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Artigo da ENSP trata da internacionalização dos periódicos de saúde coletiva

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Publicado em:30/10/2019

Artigo da ENSP trata da internacionalização dos periódicos de saúde coletivaA ciência já nasceu com vocação para se expandir. Seu berço mais expressivo foram os países ocidentais considerados mais desenvolvidos. Neste século, algumas nações emergentes vêm tomando consciência da importância de dar visibilidade internacional ao produto de seu conhecimento. Um artigo da pesquisadora da ENSP, Maria Cecília de Souza Minayo, apresenta caminhos para que o meio editorial em saúde coletiva incremente essa internacionalização.
 
O artigo Caminhos da internacionalização dos periódicos de saúde coletiva, dos pesquisadores José Leopoldo Ferreira Antunes, da Universidade de São Paulo; Aluísio Jardim Dornellas de Barros, da Universidade Federal de Pelotas; e Maria Cecília de Souza Minayo, da ENSP/Fiocruz, sugere medidas, como: publicação dos artigos em inglês; indexação dos periódicos nas principais bases de dados internacionais (PubMed, Scopus, Web of Science etc.); inclusão das revistas nos repositórios on-line internacionais (SciELO, PMC, Europe PMC etc.); adoção de sistema de gestão editorial em inglês, permitindo a comunicação entre autores, editores e revisores de diferentes países; adoção de licença de direitos de cópia, permitindo a divulgação dos artigos publicados em repositórios individuais e institucionais.
 
Segundo o artigo, muitas dessas sugestões já vêm sendo implantadas, e várias revistas no Brasil já avançaram no trajeto assinalado, mas a desproporção é grande. “No Reino Unido, a proporção de trabalhos com participação de autores de mais de um país aumentou de 20% para 50% entre 1981 e 2012. No Brasil, essa proporção oscilou em torno de 25% em todo o período, com o máximo na década de 1990, quando alcançou pouco mais de 30%.”
 
Os autores do artigo consideram que quatro atores principais estão implicados nessa questão: os governos, as agências de fomento, as universidades e os grupos de pesquisa. “Nos locais em que a ciência e a tecnologia passaram a fazer parte do bem-estar cotidiano da população, os governantes já entenderam que as sociedades do conhecimento induzem políticas econômicas, sociais e culturais que podem resultar em bem-estar das nações.” No entanto, dizem eles, a ciência não pode ser feita apenas com ações pontuais, as quais costumam ajudar, mas não resolvem o âmago da questão da internacionalização, por exemplo, em um país como o Brasil.
 
De acordo com o artigo, a chave para as revistas brasileiras é a intensificação do conhecimento da língua inglesa e a especialização dos editores, revisores e autores. “Para elevar o padrão de compreensão dos textos, os tradutores precisam ser profissionais nativos de países onde o inglês é a língua oficial. Mas para isso é preciso que a editoração científica seja valorizada e devidamente financiada.”  Outro fato relevante é que nos últimos anos tem havido uma forte indução da Coleção SciELO Brasil para a profissionalização e o aprimoramento dos processos editoriais, e para que as revistas se abram ao público do exterior.
 
O artigo remonta a história da imprensa científica em ciências da saúde no Brasil, que aconteceu na primeira metade do século XIX. Os primeiros periódicos médicos foram criados pela Academia Imperial de Medicina – o ‘Propagador das Ciências Médicas’, em 1827, e o ‘Semanário de Saúde Pública’, em 1831. Tiveram vida curta e foram interrompidos poucos anos depois, por dificuldades financeiras. Mas nas décadas seguintes outros periódicos os sucederam na divulgação das pesquisas de saúde e em assuntos corporativos da classe médica, como é o caso da ‘Gazeta Médica da Bahia’, e ‘Brasil Médico’.
 
Desde seus primórdios, continua o artigo, esses periódicos tiveram a internacionalização como uma diretriz Clínica’ e da ‘Revista Médica de São Paulo’, entre outras.editorial, uma vez que traziam notícias de outros países e traduziam artigos publicados no exterior. Ou seja, a internacionalização era uma interação valorizada pelo meio profissional, mas tinha apenas um sentido ‘de lá para cá’.
 
Especificamente aplicada à área da saúde coletiva, cita o artigo, a ‘Revista de Saúde Pública’ é a mais antiga do País, tendo sido lançada em 1967 pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) como sucedânea de outros periódicos, o mais antigo deles criado em 1919. As outras revistas que integram o quadro atual da divulgação científica em saúde coletiva no País foram criadas nas décadas seguintes: ‘Saúde em Debate’ (a revista do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde – Cebes), em 1976; os ‘Cadernos de Saúde Pública’, da Escola Nacional  de  Saúde  Pública  Sergio  Arouca (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em 1985; ‘Epidemiologia e Serviços de Saúde’, mantida pelo Ministério da Saúde desde 1992; os  periódicos  da  Associação  Brasileira  de Saúde Coletiva (Abrasco) ‘Ciência & Saúde Coletiva’, em 1996, e a ‘Revista Brasileira de Epidemiologia’, em 1998; além de ‘Physis’,‘Interface: Comunicação, Saúde e Educação’, ‘Saúde e Sociedade’, ‘Cadernos Saúde Coletiva’, ‘Revista Brasileira de Saúde Ocupacional’.
 
Segundo artigo, essa relação de periódicos não é abrangente e está longe de ser completa. Em 2014, a Abrasco criou o Fórum de Editores de Saúde Coletiva, congregando periódicos da área em todo o País. Do ponto de vista editorial, dizem os autores, a saúde coletiva é uma das áreas mais bem servidas no País.
 
Por fim, os autores do artigo retomam dois pontos já tratados. “Em primeiro, a melhor investigação é fruto da colaboração entre pessoas de vários países. Esse é o ponto alto da internacionalização, e depende de política científica. O País precisa ter incentivo para que pesquisadores e estudantes possam ir para o exterior, e para atrair colaboradores para as investigações locais. O segundo ponto é que a divulgação feita pelos periódicos, que precisa fazer parte de uma política de governo que reconheça a importância da produção do conhecimento e a inclua em seu planejamento e em seu financiamento.” Para eles, o esforço de produzir uma revista e todas as estratégias para internacionalizá-la não podem ser responsabilidade apenas dos editores e dos autores, portanto, “é fundamental que a saúde pública/saúde coletiva, ao lado de outras áreas, provoque uma mudança de cultura no Ministério de Ciência e Tecnologia e nas instituições de fomento, para que sejam criadas fontes sustentáveis de financiamento e de internacionalização para as revistas brasileiras de reconhecido mérito”, concluíram.
 
Para ler na íntegra o artigo, publicado na revista Saúde em Debate, clique aqui.

 


Fonte: Saúde em Debate
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