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Aprendizados e ensinamentos de Victor Valla foram temas de debate nos 65 anos da ENSP

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Publicado em:12/09/2019

Aprendizados e ensinamentos de Victor Valla foram temas de debate nos 65 anos da ENSPA contribuição para o aprendizado e evolução do pensamento de Valla foram temas da mesa de debate no aniversário de 65 anos da ENSP, ocasião em que foi realizada uma grande homenagem à obra do professor Victor Valla. Diversas pesquisadoras que tiveram o professor como orientador de seus projetos enunciaram como o pensamento de Valla contribuiu para a construção de uma linha de estudos.

Essa mesa foi composta exclusivamente por mulheres. Segundo a pesquisadora Marise Bastos, a ideia foi dar espaço para pesquisadoras, já que esses lugares, na maioria das vezes, são ocupados por homens. “Nós, mulheres, damos muito duro no trabalho, em casa. Precisamos desses espaços”, protestou ela.

Compuseram a mesa de debates a pesquisadora aposentada da ENSP, Maria Alice Pesanha, a, também, pesquisadora da Escola Marise Bastos Cunha, a pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), Alda Lacerda e a professora associada da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Lana Fonseca. 

Com uma emoção em sua fala, a pesquisadora da ENSP, e também amiga do Valla, Rosely Magalhães, coordenou a segunda mesa de debate. Antes de convidar os componentes ela salientou a luta da pesquisadora Marise Bastos em organizar o evento, e também a atualidade do pensamento de Valla.

Antes de iniciar, a agente comunitária de saúde Marisa prestou sua homenagem ao professor, relembrando a alegria dele de viver e o incentivo dado a ela. “Ele me ajudou a multiplicar o meu saber através de uma revistinha que escrevia, com ensinamentos do saber popular. O científico e o popular têm que andar juntos”, enfatizou e logo em seguida expressando o carinho que sente pelo professor. “Ele não morreu, ele vive nos nossos corações”.

 

Residência Multiprofissional em Saúde da Família

Maria Alice Pessanha trouxe para o debate a relação da Residência Multiprofissional com o pesquisador Victor Valla.  A pesquisadora da ENSP destacou a incorporação do princípio da construção conhecimento. “Esse foi o legado do Valla sobre a educação popular e da construção compartilhada. Não pode acabar”, objetivou a pesquisadora.

A pesquisadora contou que agora tem a função de incorporar nos cursos de pós-graduação de Educação popular, já existente na residência, tornando isso uma oportunidade para os cursos de educação e saúde, sempre com ideias defendidos pelo professor. “Problematizar a realidade local, promover relação de diálogos e escuta, possibilitar ação educativa de extrema liberdade, promover prática metodológica dialética, usar múltiplas linguagens e metodologias, manter postura investigativa na atividade articulada, estimular a integração entre os sujeitos, promover a relação de cooperação e de autonomia” concluiu ela, relembrando o encantamento, a generosidade e amorosidade do pesquisador.


 


A relação entre profissionais de saúde e as classes populares

A pesquisadora Marise Bastos citou o texto ‘ A crise de compreensão é nossa’ para elucidar o encantamento e a escuta como método. “ O texto é um quebra-cabeça daquilo que o Valla ouvia nas favelas e aquilo que ele ouvia dos alunos dele. Lembro quando ele me falou pela primeira vez que tinha me citado no texto, com muita felicidade”, destacou ela.

A capacidade de escuta de Valla foi outro ponto abordado por Marise. Segundo a pesquisadora, o professor tinha muita facilidade de se comunicar com as pessoas e uma capacidade de estranhar a realidade.Ela ressalta ainda o olhar que o professor teria sobre o atual momento que vivemos, já que para ele a população não trazia uma fala, e sim um conhecimento produzido através da sua cultura. “Se ele estivesse aqui, ele estaria lutando contra a opressão que estamos passando e buscaria entender o porquê dessa população mais humilde ter votado no atual governo do país”, concluiu ela, citando ainda que ele não chamaria essas pessoas de alienadas, mas buscaria o motivo para isso. “ Ele questionaria o fato dessa população estar querendo dizer alguma coisa, que as pessoas não estão conseguindo entender”.
 

 


Apoio Social em uma conjuntura de crise

“ Para mim, o Valla é um intelectual brilhante na defesa das classes populares”. É o que expressa a pesquisadora Alda Lacerda ao relembrar o seu trabalho com Victor Valla, iniciado em um grupo de pesquisa. “ Quando apresentei a minha tese ele estava na mesa e me disse ter interesse no que eu defendia”, disse ela.

A discursão do apoio social, que segundo a pesquisadora era muito importante para Valla, vem na continuidade do debate e tem seus avanços, embora não tenha uma articulação direta com apoio social e religiosidade. “ Nesse âmbito o Valla se perguntava, porque as classes populares estão nessa busca por Igrejas? O que as Igrejas estão fazendo que nós, profissionais de saúde, não conseguimos fazer?  Esse era o tipo de questionamento dele”, salientou, explicando que o apoio social é observado pelo professor como estratégia das classes populares para enfrentamento dos problemas de saúde e doença  das adversidades da vida.

A “mirada do olhar” trazido pelo professor traz encantamento na pesquisadora. “Valla cita o exemplo do mutirão. Ele nos instiga a não ter uma crítica, mas entrar com outro olhar, já que o mutirão pode estar expressando novas formas de solidariedade, onde as pessoas sabem que se elas não fizerem aquilo, naquele momento elas não vão ter mais”, finalizou lembrando uma utopia de Valla, que dizia para que nunca deixemos de caminhar.


 

Religiosidade e Saúde
“Recordar é passar de novo pelo coração. E é isso que estamos fazendo hoje, aqui. ” Citando Galeano a professora associada da Universidade Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Lana Fonseca, expressou sua gratidão pelos conhecimentos vividos e adquiridos com Valla e lembrou que o professor foi muito mais que um orientador. “Ele representou muito no nosso desenvolvimento intelectual e, também, no afeto”, disse.

A professora destacou a humildade do pensamento de Victor Valla. “Na época fui fazer uma matéria na Uerj porque não entendia muito sobre essa questão da religiosidade. O professor Valla, sempre que podia, ia comigo até as aulas para que juntos pudéssemos entender aquele conhecimento que eu não tinha” lembrou.

Para Lana, o grande legado do pesquisador era o seu pensamento, que mudava trajetórias. “A mudança de pensamento dele fez com que eu mudasse minha postura como professora, já que não conseguia entender os meus alunos”, explicou ela, citando um dos textos de Valla. 

Em seu doutorado, sobre origem da vida e evolução e como a religião se organizava nas escolas públicas, Lana traz para a mesa uma frase dita pelo professor há 15 anos e que se levanta uma reflexão. “ Ele falava para mim, Lana há um projeto religioso de poder. Nós vamos ver a religião sendo um grande centro e caminho de chegada ao topo”, concluiu ela.

A atividade abriu espaço para que os participantes debatessem os assuntos apresentados na mesa, seguindo a fiel personalidade de Valla, escutando ambos os lados.


 



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