Victor Valla: O legado de um professor nos 65 anos da ENSP
Publicado em:12/09/2019
“Um indivíduo só morre depois que a última pessoa que ouviu falar dela se for”, disse a professora Lana Fonseca. Com muita emoção e aprendizado demostrados pelos presentes, a atividade em homenagem ao professor Victor Valla fez parte das comemorações de aniversário dos 65 anos da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz). O salão internacional estava repleto de amigos, ex-alunos, orientandos e curiosos ouvindo as histórias e os ideais do professor, que completa nove anos de falecimento em 2019.
O início das atividades ficou marcado por uma grande homenagem ao professor e pesquisador da ENSP. Marise Bastos — mediadora da mesa— salientou a grande personalidade de Valla, sendo isso um motivador para a apresentação do evento. “ Queríamos fazer uma homenagem, mas não para ficar distribuindo brindes falando do passado dele. Queríamos falar um pouco da história dele para abrir uma discussão sobre seu trabalho e trazer para o nosso presente a importância da obra dele na atualidade".
A mesa foi composta da artista plástica e esposa de Valla, Kitta Eitler, pela médica do consultório na Rua e da Clínica da Família Victor Valla, Valeska Antunes, o coordenador do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria da ENSP, Carlos Alberto, o ex-representante de turma e ex-estagiário docente da disciplina Educação Popular, João Vinícius e da representante da Comissão dos Agentes Ccomunitários de Manguinhos (Comax), Anastácia Dos Santos.
As obras de Valla ao alcance de todos
Criado pela sua esposa, a artista plástica Kitta Eitler, o site oficial do pesquisador foi apresentado na atividade. Segundo ela, a ideia surgiu para que o público em geral tivesse acesso as pesquisas do professor, já que a busca por esses conteúdos tem grande demanda. “ Muita gente me procurava perguntando se podiam usar a matéria. Então, resolvi juntar a produção de uma forma que todos tenham acesso”, disse a artista.
Logo em seguida, Kitta fez um ‘tour’ pela página. Para estampar a página principal, um desenho feito por ex-alunos, da UFF, homenageia a enorme bondade do professor e traz frases da qual o pesquisador desejava que se tornassem manchetes. “Foi uma brincadeira dos alunos que conheciam esse lado divertido dele”.
A esposa reforçou que o site está em eterna construção e conta com a colaboração de todos. “O site está aberto à contribuição. Quem tiver algum material feito junto com o Valla pode me enviar”, pediu Kitta para fortalecer e disponibilizar ainda mais o conhecimento do pesquisador.
A contribuição do pensamento de Valla
Eduardo Mourão fez uma breve leitura de uma carta, em que reforçou que a ‘obra do pesquisador vai estar sempre presente nos corações e nas elaborações de pensamentos de cada um’. O professor fez o anuncio de um livro, sendo os pensamentos de Valla o pilar principal. “Em sua maioria, as interlocuções e as ideias de apoio social são do Valla” aborda ele, fazendo sua breve homenagem.
Representando o centro de saúde, o coordenador Carlos Alberto lebrou sobre a necessidade de discursão dos conhecimentos de Valla na atual conjuntura. “Nesse momento que estamos discutindo democracia e desigualdades sofridas nos territórios, quando revivendo e relermos as obras do Valla, vemos o quanto de desafios ainda temos que mover”, salientou. E esse desafio, segundo Carlos, é continuar levando para as comunidades a implementação da saúde preventiva, atuando nas orientações junto às comunidades.
Para o coordenador, desigualdade e democracia estavam muito presentes no texto do Victor Valla, e os profissionais atuantes na área da saúde acabam sendo os educadores populacionais.
Os caminhos que levam até Valla
A médica do consultório de rua e da Clínica Victor Valla, Valeska Antunes foi apresentada as pesquisas do professor em um estágio de vivência, feito por ela na Paraíba. “Naquela época nunca imaginei estudar na instituição onde ele deu aula e muito menos trabalhar numa clínica com seu nome”, diz ela, enaltecendo o tamanho do alcance das obras do pesquisador, do qual a médica diz ter sido um grande influenciador na sua atuação profissional. “ Quando vim morar no Rio ele não estava mais entre nós, mas ele foi um dos influenciadores na minha escolha de atuar como médica de família, em consultório na rua”.
Segundo a médica, além da generosidade da obra e do comprometimento da transformação social, ela percebia Victor Valla como algo, além disso, o considerando um gênio visionário. “ Nos anos 2000 ele estudava o fenômeno do pentecostalismo, algo que não era nada da moda na época, mas que é muito importante hoje. Se tivéssemos escutado esses alertas dado por ele, não estaríamos sofrendo as repercussões de hoje”.
O doutorando João Vinícius, em sua fala, ressaltou a importância das mesas terem representantes que ligam a academia e rua. “ Quando falamos de classes populares, favela, não ‘de’ falamos ‘com’. Por isso é importante esses espaços serem ocupados”, observa ele lembrando dos ensinamentos do pesquisador. “ É fundamental que a academia esteja na rua e a rua esteja na academia. Valla ensina isso para gente”, conclui.
Anastácia Dos Santos foi a representante da Comissão dos Agentes comunitários de Manguinhos (Comax). Ela fez um retorno na trajetória da comissão, a fim de retratar a igualdade do pensamento de Victor Valla com os ideais de luta da Comax. “Nascemos em 2016 diante de uma mobilização dos agentes comunitários do Rio contra duas portarias que tinham como objetivo acabar com os agentes de saúde. A partir daí, sentimos a necessidade de se movimentar e organizar para continuar existindo”, explica ela lembrando as atividades que marcaram a história dentro da comunidade de Manguinhos, como por exemplo, a semana do ACS, bloco carnavalesco, SOS Manguinhos, entre outras.
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