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ENSP debate o enfrentamento e a resistência diante da crise

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Publicado em:12/11/2019
ENSP debate o enfrentamento e a resistência diante da criseNos dias 30 e 31 de outubro, o Seminário de Ensino da ENSP abordou a Formação e Avaliação como campos de disputa e resistência. As discussões do primeiro dia do evento trouxeram os desafios da formação em saúde pública num contexto de suspensão dos repasses e cortes de bolsas de estudo. A abertura do seminário foi conduzida pela vice-presidente de Educação Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado, pela vice-diretora de Ensino da ENSP, Lúcia Dupret, pelo diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), Hermano Castro, e pela representante docente da turma de 2019/2021 de mestrado em Saúde Pública, Priscilla Vilella.
 
O diretor da ENSP reforçou a importância do tema, pois, segundo ele, os últimos dois anos foram difíceis para o campo da Saúde, o que forçou a busca por alternativas. “Tivemos que ir para um campo de resistência que jamais imaginávamos. Brigávamos para conseguir mais bolsas. Hoje em dia, brigamos para não perder”, lamentou. 
 
A ENSP/Fiocruz tem influência direta no campo da formação para o SUS. As mudanças no cenário político também preocupam o diretor. “Acompanhamos a mudança do financiamento da atençãpo básica. No Rio, a vulnerabilidade está na Estratégia de Saúde da Família, que vem sendo desmontada”, ressaltou o diretor com preocupação. 
 
Para novas atitudes e caminhos, Hermano expressou a importância do debate, tendo em vista que ajudará a corroborar com o caminho a ser seguido pela Escola. 
 
Toda a mesa de abertura reforçou a luta pela resistência, já que as mudanças afetaram diretamente a Saúde Coletiva, prejudicaram, e muito, o campo educacional voltado ao tema. Para a vice-presidente de Educação Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado, o exemplo disso são os cortes das bolsas, que, de acordo com ela, trouxeram grande impacto e tornaram-se a força motriz para esse cenário de resistência. 
 
Diante do quadro, Cristiane salientou que tanto a Fiocruz como as unidades estão apoiando os alunos. A ajuda aos alunos vem por meio de parcerias com todas as unidades em todo o país, além das universidades e outros institutos. “Temos muito o que avançar e resistir nesse campo”, alertou destacando a importância de todos se manterem informados. “Hoje em dia, é fundamental para enfrentar as adversidades.” 
 
A representante docente da turma de 2019/2021 de mestrado em Saúde Pública, Priscilla Vilella fortaleceu o discurso a respeito da dificuldade enfrentada no momento. Para Priscilla, falar ainda é preciso, já que ideologias do terraplanismo, projeto futura-se, movimento antivacinas ainda são enfrentadas. “Evidenciar o que seria óbvio se tornou fundamental nessa situação”, enfatizou.
 
Formação em Saúde Pública nos Tempos de Crise 
 
O debate da manhã se debruçou na influência direta da crise na formação pública. O coordenador do Ensino do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador (Cesteh), Gideon Borges, por considerar esse um tema contemporâneo e desafiador, levantou uma questão para o debate. “Como fazer uma discussão colocando a relação entre a formação e a crise, já que, aparentemente, uma pode desmobilizar a outra?“
 
Convidados da mesa, os professores Kenneth Rochel de Camargo Júnior, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), e Tulio Batista, da Universidade Federal Fluminense (UFF), contextualizaram o atual problema para criar formas de enfrentamento.
 
O professor Kenneth explicou a realidade da crise vivenciada pelo país a fim de poder encontrar soluções. “Precisamos ter o entendimento e a real dimensão de tudo isso que estamos vendo”, disse ele, que apresentou dados do PIB, empobrecimento da população e a taxa de desemprego anual. 
 
Para o palestrante da Uerj, tudo isso gera reflexo. Citando um professor irlandês, ele criticou o modelo de política empregado no Brasil, e utilizou como referência a criação da Emenda Constitucional 95, que tem reflexos, por exemplo, nas bolsas Capes e no CNPQ. “Nunca, em nenhum lugar do mundo, a política de austeridade para combater crise fiscal deu certo. Ela só levou ao aprofundamento e prolongamento da recessão e o sofrimento da população", disse. 
 
O professor alertou que, mesmo com toda a depressão econômica, os bancos lucram cada dia mais. Isso, segundo ele, traduz uma política  econômica que privilegia o rentismo em detrimento à produção. Na formação, essa situação gera repercussões na pós-graduação, uma vez que a maioria dos egressos tem o mercado de trabalho voltado para o ensino. “Na medida em que não há novos concursos, você estrangula dramaticamente o mercado de trabalho dessas pessoas. ” 
 
Kenneth criticou ainda as reformas realizadas e o caos provocado por elas. “A pressa de fazer reformas, que são completamente destrutivas, sem a possibilidade de fazer uma discussão, está criando uma série de problemas”. No entanto, segundo ele, o processo de formação foi induzido pelo processo de avaliação e conseguiu formar uma consciência crítica necessária para que, num momento como esse, pudesse desenhar respostas para o que está acontecendo. 
 
Em sua apresentação, Tulio Batista questionou sobre como aprender com o cenário difícil que estamos vivendo. Segundo ele, a derrota progressista foi estrutural, uma derrota de pensamento, levando à autoavaliação do pensamento. 
 
Para ele, a ideia de capital humano, ou seja, como cada pessoa representa um valor, e a monetarização do corpo são estratégias de mudanças realizadas na sociedade. Essa ideia traz outra diretriz: a do empresariamento de si, o que significa o grau absoluto da precarização da força de trabalho. “Ela perde todos os vínculos possíveis. O exemplo disso é a 'uberização'. Sob o discurso de liberdade, faz com que se tenham jornadas de trabalho de 12h, 15h por dia, criando, na sociedade, um caldo de cultura” salientou o professor. 
 
Para o palestrante, toda essa nova forma de pensamento faz parte do processo neoliberal - que não é apenas um processo econômico -, mas envolve outros pontos primordiais, ou seja, a inserção do novo pensamento, em que mesmo tendo uma precarização do pensamento, o indivíduo se vangloria de ser livre, o que não é apenas um processo econômico, mas envolve outros pontos primordiais. “Ele é um processo de cultura, de pensamento, modo de vida existencial. E é isso que está pegando fortemente. E, quando a gente começa a perceber isso, a gente começa a pensar: O que houve?” observou o professor, alertando sobre as análises que devem ser feitas sobre esses pensamentos. 
 
Diante do quadro, o professor salientou a importância do investimento na educação, questionando-se sobre o que é conhecimento, para, a partir de então, criar caminhos que solucionem esses pensamentos atuais. “Temos que fazer essas perguntas de origem e tentar perceber nossas dificuldades e tratá-las”, dando ele as formas de conhecimento que podem ajudar na criação desse novo método de pensar. 
 
Avaliação: concepção de disputas e consequências
 
Na parte da tarde, foram discutidos os métodos de avaliação na atual conjuntura do país. A professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Geisa Mendes dialogou sobre as concepções e os caminhos da avaliação, levando os presentes a refletir acerca do processo de formação para, depois, pensar a avaliação.
 
Na opinião da professora, os meios de avaliação atuais estão muito ligados à forma de capital humano. “A escola continuava formando para atender ao processo de uma elite. O capital define o método de formação” salientou.  Para isso, ela observa que ainda não foi alcançada uma formação humana baseada em um ser que tenha domínio do conhecimento cientifico dos conceitos clássicos e históricos. 
 
Por isso, o processo de avaliação, segundo a professora, é feito dependendo do tipo de formação que você dá para os indivíduos. “Quando eu falo em avaliação e formação, têm vários caminhos a seguir. E escolher esse caminho tem a ver com o que acreditamos. Que homens e mulheres nós queremos formar?” questionou a professora.
 
Novas formas de avaliação
 
A transformação das práticas integrativas, a prática de autoavaliação nos cursos de graduação e a avaliação da pratica profissional são novos métodos que o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Luiz Antônio Saleh apresentou em sua fala.  Para ele, a avaliação da aprendizagem funciona como um dispositivo pedagógico que se constitui dos agenciamentos que colaboram para o pensamento de subjetividade. “Aprendemos um modo de ser e de estar no mundo, chamado de subjetividade.” 
 
O professor lembra que a avaliação, junto com o processo de aprendizagem, gerou alguns efeitos que se manifestaram por meio da forma como o estudante se relaciona com a aprendizagem. “A centralização da atenção nos teste e provas é um deles”, salientou.
 
Isso, segundo Luiz, gera tanto para o professor como para o aluno informações sobre o processo de aprendizado do estudante, sugerindo o caminho da autoavaliação, que tem mostrado resultados importantes. 
 
Os vídeos das palestras já estão disponíveis em nossa playlist do Youtube, no Canal da ENSP
 
 


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