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Fiocruz propõe respeito às tradições indígenas

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Publicado em:04/12/2019
O resgate da cultura e a valorização do conhecimento da população indígena estiveram em discussão na Fiocruz, na quarta-feira (27/11), em evento realizado pelo grupo de pesquisa Ambiente, Diversidade e Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP). Na primeira parte do encontro, após a exibição do documentário “Mboraihu: O espírito que nos une”, o pesquisador Paulo Basta (ENSP/Fiocruz) conduziu um debate a respeito das tradições indígenas. “Lutamos todos os dias para sobreviver em um país que tenta negar nossa existência”, lamentou Ismael Morel, palestrante do evento e representante da Associação Jovens Indígenas Guarani-Kaiowá em Ação.

Fiocruz propõe respeito às tradições indígenas
 
O documentário exibido na Tenda da Ciência visa conscientizar a sociedade acerca da importância da valorização da cultura tradicional indígena para garantir o desenvolvimento sustentável no país. O filme dá voz a rezadores, pajés, parteiras e professores indígenas de aldeias da etnia Guarani-Kaiowá que vivem na região conhecida como cone sul, no Mato Grosso do Sul. 
 
“Trata-se de um projeto inovador para nós. É a primeira vez que um órgão vai para dentro da aldeia valorizar quem somos. O contexto da pesquisa baseia-se no reconhecimento daquilo que temos, do que somos e do nosso conhecimento”, admitiu Ismael ao falar sobre o trabalho desenvolvido com os Guarani-Kaiowás. Ele comentou ainda a influência sofrida por seu povo no Mato Grosso do Sul. “Somos influenciados por todas as partes, principalmente por aqueles que não nos aceitam. Vivemos em territórios minúsculos, somos impedidos de atravessar cercas e temos que abdicar do nosso conhecimento em prol daquilo que não é nosso”, afirmou o professor de educação física lembrando que a produção científica e artística são formas de manterem a cultura do povo viva.
 
Uma produção que reforça a importância das tradições indígenas foi apresentada pela pesquisadora do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz/PE) Islândia Carvalho. Ao mencionar o livro Pohã Ñana, ainda em desenvolvimento, a palestrante lembrou como um projeto com poucos recursos pode trazer grandes desdobramentos para uma população. Para isso, destacou a importância de uma produção coletiva, que provoque a emancipação dos povos e o reconhecimento de sua cultura, ou seja, por meio de uma ciência aberta. “É possível produzir pesquisa trazendo significado para aqueles que são seu objeto de estudo”, pontuou.
 
Em conformidade com esse raciocínio, a pesquisadora Ida Kolte, da St George’s University of London, discorreu sobre a investigação dos casos de tuberculose na população indígena do Mato Grosso do Sul. Além de citar o estigma da doença, que aumenta ainda mais em razão do preconceito com o povo indígena, ela apontou a necessidade de trabalhar as especificidades dessa população. “As equipes de saúde não conseguem controlar a doença. Observamos a necessidade de uma comunicação mais adequada do serviço com os povos indígenas. A busca tradicional dos casos não está sendo suficiente, justamente porque os hábitos, a moradia e a estrutura familiar são diferentes”.
 
O documentarista Davilson Brasileiro, da Base Um Produções, lembrou que a pressão pelo agronegócio afeta diretamente a população indígena. “O povo é refugiado em seu próprio território”. Ele ainda convocou o público: “Não podemos perder o direito de nos indignar! Os direitos da constituição não podem retroceder. Se nos colocássemos no lugar dessa população, não aguentaríamos um dia da pressão que eles sofrem”.

Fiocruz propõe respeito às tradições indígenas
 
O documentário
 
O nome Mboraihu foi escolhido pelo significado na etnia guarani: amor. E é essa mensagem que o filme busca passar, além de dar voz e vez aos povos indígenas. No documentário, eles contam suas histórias e cultura, explicando suas tradições com as plantas medicinais e as práticas de reza. Falam sobre a desapropriação de suas terras e plantações para exploração de mate e soja, escassez de recursos naturais e sobre o preconceito, racismo, discriminação e violência que ainda enfrentam. 
 
A resiliência dos povos indígenas
 
No Centro de Estudos realizado à tarde, a composição da mesa reuniu representantes dos povos indígenas da Amazônia e convidados que atuam em prol dos povos tradicionais. NA abertura, Paulo Basta, coordenador da atividade citou uma carta do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) que retrata os ensinamentos dessa população. “Sobre os princípios da reciprocidade entre as pessoas, da amizade fraterna, da convivência com outros seres da natureza e do profundo respeito pela terra, os povos indígenas têm construído experiências realmente sustentáveis, que podem orientar nossas escolhas futuras e assegurar a existência humana. Esses povos tem nos ensinado que, para construir o bem-viver, as pessoas devem pensa-lo para todos; e não para si mesmas”.
 
A parteira Iolanda Peraira da Silva, do Povo Macuxi, falou sobre os hábitos específicos das populações indígenas, da vivência em comunidade, da organização milenar da comunidade, dos antepassados e dos deuses que criaram o povo, as matas e os rios. “Para nós essa vida é muito ligada à natureza. Não há como separá-las”. (assista no vídeo abaixo)



 
Jairo Saw Munduruku, do Povo Munduruku, alertou sobre a ameaça dos grandes empreendimentos às terras indígenas. Ele também enalteceu a relação com a natureza. “A natureza, enquanto Munduruku, é meu mundo. É meu paraíso, minha casa, minha cidade. É o meu supermercado, a minha universidade. É uma relação de viver uma vida sadia. Nos importamos com a natureza, a floresta, os animais, os rios. Se não respeitarmos isso, não respeitaremos as pessoas”.
 
 

Michel Oliveira Baré Tikuna, do Povo Baré e Tikuna, contou sua experiência na universidade, na academia e a vivência no Rio de Janeiro. Para ele, “a educação é a única forma de gerar vergonha em quem é ignorante”, afirmou o convidado – que descreveu o trabalho que realiza dobre a emancipação indígena por meio da educação.
 

Nas falas seguintes, Marcos Wesley, do Instituto Socioambiental, e o Procurador da República Marco Antonio de Almeida, relataram o cenário preocupante e os crimes cometidos contra a população indígena. 

Confira a playlist completa do evento no Canal da ENSP no Youtube.
 


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