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'Gestão de eventos Químicos, Biológicos, Radioativos e Nucleares' é tema de artigo da ENSP

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Publicado em:10/10/2019

'Gestão de eventos Químicos, Biológicos, Radioativos e Nucleares' é tema de artigo da ENSPO potencial risco de exposição das populações aos agentes Químicos, Biológicos, Radioativos e Nucleares (QBRN), seja por causas intencionais ou não, configura-se como questão de segurança nacional e demanda um constante aprimoramento do seu gerenciamento. Os modelos de dispersão atmosférica, como o Hysplit, vêm ganhando destaque como ferramenta de apoio à gestão dos riscos aos agentes QBRN. Uma pesquisa da ENSP teve como objetivo identificar e avaliar estudos que utilizaram esse modelo.
 
Essa situação deve-se ao fato da evolução da sociedade e o avanço dos processos tecnológicos e industriais demandarem a fabricação ou a manipulação de um relevante quantitativo de substâncias químicas, agentes biológicos e elementos radioativos. Conforme relata a pesquisa, os rápidos avanços dos conhecimentos científicos e tecnológicos, aliados ao desenvolvimento da indústria, à expansão da capacidade de geração de energia, ao aumento da produtividade agrícola, da engenharia de alimentos, entre outros, foram acompanhados pela maior exposição aos riscos ocasionados por agentes QBRN.
 
Porém, houve, também, segundo o estudo, o aperfeiçoamento das estratégias de cuidados com a saúde laboral e a melhoria dos diagnósticos e cuidados da saúde humana e animal. “O uso de agentes de riscos físicos, químicos e biológicos em ambientes e em concentrações capazes de causar agravos à saúde humana ou ocasionar óbitos transcende a dimensão laboral. Historicamente, registra-se a utilização desses agentes em disputas territoriais, religiosas, sociais e culturais.”
 
Os autores da pesquisa Adriana Paula Macedo Ferreira Pereira e Luiz Antonio da Costa Rodrigues, da Marinha do Brasil; Elaine Alves dos Santos, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Telma Abdalla de Oliveira Cardoso e Simone Cynamon Cohen, da ENSP realizaram uma revisão de literatura de artigos publicados entre 2014 e 2018, nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science e Lilacs. A análise dos artigos selecionados permitiu verificar o potencial do uso do modelo Hysplit, enquanto modelo matemático, para compreender o transporte, a dispersão e a deposição de ameaças QBRN liberadas na atmosfera.
 
De acordo com o estudo, os dados produzidos pelas simulações geradas por esse código podem revelar quais áreas serão potencialmente impactadas em um determinado evento ou a região de origem de elementos dispersos no ar. “O Hysplit pode ser agregado como uma ferramenta de suporte às decisões perante as distintas fases da gestão de eventos QBRN.”
 
Há exemplos como o do acidente ocorrido em Goiânia com o césio-137, que ainda é considerado um dos maiores desastres radiológicos do mundo e, ainda, a possibilidade de desastres, como inundações, terremotos, deslizamentos, explosões desencadearem eventos por agentes QBRN, como o ocorrido na Usina Nuclear de Fukushima, em 11 de março de 2011, quando foi atingida por um tsunami originado de um terremoto que ocorreu na costa litorânea do Japão. “Todos esses aspectos demonstram como as populações estão expostas aos riscos de acidentes, incidentes e desastres envolvendo substâncias químicas, agentes biológicos, elementos radiológicos e nucleares (QBRN). Além disso, os impactos desses eventos podem resultar em perdas humanas, ambientais, econômicas e sociais, que se traduzem numa situação de emergência em saúde pública e podem levar décadas para serem sanados.”
 
Por isso, o estudo diz que a capacidade e a habilidade técnica para detectar rapidamente um ataque com agentes QBRN são de suma importância na ação de resposta, de modo a proteger os indivíduos e o ambiente. “A gestão de eventos de natureza QBRN ganha destaque nos cenários internacional e nacional, já que serve como arcabouço para o delineamento de políticas públicas, que orienta a criação e a manutenção de capacidades sustentáveis, bem como investimento, financiamento e planejamento de planos operacionais de resposta, melhorando o controle, a fiscalização, a troca de informações e a tomada de decisão.”
 
O gerenciamento desses eventos é entendido, de acordo com os pesquisadores, como um processo cíclico, composto de etapas: (a) planejamento – relacionado coma avaliação do ambiente, vulnerabilidades, capacidades e riscos. A avaliação deve ser implementada antes e após os eventos, uma vez que determina a preparação e facilita a resposta e a recuperação; (b) preparação – etapa de implementação do plano e de mecanismos de prontidão por meio de treinamento, exercícios e certificação. As etapas de planejamento e preparação possuem como objetivo a redução de vulnerabilidades, que irão apoiar a prevenção e a mitigação; (c) resposta – atua frente aos efeitos diretos, imediatos, de um evento QBRN, incluindo ações de preservação da saúde e da segurança, salvaguardando vidas; de prevenção do sofrimento humano; de proteção às propriedades e estabelecendo medidas de controle, a fim de prevenir ou reduzir a propagação da contaminação, lesão humana ou mortes, danos ambientais e danos materiais; (d) recuperação – só é iniciada após a contenção ou o controle dos riscos imediatos. A recuperação objetiva restaurar os serviços essenciais e concluir a mitigação do risco imediato, de acordo com a pesquisa.
 
Para os autores, componentes  como  comando,  controle, comunicações, computadores, inteligência, vigilância e reconhecimento são considerados como requisitos fundamentais para uma força de resposta às ameaças QBRN, e o uso de sistemas de informação pode tornar toda a operação mais ágil, eficiente, inteligente e segura.
 
Dessa forma, apontam os pesquisadores, para a gestão das ameaças QBRN,  especialmente  dos  impactos  dos agentes  de  dispersão  aérea,  os  estudos  de dispersão atmosférica são fundamentais no apoio à tomada de decisão, relativos à avaliação de cenários e à modelagem das consequências para equipes responsáveis pela ação de primeira resposta a emergências QBRN e para a população de um modo geral. “Os modelos de dispersão podem auxiliar no entendimento dos mecanismos de disseminação de agentes capazes de causar danos em escala local, regional e global; e, desse modo, fazer previsões dos impactos das emissões na troposfera, seja tal impacto causado por fontes fixas ou por fontes móveis. Esses modelos utilizam equações matemáticas para descrever a atmosfera, a dispersão e os processos físicos e químicos que acontecem com uma pluma emitida por uma determinada fonte.”
 
O resultado do estudo identificou um total de 1084 registros nas bases de dados consultadas, sendo que 506 duplicatas foram removidas, resultando em 578 estudos. Os principais locais de realização desses estudos foram a América do Norte (Estados Unidos e Canadá), a Europa (França e Alemanha) e a Ásia (Japão, China, Coreia do Sul, Iran). Apenas um estudo foi realizado no Brasil, fato que pode estar relacionado com a maior ocorrência de eventos QBRN  nos  locais  citados  e  por  ocuparem  posição de vanguarda do desenvolvimento científico e tecnológico. A maioria dos trabalhos expressou como objetivo principal a análise do transporte, da dispersão e da deposição de material QBRN na atmosfera, adotando Hysplit como ferramenta para predizer cenários hipotéticos e/ou confirmar o percurso, a extensão e os locais potencialmente impactados em caso de acidentes.
 
Ressalta-se, também, conforme a pesquisa, a sinalização de que esse modelo pode ser empregado em uma ampla gama de simulações fora do contexto QBRN, como as erupções vulcânicas, queimadas, tempestades de areia.
 
Para ler na íntegra o artigo Gestão de eventos QBRN e a utilização do modelo Hysplit: uma revisão integrativa de literatura, publicado na revista Saúde em Debate de setembro, clique aqui.
 


Fonte: Saúde em Debate
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