos humanos em saúde pública com vistas a melhorar a qualidade da formulação e implementação de políticas de saúde, bem como estimular o debate sobre a melhoria dos sistemas de saúde, ajustando-os às realidades nacionais, regionais e globais”, detalhou Burguer, dizendo ainda que, “com a troca de posicionamento político de nosso país, a Unasul foi suspensa; no entanto, avaliamos que, mais do que nunca, esse era um momento de fortalecer as redes e nos articularmos”, detalhou ele.
 
Pedro explicou que o princípio norteador da Resp é a relação entre saúde e educação e, não por acaso, esse também é o tema desse congresso. Além disso, a ideia central da Rede é estabelecer linhas de cooperação entre os países que abarquem experiências exitosas e dificuldade em comum, que podem ser múltiplas. “Em última instância, o que se pretende é identificar possibilidades de geração de competências para melhorar o desempenho das equipes de saúde que atuam nos sistemas de saúde. Ou seja, todo nosso trabalho é para melhorar as condições de saúde das populações por meio dos sistemas nacionais de saúde”, defendeu.
 



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