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Censo de 2020: pesquisadores debatem sobre o corte

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Publicado em:17/06/2019
O IBGE anunciou, no fim de maio, a redução do questionário do Censo 2020 - que passou de 112 questões planejadas para 78. Técnicos do próprio órgão discordaram da decisão e salientaram os sérios riscos que o corte pode trazer para o mapeamento de informações necessárias à formulação de políticas públicas. Com base nessa medida, o Icict/Fiocruz promoveu debate com pesquisadores de diversas áreas durante o evento "Censo 2020 e saúde – Importância para evidências científicas e políticas públicas", no começo de junho.

Censo de 2020: pesquisadores debatem sobre o corte

A presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Gulnar Azevedo, repudiou o corte e reforçou como isso pode trazer complicações para as pesquisas. “Nós, epidemiologistas, sabemos como é fundamental ter bons denominadores populacionais para fazer todos os cálculos e pesquisas necessárias”. Ela demostrou, ainda, preocupação, pois os cortes vão muito além do campo da epidemiologia. “Na saúde pública, se não temos uma estimativa populacional eficaz, não conseguimos planejar, saber o que vai ser feito. E não conseguimos, de fato, atuar nas nossas desigualdades em saúde.”
 
Organizadora do evento e também pesquisadora do Laboratório de Informações em Saúde e do GT Informações e Saúde da Abrasco, Dalia Romero comentou sobre o corte na apuração da renda familiar, um dos mais criticados pelos pesquisadores. “ Caso saibamos apenas a renda do responsável pelo domicílio, não teremos condição de avaliar, por exemplo, a contribuição dos idosos no orçamento da família. Especialmente em lugares mais pobres, essa lacuna pode ser determinante para o avanço da miséria, já que políticas públicas são criadas tendo esse tipo de informação como base. Nesses casos, não adiantam as informações da Amostra, tendo em vista que programas e políticas de atuação mais direta se amparam nos dados municipais”, explicou a pesquisadora. 

A redução das informações também foi questionada pelo vice-diretor de Pesquisa do Icict, Christovam Barcellos, cujo comenário se pautou na diminuição das perguntas, pois isso limita a gama de informações que podem ser usadas para avaliar iniquidades e os chamados “determinantes sociais” em saúde. "Com os cortes, temos o risco de perder as séries históricas de dados fundamentais que têm sido gerados pelo IBGE a respeito de renda, instrução, migração e saneamento. Lembro que saneamento não deve ser encarado apenas como o acesso à água e esgoto nos domicílios, mas sim com questões que dizem respeito ao entorno das moradias – abarcadas pelo último censo. Existe esgoto correndo a céu aberto? Detalhes como esses são muito importantes para tentarmos entender o quebra-cabeças, ou seja, as determinações sociais da saúde. Sem eles, não podemos atuar de forma efetiva em áreas de maior risco e foco de doenças”, lamentou Christovam. 
 
Saúde indígena

Dentre as áreas que podem ser afetadas pelas mudanças, a saúde indígena é uma das que mais preocupam os pesquisadores. Isso porque o levantamento censitário teve papel crucial no processo de dar visibilidade a esses povos, a partir da luta política dos anos 1970 e 1980. Foi o que explicou Ricardo Ventura, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz).
 
A classificação de “indígena” como cor/raça no questionário só entrou no censo em 1991. Mas foi o levantamento censitário de 2010, com abordagem mais aprofundada dos modos de vida desses diferentes povos, que possibilitou uma expansão vigorosa de pesquisas e estudos sobre a saúde indígena.
 
Em 1991, o censo registrou cerca de 294 mil indígenas no Brasil. Em 2010, foram 817 mil. “Isso não significa que houve crescimento demográfico, mas sim a transformação de identidades sociais. Reconhecimento.  Tal fato não aconteceu só com os indígenas, como também com os pretos e pardos no Brasil. São números que têm força simbólica e política. Revelam não um crescimento populacional: revelam mais visibilidade”, descreveu.
 
Mas indicam, ainda, enormes desigualdades. É o caso da mortalidade infantil. Estudos amparados nos dados do censo, afinal, puderam comprovar que a mortalidade infantil nos povos indígenas é ainda maior que os índices dos grupos que se autodeclaram pretos. “Esse é um cenário triste; precisamos, contudo, conhecê-lo”, completou Ventura. Com os novos métodos, talvez não seja possível apreender a fundo esse cenário.

Leia a reportagem completa aqui.

Pesquisadores divulgam carta aberta em defesa do IBGE

Cerca de 250 pesquisadores do Brasil e do exterior divulgaram, na sexta-feira, 14 de junho, carta aberta em defesa da Diretoria da Associação Brasileira de Estudos Populacionais e técnicos do IBGE, bem como contra os cortes no escopo temático do Censo Demográfico e, ainda, a consequente deslegitimização do trabalho científico criterioso e de alta qualidade realizado pelo corpo técnico do IBGE.

Leia aqui documento na íntegra. 

+ Veja mais: Mudanças no Censo podem prejudicar políticas públicas


Fonte: Abrasco
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