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'Alimentação nutricional' é tema de artigos da revista científica da ENSP

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Publicado em:29/11/2019
'Alimentação nutricional' é tema de artigos da revista científica da ENSPCadernos de Saúde Pública de novembro traz quatro artigos que debatem sobre alimentação nutricional. Práticas alimentares na escola, agricultura familiar, avaliação de nutrição na Atenção Básica do SUS e uso de adoçantes no Brasil são aspectos tratados pelos pesquisadores na publicação. 
 
Edleuza Oliveira Silva, Lígia Amparo-Santos, e Micheli Dantas Soares são os autores do artigo Interações entre práticas alimentares e identidades: ressignificando a escola pública e a alimentação escolar. Segundo eles, estudos sobre práticas alimentares no contexto do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) têm apontado um paradoxo: de um lado, o PNAE avançou como política fundamentada no direito humano à alimentação adequada e, de outro, ainda apresenta um viés assistencialista que tende a contribuir para identidades estigmatizadas. Considerando esse contexto, eles realizaram um estudo objetivando compreender as interações entre práticas alimentares em torno da alimentação escolar e identidades. 
 
Nesse estudo, a abordagem etnográfica se configurou como percurso teórico-metodológico, tomando, como cenário, uma escola pública no município de Santo Antônio de Jesus, Bahia, Brasil, do segundo ciclo do Ensino Fundamental. A etnografia foi realizada durante sete meses, sendo constituída de observação do cotidiano alimentar da escola, com registros em diário de campo, assim como realização de 23 entrevistas com alunos e atores-chave. 
 
O artigo é um recorte dessa investigação em que duas categorias são apresentadas: a primeira, “A escola é nossa”, analisa um movimento de ressignificação da escola ante uma identidade estigmatizada; a segunda, “A comida é o que une”, apresenta a alimentação escolar como um elemento estruturante das identidades dos alunos e da própria escola. 
 
Os achados apontam também o quanto o diálogo entre o campo da educação e o campo da alimentação e nutrição pode contribuir para que a alimentação escolar integre as práticas escolares não como um mero suporte nutricional, mas como comida que valoriza a escola pública e seus sujeitos.
 
Já o artigo Alimentação escolar e agricultura familiar: análise de recursos empregados na compra de alimentos, de Lana Raysa da Silva Araujo, Andrea Nunes Mendes de Brito, Malvina Thais Pacheco Rodrigues, Márcio Dênis Medeiros Mascarenhas, e Regilda Saraiva dos Reis Moreira-Araujo, verificou a adequação da utilização de recursos financeiros para a compra de alimentos provenientes da agricultura familiar no âmbito do PNAE nas capitais de estados brasileiros e no Distrito Federal. 
 
O estudo descritivo com análise de dados secundários obtidos na página eletrônica do Fundo Nacional de Desenvolvimento para a Educação (FNDE) no espaço dedicado às informações sobre agricultura familiar, investiga os valores repassados pelo FNDE e percentual utilizado na compra de alimentos da agricultura familiar para aquisição de alimentação escolar em capitais dos estados brasileiros e no Distrito Federal no período de 2011 a 2017. 
 
Os dados foram coletados em maio de 2019. Das 27 cidades avaliadas, cerca de um terço (33,3%) apresentou compra acima do mínimo recomendado (30%). A Região Norte cumpriu o recomendado (39,4%) enquanto a Sudeste apresentou a menor porcentagem de compra (6,4%). De 2011 a 2017, percebeu-se aumento nos valores totais investidos e no número de cidades compradoras de alimentos da agricultura familiar. 
 
De acordo com o artigo, dentre as capitais avaliadas, Boa Vista (Roraima) foi a que mais utilizou recursos para a aquisição de alimentos da agricultura familiar (56,6%). Em 2017, as prefeituras de Boa Vista e Aracaju (Sergipe) ofereceram contrapartida financeira adicionada aos recursos fornecidos pelo FNDE para a compra desses alimentos. “Concluiu-se que, no período de 2011 a 2017, apenas um terço das capitais avaliadas utilizou adequadamente a porcentagem de recursos financeiros para a compra de alimentos da agricultura familiar, embora tenha sido percebido aumento gradual na compra desses alimentos, especialmente nas capitais do Norte e Nordeste do Brasil.”
 
O artigo Avaliação nutricional na atenção básica à luz dos princípios que fundamentam a organização da atenção nutricional no Sistema Único de Saúde, de Luciene Burlandy, trata-se de uma resenha do livro Avaliação Nutricional na Atenção Básica: Reflexões sobre Práticas e Saberes oferece ao leitor uma abordagem ampliada e inovadora de um tema “clássico” no campo da saúde e nutrição - a avaliação nutricional. 
 
A autora do artigo considera que o livro possibilita uma releitura dessa temática por meio de reflexões sobre métodos, técnicas e instrumentos diagnósticos à luz dos princípios e diretrizes que fundamentam a organização da atenção nutricional na atenção básica do Sistema Único de Saúde (SUS).
 
“Os autores problematizam o tema mediante análise do perfil epidemiológico, nutricional e alimentar da população brasileira, em suas inter-relações com o contexto político e institucional do SUS, considerando as desigualdades que marcam o cenário nacional.” O significativo peso de influência das doenças crônicas no perfil de morbimortalidade, e sua relação com a obesidade, conforme o artigo, vem impondo terapêuticas de médio/longo prazo que potencializem a adesão e a permanência dos usuários e que abordem os múltiplos condicionantes psicossociais, culturais e biológicos do processo saúde-doença. 
 
A complexidade e a heterogeneidade desse perfil alimentar e nutricional, condicionado por um contexto nacional diverso e desigual, destaca o artigo, colocam desafios específicos para a garantia da equidade em saúde e nutrição. “Considerando esse cenário, a Rede de Atenção à Saúde (RAS) das pessoas com doenças crônicas no SUS foi instituída com base em princípios que qualificam as práticas de saúde, tais como: integralidade; humanização; terapêutica multiprofissional; corresponsabilização profissional/usuário, construção do vínculo, da autonomia do usuário e do autocuidado; intersetorialidade; participação social, respeito às diversidades étnico-raciais, sociais e religiosas, aos hábitos e a cultura locais.”
 
Apesar dos avanços na construção de políticas e programas pautados na integralidade do cuidado, no trabalho multiprofissional, na humanização e nos demais princípios aqui destacados, disse Luciene, é longo o caminho a ser percorrido para reorientação das práticas de atenção em saúde. Nesse sentido, são problematizados no sexto capítulo os fatores referentes ao contexto institucional e de gestão do SUS que podem dificultar a consolidação da prática de avaliação nutricional na atenção básica, como a formação dos profissionais e a inadequação do espaço físico e dos recursos existentes. 
 
Portanto, ao apresentarem os desafios para a avaliação nutricional de segmentos populacionais específicos, os autores contribuem para problematizar as barreiras mais amplas para inclusão equitativa no SUS e sinalizam caminhos possíveis para a reorientação dos modos de prestação de cuidado na perspectiva da universalidade e da equidade, de acordo com o artigo. 
Por fim, ao abordarem a avaliação nutricional no contexto da atenção integral em saúde e das políticas de promoção da alimentação adequada e saudável, os autores estimulam os profissionais de saúde a reconhecerem a transversalidade e a relevância dessa prática e, consequentemente, fomentá-la em seu cotidiano de trabalho, finaliza o artigo.
 
O quarto artigo sobre o tema, Utilização de adoçantes no Brasil: uma abordagem a partir de um inquérito domiciliar, de Paulo Sérgio Dourado Arrais, Marisa Perdigão de Negreiros Vianna, Anamaria Vargas Zaccolo, Luzia Izabel Mesquita Moreira, Patrícia Maria Pontes Thé, Ana Rosa Pinto Quidute, Andréia Turmina Fontanella, Tatiane da Silva Dal Pizzol, Noemia Urruth Leão Tavares, Maria Auxiliadora Oliveira, Vera Lucia Luiza, Luiz Roberto Ramos, Mareni Rocha Farias, Andréa Dâmaso Bertoldi, e Sotero Serrate Mengue, estima a prevalência do uso de adoçantes pela população adulta brasileira e características dos usuários. 
 
O interesse, conforme explica o artigo, foi o uso autorreferido de adoçantes entre brasileiros com 20 anos ou mais. As variáveis analisadas foram sexo, idade em anos completos, região do Brasil, escolaridade em anos completos e classificação econômica segundo o Critério Classificação Econômica Brasil da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP). Os indicadores das condições de saúde foram: relato de doença crônica não transmissíveis (DCNT), número de DCNT e índice de massa corporal (IMC). A prevalência do uso de adoçantes na população adulta brasileira foi de 13,4%, sendo maior entre as pessoas do sexo feminino e no grupo com 60 anos ou mais, nas regiões Nordeste e Sudeste, entre pessoas da classe econômica A/B e entre indivíduos obesos. 
 
Conclui o artigo que as pessoas com doenças crônicas (em especial diabetes) foram as que mostraram maior prevalência de uso de adoçantes, sendo o uso maior quanto maior o número de comorbidades relatadas.”A prevalência de uso de adoçantes foi de 13,4% e mostrou-se associada a características sociodemográficas e de saúde.”
 
 

Fonte: CSP
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